Buscar

Para que a escola cumprisse com sua função de desenvolver o currículo e transmitisse os conhecimentos historicamente construídos pela sociedade, fo...

Para que a escola cumprisse com sua função de desenvolver o currículo e transmitisse os conhecimentos historicamente construídos pela sociedade, foi necessário que ela se organizasse. Tradicionalmente, a escola assumiu uma forma de transmissão do conhecimento que é progressiva, cumulativa e que se distribui ao longo do tempo. Os conteúdos que devem ser aprendidos se repartiram entre os anos de ensino, constituindo as séries. Os alunos, para transitar de uma série à outra, devem comprovar o domínio dos conhecimentos curriculares por meio das avaliações. Quando o aluno não demonstra o domínio suficiente dos conteúdos adquiridos durante o ano ou série escolar, ele deve reprovar e repetir a série, somente avançando quando consiga cumprir os requisitos para obter o direito de ir para o ano seguinte. Essa forma de organização é a que chamamos de seriada. O trabalho pedagógico passa, então, a se organizar nessa lógica, que atendia aos interesses e necessidades da sociedade capitalista, exigindo que se preparasse rapidamente os recursos humanos para o mercado de trabalho, como nos mostra Freitas (2003, p. 27): "Todos sabemos que ensinar de uma maneira tradicional – verbal e por série – é mais rápido do que por métodos ativos que exijam a participação do aluno. [...] O conhecimento foi partido em disciplinas, distribuído por anos e os anos foram subdivididos em partes menores que servem para controlar uma certa velocidade de aprendizagem do conhecimento. Convencionou-se que uma certa quantidade de conhecimento devia ser dominada pelos alunos dentro de um determinado tempo. Processos de verificação pontuais indicam se houve ou não domínio do conhecimento. Quem domina avança e quem não aprende repete o ano (ou sai da escola)." Nessa lógica de organização, a avaliação é utilizada como instrumento para a definição da aprovação ou não do estudante, portanto predomina a função classificatória e excludente. Os sistemas de notas e o medo da reprovação passam a ser utilizados como forma de estímulo ao estudo, assim como forma de controle do comportamento dos estudantes. Dessa forma, os alunos vão incorporando uma lógica que não é de estudar para aprender, mas de obter a nota necessária para ser aprovado. Lembre-se dos conceitos de autores como Luckesi, Hoffmann, Freitas, que estudamos nas aulas 1 e 2 da Unidade 1. Enquanto a escola estava destinada somente à elite e os alunos pertenciam a grupos sociais com maior poder aquisitivo, as diferenças na aprendizagem eram entendidas como responsabilidade dos estudantes, falta de empenho ou mesmo uma questão de maior ou menor capacidade para aprender. À medida que o acesso à escola vai sendo democratizado, contingentes cada vez maiores de alunos e de diferentes grupos sociais vão adentrando a escola, aumentando a diversidade. Como o trabalho pedagógico estava organizado de uma forma homogênea, o ensino era igual para todos e a aprendizagem se processava de forma distinta, dependendo das condições de cada estudante. Com um número cada vez maior de alunos no sistema de ensino, as condições distintas no processo de aprendizagem promovem um aumento considerável nos níveis de reprovação escolar. Recorde conceitos que estudamos na aula 3 da Unidade 1, tais como: aparelhos ideológicos de Estado, capital cultural, violência simbólica e disciplinarização dos corpos.