Buscar

Do que estamos tratando em casos de pacientes do tédio-branco e da apatia-desligamento no que se refere às questões de espaços de constituição do e...

Do que estamos tratando em casos de pacientes do tédio-branco e da apatia-desligamento no que se refere às questões de espaços de constituição do eu? Naturalmente, não poderíamos falar em neuroses "clássicas", fundadas em recalque, envolvendo conflitos psíquicos movidos por fantasias ou afetos reprimidos, que requerem, antes de tudo, uma integração egoica que não encontramos nesses analisandos. Trata-se, como visto, de quadros nos quais a desvitalização é profunda e incisiva, apontando para uma configuração conturbada das fronteiras do eu. Esses dois sintomas, portanto, seriam expressões de casos de pacientes de difícil acesso, melancólicos e depressivos e pacientes envolvidos com a problemática borderline. Nos quadros de melancolia e depressões, os sintomas do tédio e da apatia aparecerão como exteriorizações de superfície sobre uma base patológica bastante específica, e, apesar de manifestos no discurso desses pacientes como queixa reiterada, estará tal sintomatologia relacionada à perda fenomenológica de um objeto amoroso ou de um ideal. Por outro lado, nas patologias borderlines, como delinearemos a seguir, os sintomas de tédio e apatia aparecerão diretamente como sinais da problemática da própria constituição das fronteiras do self. Como já acentuado por tantos autores que se debruçaram sobre o tema da clínica borderline, trata-se de um quadro que apresenta várias dificuldades em seus dois principais aspectos: tanto a definição psicopatológica e a diferenciação de outras manifestações sintomáticas (tais como a melancolia e a depressão), quanto a dificuldade de manejo desses casos, nos quais as constantes oscilações do analisando acabam por influenciar diretamente o lugar ocupado pelo analista. André Green (apud FIGUEIREDO, 2008d, p.82) invoca que os pacientes do tipo borderline estariam padecendo de "doenças das fronteiras do ser", vivendo duas angústias características em uma "gangorra" incessante: a angústia de abandono, separação e perda do objeto e a angústia de invasão e engolfamento pelo objeto. Como consequência dessa vivência inicial, surge um problema quanto à construção e aos investimentos nas fronteiras externas e internas do eu. Nesse sentido, Figueiredo (2008d) destaca que as súbitas variações nessas fronteiras resultam em duas vias possíveis, sendo uma delas o seu alargamento e a outra, a sua contração. Inspirado em Fédern e Béla Grunberger, o autor afirma que, inicialmente, o bebê tem as suas fronteiras ampliadas para incluir seus objetos primordiais, havendo certa confusão com o entorno, mas que a constituição do eu aponta para a necessidade de constituição de novas fronteiras, desta feita exclusivas e diferenciadoras. Nos pacientes borderlines, há um problema quanto à estabilidade dessas fronteiras em termos de conservação do eu dentro do "seu perímetro" e do inconsciente em termos de equilíbrio. Como saída para enfrentar essa instabilidade decorrente das dificuldades especulares, ou "as fronteiras se alargam desmesuradamente", gerando uma "ampliação grandiosa, megalômana e onipotente do eu" ou, por outra via, "esse eu se contrai, deixando para fora de seu círculo quase tudo" (Figueiredo, 2008d, p.90), sendo que os elementos externos passariam a ser vistos como perseguidores, aptos a invadirem o confinamento egoico, tal como ocorre na paranoia. Nos casos de alargamento das fronteiras do eu, as expressões dessa "saída" seriam mais estridentes e ruidosas, motivo pelo qual, nos termos desta dissertação, defendemos que elas estariam relacionadas aos sintomas a serem discriminados no capítulo seguinte, do tédio-protesto e da apatia-escudo. Nesses casos, há uma invasão de diversos conteúdos inconscientes, passando a surgir a necessidade de adesão imaginária do indivíduo a objetos externos, o que justificaria, nos casos de tédio-protesto e da apatia-escudo, a "escolha" por uma circularidade em torno de seriados, filmes repetitivos e games, assim como certa confusão identitária entre o sujeito e personagens que o capturam de forma quase fusional. Como será demonstrado no próximo capítulo, a analisanda Alice9, que apresenta tais sintomas, comparece às sessões, rotineiramente, vestida de personagens variados de histórias em quadrinhos e filmes e porta adereços que representam essa fusão imaginária a objetos externos da ficção como suporte de seu espaço interno. Já nos casos de contração das fronteiras do eu e confinamento do ego em um círculo mais reduzido e fechado, dada a apreensão do mundo como ameaçador, invasivo ou desinteressante, pensamos que as manifestações sintomáticas são o tédio-branco e a apatia-desligamento, ora apreciados. Aqui o analisando está tão "ensimesmado" no seu círculo constrito que, na via do tédio, nada do mundo exterior será bom o suficiente para convocá-lo a fazer investimentos e, na via da apatia, nada do mundo interior apontará para o prazer ou o bem-estar de procurar o outro. Como observamos nos casos do tédio-branco e da apatia-desligamento, marcados pela contração das fronteiras do eu, o indivíduo se afasta dos objetos, deixando o eu estático, paralisado, encolhido. A coesão do self estará ameaçada, e por isso a manutenção do desligamento e das baixas intensidades fará sentido, como

Essa pergunta também está no material:

Adriana Meyer Barbuda Gradin
209 pág.

Pedagogia Universidade do Estado do Rio de JaneiroUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

Respostas

User badge image

Ed Verified user icon

Parece que você esqueceu de colocar a alternativa para que eu possa ajudá-lo a escolher a correta. Por favor, publique uma nova pergunta com todas as informações necessárias.

0
Dislike0

Responda

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Mais conteúdos dessa disciplina