A saúde mental é um tema importante e complexo, especialmente em um mundo que limita as formas plurais de ser e desfavorece nossa saúde psíquica. Herdamos o mundo que nos constitui enquanto sujeitos e assimilamos seus códigos, sentidos, significados e construções. Portanto, não há como fugir das matrizes hierárquicas de poder, saber e ser que o estruturam, em seus mais diversos âmbitos, pois elas constituem nossos modos e processos de subjetivação, ou seja, nossa forma de nos tornarmos sujeitos no mundo. Para pensar em saúde mental nesse contexto, é importante desnaturalizar as categorias psicológicas universalizantes e apontar a urgência de pensarmos singularidades plurais e autônomas. É um exercício contínuo de desaprender o cuidado em saúde mental que tem se reduzido ao mundo interno, individualista, e olhar e apontar outros saberes e práticas coletivas de cuidado que atendam as singularidades fora dessa lógica individualizante, e até mesmo patologizante. A ideia de saúde mental como processo e não como um estado ou lugar a se alcançar é uma proposta interessante. Entender que não há como desvincular uma coisa da outra, e que não há divisão entre mente e corpo, saúde mental e saúde “física”. Sendo assim, não há predomínio da “razão” sobre o corpo. Está tudo entrelaçado. Portanto, nesse entendimento, também não há exclusão do caráter coletivo destes processos, uma vez que as práticas de cuidado envolvem fatores para além dos individuais. Em tempos pandêmicos, fomos assaltados pelo real, e como ele persiste, se sobrepôs aos projetos e agendas que tínhamos planejado para esse novo ano. O isolamento social se impôs como medida de contenção da covid19. Em alguns momentos parece que nos falta simbolizações para elaborar isso tudo. A elaboração é um processo necessário para a angústia não virar sintoma, não nos tomar. E, se nos tomar também acontece, nos requer apenas cuidados mais atenciosos. E cada um fará à sua forma. O perigo consiste na negação do que nos acomete. O isolamento forçado é uma experiência psíquica adoecedora, nos coloca uma série de questões e situações ansiogênicas, de estresse contínuo e de desamparos afetivos. Nos coloca diante de questões que talvez não desejássemos entrar em contato agora, nos desafiando em muitas questões. Fomos convocados a adotar outras formas de nos relacionarmos com a vida, e esse movimento demanda uma série de recursos. Fomos convidados a parar, a sentir, a acolher nossas emoções numa cultura em que há pouquíssimo espaço para isso e, muitos de nós, acabamos tendo outras prioridades, pois somos cobrados o tempo todo a produzir e a estar bem alegres e sorridentes. Esse fardo é tão pesado, que o sentimento de culpa vem e nos lança em terrenos pantanosos quando não o atendemos.
Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta
Compartilhar