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Indo O primeiro sinal foi quando uma senhora se levantou para me dar seu lugar, num ônibus. Ué, pensei. (Não sei se foi "Ué". Pode ter sido "Uai", ...

Indo O primeiro sinal foi quando uma senhora se levantou para me dar seu lugar, num ônibus. Ué, pensei. (Não sei se foi "Ué". Pode ter sido "Uai", mas estranhei). O que provocara aquele gesto? O que levara a mulher a me oferecer seu lugar? Era a primeira vez que me acontecia aquilo. Alguma coisa ela vira em mim que a convencera que eu não deveria ficar de pé. O que seria? Recusei a oferta. "Não, não. Eu estou bem. Obrigado." Mas fiquei intrigado. De pé e intrigado. A partir daí, passei a notar que as pessoas me tratavam de um modo diferente. Não era raro alguém estender a mão para me ajudar a descer de um carro, por exemplo. Por que aquela súbita mudança de comportamento das pessoas em relação a mim, já que eu continuava sendo o mesmo de sempre? Em mim nada mudara. Bem, algumas coisas sim, mas detalhes, nada que justificasse o estranho procedimento dos outros. E o que quer que fosse que o provocara, o novo tratamento não era de repulsa. Pelo contrário, era de uma amabilidade inédita. Por quê? (...) Finalmente, na semana passada, tudo se esclareceu. Cheguei no Rio e o táxi que me levava do aeroporto para o hotel pifou na saída do Túnel Rebouças e parou na ensolarada Lagoa. O motorista pediu ajuda a outro táxi pelo rádio e enfatizou a urgência da situação: "Estou aqui com um idoso embaixo do sol..." Olhei em volta. Idoso? Onde estava o idoso? E então tive a revelação. O idoso era eu! Agora tudo fazia sentido. O estranho procedimento dos outros estava explicado. Eu tinha me transformado num idoso e recebia o tratamento adequado. Virar idoso é o que acontece quando se vive um certo tempo, eu apenas não tinha me dado conta. Só faltava alguém dizer a palavra, sem a menor possibilidade de estar se referindo a outra pessoa. Curiosa palavra. Idoso. O que acumulou idade. Também tem o sentido de quem se apega à idade. Ou que a esbanja (como gostoso ou dengoso). Se é que não significa alguém que está indo, alguém em processo de ida. Em contraste com os que ficam, os ficosos... Preciso começar a agir como um idoso. Dizem que, entre eles, idoso não fala em quem chega à velhice como alguém que está à beira do túmulo. Dizem que está na zona do rebaixamento. Vou ter que aprender o jargão da categoria. (Luís Fernando Veríssimo, O Estado de S.Paulo, 10/09/2006) Relacione a crônica "indo" com o seguinte fragmento: - O senhor já tem uns sessentinha, não? Sessentinha. Delicado, isso. O diminutivo significaria que eu parecia estar no começo dos meus anos sessentas? Se fosse o caso, um sessentão seria aquele que já vai lá mais adiante? Ou o diminutivo poderia significar, lisonjeiramente, que eu parecia ágil para os 60? (Estando, na realidade, bem adiante) Sutil a língua brasileira com relação à idade das pessoas. Ninguém diz que você é um vintão, um trintão. Mas logo ganha um "ão" quando chega aos 40, e a partir daí é quarentão, cinquentão, sessentão, setentão. Aos 80, você se torna vítima de uma bem-intencionada deferência, ganha o rótulo de octogenário, horroroso. Não se diz oitentão. Nem noventão (nonagenário) nem centão (centenário). Já virou sobrevivente. (Ivan Angelo, Veja S. Paulo, 14/02/2007) Constata-se que ambos desenvolvem a mesma temática e se identificam pois A. encaram a terceira idade sob uma ótica fatalista, com grande pessimismo. B. defendem a necessidade de criar uma cultura de respeito aos idosos. C. apresentam uma visão nostálgica da juventude. D. recorrem à análise das peculiaridades da linguagem para refletir sobre a velhice. E. reiteram a insensatez dos jovens que encaram o idoso como descartável. Entrar para comentar Bloqueador de anúncios não permitido! Desative o bloqueador de anúncios ou experimente o Brainly Plus para uma experiência sem inte

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A crônica "Indo" e o fragmento "Sutil a língua brasileira com relação à idade das pessoas" apresentam uma reflexão sobre a velhice e a forma como a sociedade trata os idosos. Ambos recorrem à análise das peculiaridades da linguagem para refletir sobre a velhice, mostrando como a língua brasileira é sutil com relação à idade das pessoas. Portanto, a alternativa correta é a letra D.

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