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O comportamento suicida está intrinsecamente relacionado à dinâmica de funcionamento da família. O que acontece em uma geração, muitas vezes, será ...

O comportamento suicida está intrinsecamente relacionado à dinâmica de funcionamento da família. O que acontece em uma geração, muitas vezes, será repetido na seguinte, ocorrendo uma transmissão de pautas familiares, com geração de mitos e prejuízos na vinculação. Com frequência, observa-se rigidez de padrões interativos, apego emocional incipiente e pobreza nas comunicações, o que leva a dificuldades no desenvolvimento da identidade individual e na capacidade de lidar com crises. Trabalhando com pessoas que sofrem de transtorno da personalidade borderline, Linehan e colaboradores mostraram como ambientes familiares que tendem a subestimar problemas costumam aumentar a vulnerabilidade dos pacientes, levando-os à negação, à punição ou a respostas erráticas e inadequadas diante de experiências emocionais. Esse contexto acaba gerando afetos negativos insuportáveis e dolorosos. A tentativa de suicídio pode ser percebida como uma forma de comunicação relacionada com o poder (perder/ganhar) dentro da matriz familiar. Envolve a utilização do próprio corpo como meio de retomar o poder. Também pode ser concebida como metacomunicação, ao denunciar a distorção ou a ausência de comunicação na família. Com base no referencial da psicologia cognitiva, a partir da década de 1970, Aaron Beck e seu grupo de pesquisadores desenvolveram uma série de construtos e de escalas psicométricas relacionados ao comportamento suicida. O risco de suicídio seria mais elevado quanto mais pronunciado o sentimento de desesperança. A desesperança passou a ser tomada como um marcador cognitivo de expectativas negativas em relação ao futuro, mais relevante do que o humor depressivo em si. Edwin Shneidman é considerado o pai da suicidologia. Baseando-se tanto em um referencial psicodinâmico quanto cognitivo, cunhou o neologismo psychache para denominar o estado psíquico de alguém prestes a se matar. Trata-se de uma dor intolerável, vivenciada como uma turbulência emocional interminável, uma sensação angustiante de estar preso em si mesmo, sem encontrar a saída. A psychache decorre do desespero de não ter as necessidades psicológicas básicas atendidas, como as necessidades de realização, de autonomia, de reconhecimento, de amparo e evitação de humilhação, de vergonha e de dor. De fato, segundo a opinião de psicoterapeutas cujos pacientes cometeram suicídio, desespero foi o principal estado afetivo capaz de diferenciar as pessoas que se matam. Junto com o desespero, costuma haver outros afetos intensos e a percepção de que a vida entrou em colapso, de que a pessoa está sendo deixada de lado. Nessa condição, a combinação de desespero e desesperança leva à necessidade de um alívio rápido: a cessação da consciência para interromper a dor psíquica. Na crise suicida, o estado de construção cognitiva não permite opções de ação para enfrentar os problemas. Se, de início, a ideia de se matar parece alheia e perigosa, causando ansiedade, aos poucos ela pode adquirir estrutura autônoma e tranquilizadora (alívio de tensão) e passa a ser tolerada e bem-vinda (egossintônica). A situação agrava-se dramaticamente quando a pessoa tem pouca flexibilidade para enfrentar adversidades e propensão à impulsividade.

Essa pergunta também está no material:

Crise suicida - Botega
348 pág.

Psicologia Universidade Federal FluminenseUniversidade Federal Fluminense

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