No conto “A terceira margem do rio”, um filho narra a história de seu pai, que decide encomendar uma canoa e ficar dentro dela no meio de um rio pa...
No conto “A terceira margem do rio”, um filho narra a história de seu pai, que decide encomendar uma canoa e ficar dentro dela no meio de um rio para sempre, nunca se afastando por completo das margens nem se aproximando demais. Com isso, ele abandona sua família. O filho fica à espera da volta de seu pai. Enquanto isso, leva-lhe comida e passa o tempo refletindo sobre o que poderia ter levado o pai a tomar tal decisão. Após algum bom tempo, o filho se oferece para ficar no lugar do pai. Entretanto, quando este se aproxima para a troca, o filho se recusa e sai correndo do local. No trecho a seguir, último parágrafo do conto, o filho demonstra arrependimento pelo seu “falimento” e expressa seu desejo de, no momento de sua morte, também ser colocado em uma “canoinha”. Nesse desfecho, por exemplo, a fusão de linguagens em uma linguagem literária é nítida: Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não para, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro – o rio. (ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Ficção completa: volume II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 409-413. [Fragmento])
O conto “A terceira margem do rio” é uma obra de Guimarães Rosa. O pai do narrador do conto decide abandonar a família e viver em uma canoa no meio do rio. O filho do personagem principal do conto se oferece para ficar no lugar do pai, mas depois se recusa. O trecho final do conto apresenta uma fusão de linguagens em uma linguagem literária.
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