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Com relação às previsões que tinham como base os números, foram consideradas eras boas ou anos bons os de terminação 4 e 5, enquanto os de terminaç...

Com relação às previsões que tinham como base os números, foram consideradas eras boas ou anos bons os de terminação 4 e 5, enquanto os de terminações 0, 1, 2, 3, eram eras ruins. Os anos de terminação 6, 7, 8, e 9 foram colocados como menos relevantes, algo transitório, algo incidental. De forma geral, havia a indicação, com certa regularidade, de quatro anos ruins e apenas dois bons. , podendo indicar desde um ano até uma década. No Sertão, a “era” está associada à representação de tempos (ano ou anos) bons ou ruins. As boas são relacionadas à esperança, embalada pela certeza de dispor do mínimo necessário à sobrevivência, sem as dificuldades extraordinárias vivenciadas nos períodos secos/eras secas, com regularidade das fontes tidas como naturais de águas, de culturas, de criações, de vegetações, de alimentos. Algumas dessas experiências destacam-se: se, em novembro ou dezembro, não chovesse chuva no Oeste do Piauí, esta não viria, porque o aprendizado popular mostrava que a estação “invernosa” piauiense precedia à da porção oriental do Nordeste. A chuva viria se, entre 07 e 24 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição e do Natal, logo ao amanhecer, na parte nascente, aparecesse uma barra escura e larga cobrindo o céu e, se, no dia primeiro de janeiro, formasse barras de nuvens altas e escuras no nascente. Se adviesse uma neblina, chuva choradeira, na passagem do ano, e se, em 19 de janeiro, dia São Canuto e Antônio da Cruz, e viesse um relâmpago, podia-se comprar garrote magro de quem tivesse pra vender, porque o ano seria bom o inverno; se, entre janeiro e fevereiro, chovesse na passagem da Estrela d’Alva, desde o Oeste até o Leste, podiam os sertanejos plantar no seco que a colheita era certa; se o Cruzeiro do Sul se deslocava no mês de janeiro ou de fevereiro, do Sul para o Norte. Indicava inverno abundante; se a Lua Cheia de janeiro saía por trás de uma barra escura, se o trovão “cantava” no nascente, à noite toda, podiam colocar os potes na biqueira; se relampeasse três noites seguidas, amanhecendo o dia para as bandas do poente, podiam cortar a terra para plantar. O inverno era certo; se, em agosto, os redemoinhos fossem fortes, apresentando-se como furacões nos meses que antecedem a estação chuvosa e, se a lua saísse pendida 228 para o Sul. Embora a visão de estrela cadente estivesse envolvida em crenças de bons presságios, recomendando-se, diante deste sinal, formularem-se desejos ou pedidos com chances redobradas de serem atendidos, no Sertão o fenômeno era visto como prenúncio de estiagem. A previsão era de ano bom se o fogo-fátuo ou o boitatá corresse nas matas, nas noites quentes e abafadas de verão, em forma de pequenas luzes que se deslocavam rapidamente, muito temido por representar entidades espirituais ou almas penadas. Dentre os sinais relacionados aos fenômenos da natureza e considerados costumeiramente de inverno alguns se destacam: quebrar da barra, final de tarde, com nuvens cinzentas; o amanhecer do dia raiando no nascente e no poente; vento vindo do poente que não voltava descarregado. Enquanto que os ventos Sudeste e Nordeste eram portadores do flagelo da seca; e, como se dizia: “neve na serra, chuva na terra, neve nas baixas, sol que racha”. Para os sertanejos, essas experiências eram mais que um encontro com a natureza, pois constituíam um anúncio da divindade que aparecia e falava, particularmente em momentos especiais que provocam mais sentimentos de respeito e de esperança que de receio, como os puros alvoreceres, pois os sertanejos, baseados em uma tradição europeia, habituaram-se a observar as nuvens e os ventos ao alvorecer e ao anoitecer, como forma de detectar possíveis chuvas. Esses aprendizados reuniam experiências de vida, observações continuadas dos elementos da natureza que os sertanejos acreditavam emitirem mensagens, indícios de futuro. As observações dos meteorologistas populares tornaram-se conhecidas e foram se constituindo em alternativas de entendimento de chuva ou de seca. Muitas observações que passaram pelo imaginário dos sertanejos se difundiram como forma de interpretar sinais de chuvas. Como as dissipações das nuvens com seus deslocamentos para outras paragens e as convergências, como se fossem trazendo 229 chuvas; o apareciemento do arco-íris, como sugando as água dos rios, dos lagos e dos mares, podendo até engolir animais, mas podendo trazer chuva se aparecesse; e, se o trovão não pipocasse ou estalasse, desse modo a chuva estava no fim. A partir das observações da natureza aprenderam que os ventos, a depender de sua velocidade, poderiam sinalizar o desencadear em tempestades e na ocorrência de raios e de trovões. E que estes problemas poderiam ser minimizados com a invocação aos santos protetores dos ventos e das tempestades, como São Lourenço e Santa Bárbara, respectivamente. Os sertanejos, nas experiências com árvores, centravam as observações nas folhagens e nas frutificações como anúncios da renovação cíclica, de continuidade, de regularidade ou de quebra da vida. Por isso eram desanimadoras as perspectivas do ano seguinte se, em outubro ou novembro, não florescessem certas árvores, como a craibeira, a aroeira, o cumaru, a baraúna, o pau-d’arco. Mas, se estas florescessem bem “redondas” (envolvendo toda a copa) isso indicava bom inverno; se somente uma parte era segurada, indicava mal tempo; os observadores mais criteriosos exigiam que, depois da floração, a planta sustentasse os frutos, pois, se, por exemplo, a mangueira florescesse, mas os frutos caíssem, o ano era seco; se os juazeiros frutificassem tarde, era sinal de que o inverno ia demorar, pois observavam que juá só cai na lama; se o valente floreasse, bageasse e o talinho envergasse, estava acabando o inverno. Também os sertanejos observavam outros aspectos nas plantas: se, em novembro ou dezembro, a catingueira soltasse a casca do tronco para o lado do nascente e resinasse muito e, se os ninhos-de-cobras (gramínea encontrada nas serras), botassem espigas secas, o ano era seco. Mas, se botassem espigas banguelas, a chuva seria variada; já, se botassem espigas cheias, era sinal de muita chuva; se, em janeiro, houvesse muitas gatas paridas, se ticacas (gambás) botassem os “filhotes pra fora” e, se maribondo-de-chapéu (têm esse nome porque desenvolvem suas colmeias em forma de chapéus), estivessem com sua casa completa, iria chover muito na região, pois eles fazem isso para se protegerem da chuva, um sinal claro de que iria chover forte em breve. E, se numa estiagem, as gatas devorassem seus filhotes recém-nascidos, era sinal de que a seca continuaria, se o xique-xique, o mandacaru ou o cardeiro não renovassem suas carapaças em torno dos espinhos novos, identificados pelos capulhos de lã e por suas novas cores que eram mais claras ou, se a oiticica não carregasse, o inverno seria ruim. Se árvores, como o cajueiro, a aroeira, o angico, a catingueira resinassem, se o cumaru, a aroeira e a barriguda (embiratanha) carregassem bem, entre outubro e novembro, e, se o mofumbo e o pereiro chorassem, era sinal de chuvas; se a carnaúba floreasse. Se o jucá muito carregou, encheu de frutos, iria chover muito na região. Os sertanejos, observando os diversos momentos das forças da natureza, percebiam certa sequência, indicando uma ciclicidade da vida natural, com possibilidades de restauração ou de renova

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115-E-book-361-1-10-20181025
295 pág.

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