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Dessa forma, para o capitalismo se manter, historicamente, lança mão da herança colonial de hierarquização entre as raças, como forma de potenciali...

Dessa forma, para o capitalismo se manter, historicamente, lança mão da herança colonial de hierarquização entre as raças, como forma de potencializar seu processo de exploração e garantir seu poder e hegemonia mundial. Isso significa criar e recriar constantemente estratégias para manutenção do racismo, e ao mesmo tempo da ideologia da democracia racial enquanto “possibilidades de igualdade” no interior da ordem burguesa – que ao mesmo tempo em que dissemina a ideia de que “todos/as são iguais e possuem os mesmos direitos”, continua mantendo a população negra na base da pirâmide social. Exemplo disso é o fato dos/as negros/as serem a maioria esmagadora da população beneficiária do Programa de Transferência de Renda do Governo Federal Bolsa Família. De acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento Social – MDS35 (2013), ela-lo. Outra pesquisa realizada pelo MDS em 2015, apresenta também que quase 90% das famílias extrativistas, assentados/as e ribeirinhos/as beneficiados/as pelo programa Bolsa Verde, são chefiadas por negros/as. Considerando esses dados apresentados, vemos uma intrínseca relação entre desemprego, pobreza e população negra. Relação essa que não é natural, mas antes, produzida e determinada pela exploração do trabalho pelo capital que, no caso brasileiro, atinge de forma mais truculenta os corpos negros, gerando inúmeros processos de xpressões (MARTINS, 2013, p. 11). Na continuidade dessas reflexões acerca dos indicadores sociais para se pensar a relação entre “Questão Social” e racismo, é importante elucidar que população negra é a maioria atendida pelo SUS. Dados37 evidenciam que quase 80% da população atendida no SUS se autodeclara negra. Concomitantemente, dados do Ministério da Saúde (2017) evidenciam que as mulheres negras são as mais atingidas pela violência obstétrica e pela mortalidade materna (60%). No âmbito da educação, estudos38 evidenciam que a taxa de analfabetismo entre a população preta é de 11,2% e parda de 11,1%, perfazendo um total de 22,3% entre a população negra, enquanto a população branca possui apenas 5% de analfabetos/as. Acerca do encarceramento no país, dados do INFOPEN (2017) apresentam que 64% da população carcerária é negra. Além disso, pesquisas evidenciam que o Brasil tem a 3º maior população carcerária do mundo, ficando atrás apenas da China e EUA39. Nesse sentido, podemos refletir a prisão, além de ser um local gravíssimo de violação de direitos humanos, enquanto um lócus de contenção da luta de classes, a partir de encarceramento em massa dos corpos negros. No que diz respeito às diversas formas de violências, a população negra também representa o segmento mais atingido, em todos os níveis. De acordo com o Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2018, a população negra está no principal índice das pessoas que possuem maiores chances de serem vítimas de homicídios. Tal documento afirma que “em um período de uma década, entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%”. (IPEA, 2018, p. 40). Em números estatísticos, os/as negros/as e negros/as correspondem a 78,9% dos/as pertencentes ao grupo dos/as 10% com mais chances de serem vítimas fatais. De acordo com os dados, os/as negros/as possuem 23,5% maiores chances de serem assassinados em relação a pessoas não negras. “De cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras. Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra.” (IPEA, 2017, p. 30). Este documento ainda aponta que os jovens negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no país, cuja média nacional aponta para o crescimento em 34,7% entre a população negra. A cruel e violenta realidade que acomete os corpos negros em nosso país, nos explicita esses dados. Um fato ocorrido recentemente, em agosto de 2019, que causou grande repercussão, foi o do jovem negro de 17 anos que vive em situação de rua, que foi amordaçado, chicoteado com fios elétricos e ameaçado de morte pelos seguranças, após ser acusado de roubar quatro barras de chocolate no supermercado Ricoy, na zona sul de São Paulo40. Também nesse mesmo mês de agosto, 6 jovens – sem nenhuma ligação com o crime, vale destacar – foram mortos no Rio de Janeiro em menos de 80 horas. Dyogo Costa Xavier de Brito, de 16 anos; Gabriel Pereira Alves, de 18; Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21; Tiago Freitas, também de 21; Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, de 19 e também Margareth Teixeira, de 17 anos41.

Essa pergunta também está no material:

Tales Willyan Fornazier Moreira
182 pág.

Pedagogia Universidade do Estado do Rio de JaneiroUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

Respostas

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O texto apresenta uma reflexão sobre a relação entre o capitalismo e o racismo, mostrando como a hierarquização entre as raças é utilizada como forma de potencializar a exploração e manter o poder e a hegemonia mundial do capitalismo. O texto apresenta dados que evidenciam como a população negra é a mais afetada pelo desemprego, pobreza, violência obstétrica, mortalidade materna, analfabetismo, encarceramento e violência em geral. O texto mostra como a prisão é um local de violação de direitos humanos e de contenção da luta de classes, a partir do encarceramento em massa dos corpos negros. O texto também apresenta exemplos recentes de violência contra jovens negros no Brasil.

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