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Por que sou eu que tenho que ligar para ela? Não estou a fim de ligar para minha avó no final do dia. Não me chame para cantar parabéns para primo ...

Por que sou eu que tenho que ligar para ela? Não estou a fim de ligar para minha avó no final do dia. Não me chame para cantar parabéns para primo por videochamada. Não abro o grupo da família há anos e não quero mais responder minha tia. Não quero mais falar com nenhum dos meus parentes. Já não sinto mais como família. Nem venham com receita de bolo: “é só parar de discutir política”. Não é a política que causou isso, ela só me tirou os olhos como venda. Era difícil aceitar que, para resolver minha aproximação com os familiares, o melhor seria me afastar deles. E isso já é de muito tempo. Guardo com cuidado o carinho que muitas e muitos tiveram comigo, mas foi numa época em que eu não sabia que eu era eu. Talvez não tivesse um eu que pudesse saber de muita coisa. À medida que fui negando expectativas, desagradei um bocado. E continuo até hoje. Não só pelas críticas ao governo, mas pela resposta silêncio quando perguntavam “e as namoradinhas?”. Não havia namoradinhas. E hoje, quando há o namorado, já não há mais perguntas endereçadas. O interesse pelas companhias, gostos e posicionamento político também cessaram, independente dos meus esforços unilaterais de puxar assuntos com quem não fazia questão de conversar sobre outra coisa que não o clima. Como continuar a procurar quem não dá o braço a torcer? O (des)governo torcendo vidas e quebrando os ossos das famílias que não tem míseros 600 reais para comer e há quem transforme o algoz na vítima. “Tudo cai nas costas dele, coitado!”. Como a cabeça dos parentes consegue ser mais dura do que a realidade? É mais fácil comprar a manchete de complô entre a Globo, China e o PT, ou cair no positivismo tóxico da quarentena do que encarar o sofrimento de frente. Sempre foi difícil. Foi por isso que inventamos a arte, a religião e a ciência. Vida é sofrimento, mas também criação, mesmo que muito seja feito para que acreditemos que “não há alternativa”. Mais de quarenta mil mortos não assustam. Talvez porque o Deus de meus parentes os assuste mais. Um Deus que pune e castiga. Figura customizada. Ganha contornos no perfil do Facebook de cada devoto fervoroso que não vai à igreja nem pratica a solidariedade há anos, mas repassa mensagens lindas de “bom dia” nos grupos. Talvez figurinhas do WhatsApp mudem o mundo. Só se “mudar” for sinônimo do esforço de “trocar seis por meia dúzia”. Que mundo é esse em que todos estão “sem tempo, irmão”? Que país é esse em que quanto mais fulano bateria no filho por ser gay ou minimizou a escravidão, mais ganhou pontos na corrida presidencial? Luto pelo Brasil que eu acreditava. Mas a desilusão fortifica. “Onde há poder, há resistência” e, durante e pós-pandemia, ainda se enfrentará os poderosos. Mas, como enfrentar os políticos, se não consigo conversar nem com a minha avó? Não deveria ser mais fácil me apoiar nas relações afetivas para conseguir complicar as narrativas? Talvez fique mais complicado falar de política justamente pela quantidade de afetos, frequentemente dolorosos, que ainda marcam o corpo. “Política não se discute”. O preço do tomate, o currículo escolar, os direitos trabalhistas e o sistema de saúde não se discutem, aparentemente. Talvez Deus tenha ministros para decidirem sobre cada um desses temas. Ou o próprio tomate decida sobre os leitos do SUS enquanto as carteiras das escolas escolhem quais alimentos teriam acidentes de trabalho assegurados. Mas esses foram e são produções dos Homens, os “machos” que na adolescência esbanjam uma coleção de “namoradinhas”. Deus, em minha fé, nem sequer tem um nome só. Olorum, Olodumaré, Zambi ou Tupã. A força criadora e todos seus ori

Essa pergunta também está no material:

ebook_expressoes aap4
748 pág.

Gestão Hospitalar

💡 1 Resposta

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Parece que você está desabafando sobre sua relação com sua família e como isso se relaciona com a política. Infelizmente, não posso ajudar com questões pessoais, mas se você precisar de ajuda com algum assunto escolar, estou aqui para ajudar.

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