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comentar que a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras (IPEA, 2018). Em outras palavras, essas preocupantes...

comentar que a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras (IPEA, 2018). Em outras palavras, essas preocupantes estatísticas apontam que a “combinação entre desigualdade de gênero e racismo é extremamente perversa e configura variável fundamental para compreendermos a violência letal contra a mulher no país” (IPEA, 2017, p. 37). Na direção da compreensão de que a amálgama gênero-raça-classe potencializa as formas de exploração e violência nessa sociedade, concordamos quando Rocha aponta que: Esses eixos, quando combinados, podem aprofundar o campo das desigualdades, como é o caso da violência contra a mulher. Embora esse tipo de violência seja algo capaz de se manifestar em qualquer classe social e em qualquer fase da vida (criança, jovem, idosa), independentemente da origem étnico-racial, religiosa ou procedência, ela pode ser mais recorrente contra mulheres que, além da discriminação de gênero, estejam também expostas a outras discriminações, como as de origem econômica e as de origem racial (ROCHA, 2009, p. 547). Todos esses dados apresentados, além de evidenciarem o racismo enquanto elemento fundante em nossa sociedade, também refletem os pensamentos e práticas fascistas tão presentes e naturalizados pela sociabilidade do capital, frutos dela mesma, pois “numa sociedade de raízes culturais conservadoras e autoritárias como a brasileira, a violência é naturalizada; tende a ser despolitizada, individualizada, tratada em função de suas consequências e abstraída de suas determinações sociais” (BARROCO, 2011, p. 208). Por isso, essa realidade é reflexo de uma sociedade regida sob os ditames do capital, que para sua manutenção, cria e recria formas de exploração, acumulação e concentração de lucro. Para lograr tal êxito, só é possível às custas da barbarização da vida social em todas as instâncias, dos processos desumanizatórios, que coisificam os homens e mulheres – sobretudo os/as negros/as. Ademais, as informações acima mencionadas retratam uma cruel disparidade sócio histórica que acompanha os negros e negras desde a formação do Brasil, evidenciando que há um abismo social desmedido colocado para essa população. Considerando, portanto, que a “Questão Social” é a razão de ser do Serviço Social e que, no Brasil, o racismo particulariza essa realidade, só é possível pensarmos num trabalho profissional de qualidade, em sintonia com a direção social estratégica da profissão e compromissado com valores emancipatórios e libertários, se nos debruçarmos sobre essa realidade, com vistas a decifrar as desigualdades étnico-raciais e como a dinâmica do capital cria e recria suas formas de dominação a partir delas. Numa sociedade marcada por índices alarmantes de desigualdades sociais, o profissional de Serviço Social se vê impelido a intervir sobre uma realidade de múltiplas violações de direitos. Sua intervenção deverá estar coadunada com os princípios do seu código de ética, que afirma que o posicionamento profissional deva ser em favor da equidade e da justiça social. Assim, sua atuação exigirá, para além da competência técnica-operacional, um posicionamento ético e político ante essas violações (ROCHA, 2009, p. 542). Por isso mesmo, os dados aqui apresentados, nos convocam ao compromisso ético e político de encampar e fortalecer a luta antirracista, a qual deve estar, absolutamente, atrelada à luta pela derrocada do capital, uma vez que é necessária a convicção de que somente em outra ordem societária poderemos ser livres. Mas, essa compreensão e coerência ético-política, exige que o Serviço Social Brasileiro, de fato, incorpore o antirracismo e trate a questão étnico-racial com a verdadeira importância que ela demanda.

Essa pergunta também está no material:

Tales Willyan Fornazier Moreira
182 pág.

Pedagogia Universidade do Estado do Rio de JaneiroUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

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O texto apresenta dados alarmantes sobre a violência contra mulheres negras no Brasil, que é 71% superior à violência contra mulheres não negras. Essa realidade é reflexo da combinação entre desigualdade de gênero e racismo, que é extremamente perversa e configura variável fundamental para compreendermos a violência letal contra a mulher no país. A amálgama gênero-raça-classe potencializa as formas de exploração e violência nessa sociedade, e a violência contra a mulher pode ser mais recorrente contra mulheres que, além da discriminação de gênero, estejam também expostas a outras discriminações, como as de origem econômica e as de origem racial. Essa realidade é reflexo de uma sociedade regida sob os ditames do capital, que para sua manutenção, cria e recria formas de exploração, acumulação e concentração de lucro. Para lograr tal êxito, só é possível às custas da barbarização da vida social em todas as instâncias, dos processos desumanizatórios, que coisificam os homens e mulheres – sobretudo os/as negros/as. O Serviço Social Brasileiro deve incorporar o antirracismo e tratar a questão étnico-racial com a verdadeira importância que ela demanda, para que possa intervir sobre uma realidade de múltiplas violações de direitos, em favor da equidade e da justiça social.

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