Em plena consonância com o pensamento de Magda Soares, Antonio Candido entende que a arte literária, por possibilitar o exercício mental cognitivo...

Em plena consonância com o pensamento de Magda Soares, Antonio Candido entende que a arte literária, por possibilitar o exercício mental cognitivo e afetivo, acaba contribuindo para a formação psicossocial de uma cultura democrática: "A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante" (CANDIDO, 2003, p. 180). É inegável, também, o papel humanizador dos textos literários, no sentido da consolidação dos direitos humanos, o que se faz dialeticamente: a preocupação com o que hoje chamamos direitos humanos pode dar à literatura uma força insuspeitada. E reciprocamente, que a literatura pode incutir em cada um de nós o sentimento de urgência de tais problemas (CANDIDO, 2003, P. 184). Para Antonio Candido, no entanto, não bastam as intenções sociais do escritor. Para atingir eficazmente a consciência social do leitor, ao conteúdo intencional deve corresponder a qualidade literária da estrutura da obra. Exemplo disso está no poeta Castro Alves, cuja memória se perpetua não só por sua mensagem abolicionista, mas sobretudo pela excelência de seus versos: A sua obra foi em parte um poderoso libelo contra a escravidão, pois ele assumiu posição de luta e contribuiu para a causa que procurava servir. O seu efeito foi devido ao talento do poeta, que fez obra autêntica porque foi capaz de elaborar em termos esteticamente válidos os pontos de vita humanitários e políticos (CANDIDO, 2003, p. 181). Antonio Candido entende como grande hipocrisia a desculpa de que as obras clássicas não estariam ao alcance do povo em geral. Tudo não passa de um preconceito de classe, uma forma isofismável de exclusão social: Em nossa sociedade há fruição segundo as classes na medida em que um homem do povo está praticamente privado da possibilidade de conhecer e aproveitar a leitura de Machado de Assis ou Mário de Andrade. Para ele, ficam a literatura de massa, o folclore, a sabedoria espontânea, a canção popular, o provérbio. Estas modalidades são importantes e nobres, mas é grave considerá-las como suficientes para a grande maioria que, devido à pobreza e à ignorância, é impedida de chegar às obras cultas (CANDIDO, 2003, p. 186). Quanto ao mito de que o povo não tem interesse pela literatura erudita, Antonio Candido lembra que, no tempo da União Soviética, o teatro de Shakespeare, com edições numerosíssimas, era lido ali mais do que em qualquer outro país do mundo(CANDIDO, 2003, p. 187). Ainda nesse sentido, ele lembra que a poesia de Dante Alighieri está na memória do povo italiano (CANDIDO, 2003, p. 189). Concluindo seu texto, Antonio Candido denuncia a marginalização cultural a que a maioria do povo brasileiro é submetida e reafirma seu ponto de vista em defesa da inclusão da arte literária no rol dos direitos humanos: Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável (CANDIDO, 2003, p. 181).