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Fragmento retirado do Livro do desassossego, obra de Fernando Pessoa: [...]A literatura, que é a arte casada com o pensamento e a realização sem a...

Fragmento retirado do Livro do desassossego, obra de Fernando Pessoa:

[...]A literatura, que é a arte casada com o pensamento e a realização sem a mácula da realidade, parece-me ser o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal. Creio que dizer uma coisa é conservar-lhe a virtude e tirar-lhe o terror. Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verdor. As flores, se forem descritas com frases que as definam no ar da imaginação, terão cores de uma permanência que a vida celular não permite.

Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada de real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos, pois, que conservar o dia bom em uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.

Tudo é o que somos, e tudo será, para os que nos seguirem na diversidade do tempo, conforme nós intensamente o houvermos imaginado, isto é, o houvermos, com a imaginação metida no corpo, verdadeiramente sido. Não creio que a história seja mais, no seu grande panorama desbotado, que um decurso de interpretações, um consenso confuso de testemunhos distraídos.

O romancista é todos nós, e narramos quando vemos, porque ver é complexo como tudo. [...]

01. No trecho anterior, o narrador afirma que a literatura é “[...] a realização sem a mácula da realidade”. Por quê?

02. Qual o efeito de sentido gerado pela frase “Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verde”?

03. Por que, segundo o autor do texto, todo o esforço humano deveria tender para a literatura?

04. O que autoriza o narrador a afirmar que o esforço humano, na verdade, pode ser visto como uma superfluidade do animal?

05. Por que, por meio da literatura, é possível que a realidade efêmera, e por vezes ordinária, adquira uma maior permanência?

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01. No trecho anterior, o narrador afirma que a literatura é “[...] a realização sem a mácula da realidade”. Por quê? Resposta: O narrador afirma que a literatura é a realização sem a mácula da realidade porque a literatura é uma arte que permite a criação de mundos imaginários, sem a necessidade de se ater à realidade concreta. A literatura é capaz de criar uma realidade própria, sem as limitações da realidade concreta. 02. Qual o efeito de sentido gerado pela frase “Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verde”? Resposta: A frase "Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verde" sugere que a descrição poética da natureza é capaz de criar uma imagem mais vívida e duradoura do que a própria natureza. A literatura é capaz de criar uma realidade mais intensa e duradoura do que a realidade concreta. 03. Por que, segundo o autor do texto, todo o esforço humano deveria tender para a literatura? Resposta: Segundo o autor do texto, todo o esforço humano deveria tender para a literatura porque a literatura é capaz de criar uma realidade própria, sem as limitações da realidade concreta. A literatura é a arte casada com o pensamento e a realização sem a mácula da realidade, e por isso, é capaz de criar uma realidade mais intensa e duradoura do que a realidade concreta. 04. O que autoriza o narrador a afirmar que o esforço humano, na verdade, pode ser visto como uma superfluidade do animal? Resposta: O narrador afirma que o esforço humano pode ser visto como uma superfluidade do animal porque, segundo ele, a literatura é o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal. Ou seja, o autor sugere que a literatura é a atividade mais humana que existe, e que todo o esforço humano deveria ser direcionado para ela. 05. Por que, por meio da literatura, é possível que a realidade efêmera, e por vezes ordinária, adquira uma maior permanência? Resposta: Por meio da literatura, é possível que a realidade efêmera, e por vezes ordinária, adquira uma maior permanência porque a literatura é capaz de criar uma realidade própria, sem as limitações da realidade concreta. A literatura é a arte casada com o pensamento e a realização sem a mácula da realidade, e por isso, é capaz de criar uma realidade mais intensa e duradoura do que a realidade concreta.

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