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Que utilidade essas respostas teriam na medicina? Vimos no Capítulo 1 como o pediatra Adrian Sandler, da Carolina do Norte, testou o hormônio da se...

Que utilidade essas respostas teriam na medicina? Vimos no Capítulo 1 como o pediatra Adrian Sandler, da Carolina do Norte, testou o hormônio da secretina para tratar o autismo, chegando à conclusão de que era tão eficaz quanto o placebo. No entanto, a administração do hormônio apresentava problemas, desde surtos de irritação (quando o remédio perdia o efeito à noite) até perda de peso e crescimento atrofiado. “É um exercício de equilíbrio na clínica”, conta ele, “quando tentamos encontrar [uma dosagem] que ofereça benefício suficiente sem provocar efeitos colaterais em demasia”. Sandler se perguntou se um placebo não conseguiria ajudar essas crianças a lidarem com seus sintomas ao utilizar uma dosagem reduzida desses remédios. Decidiu dar os placebos abertamente, como parte de um programa que, em teoria, desfrutaria os efeitos tanto da expectativa quanto do condicionamento. Setenta pacientes com TDAH, entre 6 e 12 anos de idade, submeteram-se ao seu experimento durante dois meses. As crianças foram divididas aleatoriamente em três grupos. Um dos grupos passou por um programa de condicionamento. Ao longo de um mês os pacientes desse grupo receberam a medicação usual, mas também uma cápsula verde e branca bem incomum para acompanhar o tratamento. Eles sabiam que a cápsula era inerte, mas a esperança de Sandler era que passassem a associar a cápsula à resposta fisiológica da medicação ativa. No segundo mês, eles receberam apenas metade da dosagem habitual, junto com a cápsula inerte. Sandler comparou esses pacientes aos dois outros grupos, que não passaram por nenhum tipo de condicionamento. Um deles recebeu a dosagem completa de sua medicação ao longo do primeiro mês e apenas metade dela ao longo do segundo — tal como ocorreu com o grupo condicionado. O último grupo recebeu a dosagem completa durante os dois meses. Os resultados foram publicados por Sandler em 2010. Como era esperado, no grupo com meia dosagem, os sintomas das crianças pioraram de forma expressiva no segundo mês do experimento. Mas o grupo condicionado continuou firme, saindo-se tão bem quanto os pacientes da dosagem completa. De fato, havia indícios de que as crianças desse grupo tiveram resultados ainda melhores, sofrendo menos efeitos colaterais do que aquelas que tomaram a dosagem integral. É o primeiro e único estudo no qual placebos abertos foram dados a crianças. Sandler conta que ao final daquele experimento pais e filhos apoiaram o placebo. “É o melhor remédio que eu já tomei”, disse-lhe uma das crianças. “Acho que ele fez o meu cérebro pensar que ia dar certo.” O estudo de Sandler é preliminar e de pequena escala, mas, combinado às descobertas de Benedetti, sugere que os médicos poderiam utilizar simples procedimentos de condicionamento para potencializar a eficácia dos placebos, sem precisar enganar ninguém. Para mim, é uma descoberta fascinante. Ao aliar a expectativa e o condicionamento em um só tratamento, placebos éticos poderiam ajudar a reduzir a dosagem dos medicamentos de milhões de pacientes de todo o mundo, em situações que vão da dor e da depressão até o Parkinson e o TDAH. Há, no entanto, outro detalhe sobre as respostas condicionadas, algo que abre um cenário inteiramente novo de possibilidades. Essas associações aprendidas de maneira inconsciente não se limitam aos sintomas subjetivos que podem ser domados pelo típico efeito placebo — como a desconcentração daqueles com TDAH. Elas também são capazes de influenciar o sistema imunológico, oferecendo um caminho pelo qual a mente consegue se tornar uma arma na luta do organismo contra a enfermidade. A mente, em suma, pode fazer muito mais do que apenas ajudar a nos sentirmos melhor e a vivermos melhor. Graças à técnica do condicionamento, ela pode até mesmo evitar que o pior aconteça. Até poucas décadas atrás, os cientistas negavam que isso fosse possível. Até que se viram forçados a repensar seus conceitos diante de duas descobertas acidentais e de uma corajosa adolescente chamada Marette.

Essa pergunta também está no material:

Cura - Jo Marchant (2)
361 pág.

Psicologia Universidade Federal FluminenseUniversidade Federal Fluminense

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As respostas condicionadas podem ter utilidade na medicina ao potencializar a eficácia dos placebos, sem precisar enganar ninguém. Isso pode ajudar a reduzir a dosagem dos medicamentos de milhões de pacientes em situações que vão desde a dor e a depressão até o Parkinson e o TDAH. Além disso, as associações aprendidas de maneira inconsciente também são capazes de influenciar o sistema imunológico, oferecendo um caminho pelo qual a mente consegue se tornar uma arma na luta do organismo contra a enfermidade.

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