1° Caso disparador: A decepção do Sr. Romeu
Sr. Romeu, 62 anos, viúvo, residente em Santos-SP, trabalha como pintor de prédios comerciais e reside...
1° Caso disparador: A decepção do Sr. Romeu
Sr. Romeu, 62 anos, viúvo, residente em Santos-SP, trabalha como pintor de prédios comerciais e residenciais, possui registro em carteira das 8 às 17 horas com uma renda de 2 salários mínimos acrescido de periculosidade.
Tem uma vida modesta, trabalhando de segunda-feira a sexta-feira, quando chega do trabalho, faz uso de bebidas alcoólicas constantemente antes do jantar, toma banho, janta, assiste o noticiário e vai logo se deitar. No dia seguinte levanta cedo e pega ônibus e balsa de Santos para Guarujá, pois está pintando um edifício residencial junto com outros pintores.
Um dia desceu do ônibus na rodoviária, entrou num bar e tomou várias pinguinhas, pois queria esquecer da decepção que teve com sua única filha de 16 anos. Ela lhe contou na noite anterior que estava grávida de 6 semanas e não sabia quem era o pai.
Chegando ao trabalho seus colegas não perceberam nada, apenas que estava muito calado e com um semblante de preocupação. Seu colega mais próximo perguntou-lhe o que estava acontecendo, pois, percebeu que chegou um pouco atrasado e estava com hálito de álcool.
Sr. Romeu começou a contar para seu colega sobre a conversa que teve com sua filha, enquanto o colega estava puxando as cordas que elevam o andaime para a pintura externa do prédio. Já estavam chegando próximo ao terceiro andar quando Sr. Romeu desequilibrou-se e estando sem a trava de segurança caiu de uma altura de aproximadamente 10 metros.
O responsável pelos pintores ligou para o resgate (193) pedindo socorro, pois o Sr. Romeu estava gemente, reclamando de muita dor. O resgate chegou rápido e aplicou o protocolo de atendimento ao acidentado. Ele apresentava algumas escoriações pelo corpo e uma fratura exposta em membro superior esquerdo e fortes dores no membro inferior direito não conseguindo movê-lo. Do ferimento extravasava sangue de moderada intensidade, perda estimada de 500 mL de sangue. Sr. Romeu foi levado à UPA Rodoviária do município do Guarujá e examinado pelo plantonista.
Na avaliação clínica, no questionamento quanto ao uso de bebida alcoólica, disse que "costumava beber pouco, mas sempre", mas que "hoje tinha exagerado devido a um problema com sua única filha". Ao exame, constatou-se hálito etílico e hipoglicemia, fala pastosa, pressão arterial 150x90 mmHg (VR: 120x80 mmHg) e frequência cardíaca 114 bpm (VR: 70 – 80 bpm). Enquanto aguardava atendimento ortopédico, Sr. Romeu apresentava-se muito irritado e bem incomodado deitado na prancha e imobilizado e com comportamento que perturbava a todos. Um paciente ao seu lado perguntou ao plantonista "quanto tempo duraria aquela embriaguez". Este respondeu rispidamente: "não sei até onde vai, mas é um bêbado a mais pra gente consertar e para tomar o lugar dos outros..."
Após realizar alguns exames, a radiografia diagnosticou fratura cominutiva na ulna e tíbia, sendo necessária intervenção cirúrgica e imobilização. E Sr. Romeu ficou internado.
Ao receber alta, sua filha foi chamada pela assistente social e orientada que procurasse o Ambulatório Ortopédico o mais rápido possível. Foi também informada que Sr. Romeu deveria procurar o CAPS para parar de beber. A filha não teve tempo de tirar algumas dúvidas como: "Quando ele poderia voltar a
trabalhar?"; "Demora muito para que os ossos se colem novamente?". Eram perguntas muito importantes para a reorganização familiar.
Compartilhar