A legislação civil brasileira dispõe que a pessoa que causar dano a outrem comete ato ilícito e tem o dever de reparar esse prejuízo, seja retornando ao status quo ou, na impossibilidade disso, pagando indenização. Dessa forma, se o agente, ao praticar o delito, provoca prejuízos à vítima, incluindo herdeiros, dependentes ou até mesmo terceiros, ele deve indenizá-la. Em janeiro de 2005, Joaquina foi agredida fisicamente por Antônio, que foi denunciado, em 2008, pelo crime de lesão corporal grave. No ano de 2011, Joaquina ingressou com ação civil ex delicto, requerendo a reparação pelos danos morais e materiais sofridos. Ocorreu que, em 2012, o juízo criminal da primeira instância condenou Antônio, mas, em sede de recurso, em 2015, o juízo ad quem decretou a extinção da punibilidade. Na sequência, o juízo cível o condenou ao pagamento de R$ 10 mil a título de danos morais acrescido de R$ 7,5 mil decorrente dos danos materiais. Mediante a decisão proferida pelo tribunal, Antônio recorreu da decisão, que julgou procedente a reparação de danos, alegando que a ação indenizatória só poderia ter sido ajuizada se houvesse condenação criminal transitada em julgado e que, neste caso, o pedido deveria ser julgado improcedente. Suponha que você seja desembargador e recebeu o recurso cível apresentado por Antônio. Sendo assim, você daria provimento ao recurso? Se sim, sob qual fundamento jurídico?
No caso da vítima, tem-se aqui a faculdade de ela propor a ação civil ex delicto, como você pode acompanhar no caso a seguir:
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De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, há certa independência entres as esferas cíveis e criminais. Sendo assim, se alguém sofreu um dano decorrente da prática de um fato delituoso, poderá escolher entre ajuizar ação cível ou aguardar a conclusão da ação penal para liquidar ou executar a sentença penal condenatória.
No caso de Joaquina, ela não está pretendendo a liquidação ou a execução de sentença penal condenatória, mas apenas a reparação dos danos que foram causados por Joaquim pela prática da conduta criminosa. Atente-se que o juízo da primeira instância condenou Antônio, reconhecendo que ele foi o autor do crime cometido contra Joaquina. Quando o tribunal decretou a extinção da pretensão punitiva, apenas impediu o Estado de aplicar a sanção penal, mas não tem condição de afastar a sanção civil, pois a autoria e a materialidade foram reconhecidas.
O prazo prescricional para ajuizar a ação civil ex delicto é de três anos após o trânsito em julgado. Esse é o prazo máximo, sendo que, antes disso, a tempestividade deve ser reconhecida.
A ação civil foi proposta em 2011, e a sentença criminal foi proferida apenas no ano seguinte, com a apresentação do recurso. Ou seja, não houve trânsito em julgado. Isso impede a formação de um título executivo judicial no âmbito criminal, de modo a não ser possível ingressar diretamente com execução cível. Todavia, essa situação não impossibilita o ajuizamento de ação de conhecimento cível para apuração dos danos causados pelo autor à vítima.
Com esses fundamentos, deve ser negado o provimento ao recurso cível de Antônio.
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