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Em seus artigos, o vade-mécum deixa clara a obrigação da citação e intimação. Além disso, logo abaixo do art. 370, o vade-mécum faz remissão ao art...

Em seus artigos, o vade-mécum deixa clara a obrigação da citação e intimação. Além disso, logo abaixo do art. 370, o vade-mécum faz remissão ao art. 5º, LV, da Constituição, que assegura o contraditório e ampla defesa aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral. Por fim, as teses de excesso na punição, muito importantes em memoriais. A ideia é buscar tudo o que for interessante ao acusado em caso de condenação. Para uma análise sem furos, é interessante o seguinte passo a passo: (a) Há alguma qualificadora a ser afastada? Sim, a do art. 213, § 1º, do Código Penal, pois não ficou demonstrado, por meio hábil, que a vítima tinha dezessete anos na época dos fatos. (b) Há algum privilégio? Não. (c) Há circunstâncias judiciais relevantes, nos termos do art. 59 do CP? Não. Portanto, deve ser a pena fixada no mínimo legal. (d) Há agravante a ser afastada? Sim. O Ministério Público pediu a condenação de Lauro pela agravante do art. 61, II, f, do CP, aplicável na hipótese de com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica. Perceba que a agravante não diz apenas contra a mulher, mas contra a mulher na forma da lei específica. Qual lei? Evidentemente, a Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340/06, cuja remissão foi feita no vade-mécum, logo após a estudada agravante). Em momento algum o enunciado descreve hipótese da citada lei especial. (e) Há atenuante? Sim. Veja o que diz o enunciado: na segunda audiência, Lauro foi ouvido, confirmando integralmente os fatos narrados na denúncia. Ou seja, confessou, fazendo jus à atenuante do art. 65, III, d, do Código Penal (a fundamentação pode ser facilmente encontrada no índice remissivo do Código Penal, que tem um tópico específico para a confissão). (f) Há causa de aumento a ser afastada? Não. (g) Há causa de diminuição? Sim. A tentativa é causa de diminuição de pena – de acordo com o art. 14, II, do Código Penal, a pena deve ser diminuída de um a dois terços. Segundo a jurisprudência, a diminuição deve ser fixada proporcionalmente à aproximação a consumação do delito. No exemplo, Lauro ficou muito distante da consumação do estupro. Por isso, a diminuição deve ser a máxima: dois terços. Obs.: por mais que o leitor não conhecesse a forma como deve ser fixada a diminuição na tentativa, é evidente que, na condição de advogado, deverá ser pedido sempre o melhor ao cliente – no caso, a diminuição ao máximo da pena. (h) Qual regime prisional deve ser fixado? O tema é tratado no art. 33, § 2º, do CP, que traz qual regime deve ser aplicado, levando-se em consideração o quantum de pena aplicado. Como ainda não há sentença, devemos considerar a pena em abstrato, tendo por base que todos os nossos pedidos serão atendidos. Pedimos o afastamento da qualificadora, devendo ser aplicada a pena do caput do art. 213 do CP: de seis a dez anos. Como foi sustentada a pena no mínimo legal, sem agravante, Lauro deveria ser condenado à pena de seis anos. Todavia, também pedimos a diminuição da tentativa ao máximo: dois terços. Matemática não é a nossa paixão, mas não é difícil o cálculo: se retirados dois terços de seis, restam dois anos. Segundo o art. 33, § 2º, c, o regime deve ser o aberto. Acerca do regime prisional, duas observações. A primeira, uma reclamação em relação ao vade-mécum: não há um tópico regime no remissivo do Código Penal. Encontramos remissão ao art. 33 do CP no tópico pena(s). A segunda, quanto à questão do regime inicial nos crimes hediondos (que é o caso do estupro). Embora exista previsão legal de que o regime inicial de pena para esses crimes deve ser o fechado (Lei n.º 8.072/90, art. 2º, § 1º), o dispositivo foi considerado inconstitucional pelo STF. Ainda sobre a fixação do regime, atenção à Súmula 269-STJ; à Súmula 440-STJ; à Súmula 718-STF; e à Súmula 719-STF. (i) É possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos? Não, conforme art. 44, I, do CP. (j) É possível a suspensão condicional da pena? Sim. Atendidos todos os nossos pedidos, a pena de Lauro ficará em dois anos e, portanto, possível o sursis, nos termos do art. 77 do Código Penal. (k) O réu está preso? Não. Se estivesse, deveríamos pedir alvará de soltura, visto que pedimos o regime inicial aberto ou o sursis. Em resumo, a nossa pesquisa rendeu o seguinte levantamento de teses: (a) Falta de justa causa: Lauro não praticou o crime de estupro qualificado, pois não houve o início da execução do delito, visto que a vítima não foi em momento algum constrangida. Ademais, o único ato preparatório, consistente em aquisição de arma de fogo, ocorreu dentro da legalidade. (b) Nulidade: o réu deveria ter sido intimado da data da audiência, com fundamento nos arts. 370 do CPP, sob pena de nulidade por se tratar de ato essencial do processo, com fundamento no art. 564, IV, do CPP, em virtude de violar o direito à ampla defesa, previsto no art. 5º, LV, da Constituição. (c) Excesso na punição: (a) afastamento da qualificadora do art. 213, § 1º, do CP, devendo Lauro ser condenado por estupro simples, do art. 213, caput, do CP, por não ter havido comprovação da idade da vítima, nos termos da lei civil, como determina o art. 155, parágrafo único, do CPP; (b) a pena deve ser fixada no mínimo legal, com fundamento no art. 59 do Código Penal, já que as circunstâncias judiciais são favoráveis; (c) deve ser afastada a agravante do art. 61, II, f, do CP, pois o crime não foi praticado em situação de violência doméstica; (d) o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea, do art. 65, III, d, do CP; (e) a redução da tentativa (CP, art. 14, II) ao máximo legal, de dois terços, em razão da distância da consumação, devendo a pena ser fixada em dois anos; (f) o regime inicial deve ser o aberto, com fundamento no art. 33, § 2º, c, do CP; (g) deve a execução da pena ser suspensa, nos termos do art. 77 do CP. 3. MONTANDO A PEÇA Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Campos/RJ, Lauro, já qualificado nos autos, vem, por seu advogado, apresentar Alegações finais por Memoriais, com fundamento no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelas razões a seguir expostas:

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