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Problematizar o trabalho do assistente social na sociedade contemporânea supõe pensá-lo como parte alíquota do trabalho da classe trabalhadora, que...

Problematizar o trabalho do assistente social na sociedade contemporânea supõe pensá-lo como parte alíquota do trabalho da classe trabalhadora, que vende sua força de trabalho em troca de um salário, submetido aos dilemas e constrangimentos comuns a todos os trabalhadores assalariados, o que implica ultrapassar a visão liberal que apreende a prática do assistente social a partir de uma relação dual e individual entre o profissional e os sujeitos aos quais presta serviços (RAICHELIS, 2011, p. 425-426). Por essa razão, não podemos perder isso de vista no horizonte da análise, para que não incorramos em nenhum equívoco ao estabelecermos as reflexões acerca dos desafios para o combate ao racismo no cotidiano do trabalho do/a Assistente Social. Mas, dialeticamente, ao mesmo tempo em que somos afetados/as objetivamente por essa realidade massacrante enquanto trabalhadores/as assalariados/as, é preciso lembrar que assumimos hegemonicamente um lado na luta de classes e na defesa intransigente dos direitos da população usuária. Nessa direção, concordamos com Raichelis (2011, p. 429) que “para além das dimensões objetivas que conferem materialidade ao fazer profissional, é preciso considerar também as dimensões subjetivas”. Isto é: apesar dos limites concretos da realidade social e institucional, há que se levar em consideração a identificação ou não do/a profissional com o projeto emancipatório do Serviço Social. Portanto, coadunamos que: O trabalho profissional, na perspectiva do projeto ético-politico, exige um sujeito profissional qualificado capaz de realizar um trabalho complexo, social e coletivo, que tenha competência para propor, negociar com os empregadores privados ou públicos, defender projetos que ampliem direitos das classes subalternas, seu campo de trabalho e sua autonomia técnica, atribuições e prerrogativas profissionais. Isto supõe muito mais do que apenas a realização de rotinas institucionais, cumprimento de tarefas burocráticas ou a simples reiteração do instituído. Envolve o assistente social como intelectual capaz de realizar a apreensão crítica da realidade e do trabalho no contexto dos interesses sociais e da correlação de forças políticas que o tensionam; a construção de estratégias coletivas e de alianças políticas que possam reforçar direitos nas diferentes áreas de atuação [...] na perspectiva de ampliar o protagonismo das classes subalternas na esfera pública (RAICHELIS, 2011, p. 427-428). Compreendemos, assim, que atuar na direção emancipatória do nosso projeto profissional, coloca o/a Assistente Social em constante tensão e disputa no interior das instituições. Não obstante, é preciso sinalizar que essa tensão permanente não é novidade para nós desde que rompemos com o monopólio conservador no âmago profissional e construímos uma direção sociopolítica para profissão, que se vincula a outro projeto societário. Por isso, como já mencionado com base em Iamamoto e Carvalho (1995), é fato que atuamos na malha contraditória entre capital e trabalho. Enquanto possibilidades concretas para criação de estratégias de combate ao racismo no cotidiano profissional, como sinalizado pela entrevistada do CFESS, acreditamos que a educação permanente seja uma alternativa fundamental para fortalecimento e capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa numa perspectiva antirracista. E, nesse entorno, considerando a realidade na qual nós Assistentes Sociais estamos submetidos/as no mundo do trabalho, é preciso também que nos articulemos com as lutas mais gerais dos trabalhadores/as por melhores condições de vida e trabalho e, nesse caso, construir com os sujeitos coletivos da luta antirracista. Em razão do que foi exposto, entendemos que não é possível sermos fiéis à direção construída pela profissão, assentada na tradição marxista, a qual se propõe fazer uma análise numa perspectiva crítica, de totalidade, captando o conjunto de complexos que conformam a realidade social, desconsiderando o racismo enquanto elemento fundante desta sociabilidade, pois ele estrutura e conforma nossas relações sociais no Brasil. É nessa sintonia, compreendendo que enquanto agentes que atuamos diretamente com a população usuária dos serviços, que precisamos compreender o tamanho de nossa responsabilidade com as vidas humanas. Assim, se de fato acreditamos (e defendemos) outro mundo possível, uma ordem societária igualitária, fraterna e livre, em que as pessoas sejam respeitadas nas suas diferenças, precisamos nos colocar nessa luta diária pela derrocada do capital, pelo fim das opressões – e aqui destacamos a de raça-etnia – e bradarmos coletivamente que: vidas negras importam!

Essa pergunta também está no material:

Tales Willyan Fornazier Moreira
182 pág.

Pedagogia Universidade do Estado do Rio de JaneiroUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

💡 1 Resposta

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O texto apresenta uma reflexão sobre o trabalho do assistente social na sociedade contemporânea, destacando a importância de compreender o profissional como parte da classe trabalhadora e não apenas como um indivíduo que presta serviços a outros indivíduos. Além disso, o texto destaca a importância de considerar tanto as dimensões objetivas quanto subjetivas do trabalho do assistente social, bem como a necessidade de atuar na direção emancipatória do projeto profissional, o que implica em uma constante tensão e disputa no interior das instituições. Por fim, o texto destaca a importância da educação permanente e da articulação com as lutas mais gerais dos trabalhadores/as por melhores condições de vida e trabalho, bem como com as lutas antirracistas.

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