Buscar

Não há direito subjetivo à instauração do incidente, cabendo ao tribunal certa discrição no exame do risco de ofensa à isonomia e à segurança juríd...

Não há direito subjetivo à instauração do incidente, cabendo ao tribunal certa discrição no exame do risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. Se a controvérsia não estiver suficiente madura, não se conhecendo ainda todas as implicações da adoção de uma tese com a rejeição da outra, poderá o tribunal inadmitir o incidente, num primeiro momento, vindo a admiti-lo depois, quando conveniente pôr termo à controvérsia e de uma vez por todas, se possível, conforme previsão do artigo 976, § 3º. O incidente será incabível quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva. Em relação à quantidade de processos para instauração do incidente, o texto é claro ao exigir efetiva repetição de processos. Nas palavras de Guilherme Rizzo Amaral, “Não há, contudo, um número mínimo de processos exigidos para a instauração do incidente. Basta a mera repetição (leia-se, dois processos discutindo questão de direito idêntica)” (AMARAL, Guilherme Rizzo, op. cit., 2015). Segundo preconiza o art. 976, § 2º, nos casos em que não for suscitante, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente, podendo assumir sua titularidade nas hipóteses em que houver desistência ou abandono pelo requerente. O artigo 976, parágrafo 5º, é expresso no sentido da inexigibilidade de custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas, o que se explica pelo interesse público a que atende. Nele também não há condenação em honorários advocatícios, cabíveis somente nos processos individuais em que se aplica (ou não) a tese acolhida pelo tribunal. A sucumbência “somente se manifesta com o julgamento da causa, e não com a definição da tese jurídica, ainda que esta condicione, em alguma medida, o resultado daquele” (YOSHIKAWA, Eduardo Henrique de Oliveira. O incidente de resolução de demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil: comentários aos arts. 930 a 941 do PL 8.046/2010. Revista de Processo, v. 37, n. 206, p. 265, São Paulo: abr. 2012). A aplicação da sucumbência pressupõe a existência de um vencido. Não há vencido ou vencedor na decisão proferida no incidente a ensejar a responsabilização do vencido nas despesas processuais, pois se trata de uma tese incidente, além do que ele pode ser provocado pelo juiz ou relator, de ofício, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública. O artigo 977 contém rol exaustivo dos legitimados a provocar o incidente, a saber: o juiz da causa ou, pendente recurso, o relator, que tem legitimidade também nas causas da competência originária do tribunal; as partes, isto é, o autor e o réu, bem como qualquer de seus litisconsortes; o Ministério Público e a Defensoria Pública, ainda que não participem do processo. Não tem legitimidade o assistente simples. O rol é suficientemente amplo para praticamente garantir que não será por falta de legitimado que o incidente deixará de ser provocado. Daniel de Andrade Lévy registra que o Anteprojeto, talvez por uma preocupação em não associar o incidente à ação coletiva, afasta sugestões surgidas durante as reuniões da Comissão, de dotar legitimidade para o incidente, além das partes, os mesmos legitimados para a ação civil pública (LÉVY, Daniel de Andrade. O incidente de resolução de demandas repetitivas o anteprojeto do novo Código de Processo Civil: exame à luz da Group Litigation Order britânica. Revista de Processo, São Paulo, v. 36, n. 196, p. 169, jun. 2011). Conforme esclarece Larissa Clare Pochmann da Silva, importante referir que o incidente de resolução de demandas repetitivas não se inclui na esfera da tutela coletiva. Nas ações coletivas, justamente por quem estará representando o grupo e pelos efeitos da coisa julgada, com possibilidade de beneficiar todas as vítimas de um dano comum, o espectro é muito mais amplo do que no incidente de resolução de demandas repetitivas (SILVA, Larissa Clare Pochmann da. Incidente de resolução de demandas repetitivas: tutela coletiva ou padronização do processo? Revista da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, v. 18, n. 32 (2011). Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2012). Dado o interesse público envolvido, é de se esperar que mais comumente o incidente seja suscitado pelo órgão judiciário (juiz ou relator), pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, conforme refere Guilherme Rizzo Amaral: O requerente deverá instruir o pedido de instauração do incidente com os documentos necessários à demonstração da hipótese de cabimento. No mínimo deverão ser apresentadas a petição inicial do processo correspondente e, caso a questão de direito controvertida tenha surgido apenas em sede de contestação ou em outra manifestação apresentada no curso do processo, cópia de tal manifestação. Deverá também ser comprovada a fase em que o processo se encontra, de modo a averiguar a competência do tribunal para julgamento do incidente e a oportunidade de sua instauração (AMARAL, Guilherme Rizzo, op. cit., 2015). O requerimento deverá estar acompanhado da prova documental da repetição de processos sobre a mesma questão. Isto é, com os documentos necessários à demonstração da hipótese de cabimento. No mínimo deverá ser apresentada a petição inicial do processo correspondente, documento comprovando a fase em que o processo se encontra, de modo a averiguar a competência do tribunal para o julgamento do incidente e a oportunidade de sua instauração, bem como comprovar a efetiva repetição de processos a partir da juntada de cópias de processos contendo idêntica matéria de direito controvertida (AMARAL, Guilherme Rizzo, op. cit., 2015). A competência para admitir, processar e julgar o incidente é do órgão indicado no regimento interno dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal. A competência não poderá ser atribuída a órgão unipessoal, como, por exemplo, o Presidente do Tribunal. Salta aos olhos a conveniência de se atribuir a competência ao Grupo ou Seção constituído pelas Câmaras ou Turmas que apreciam a matéria em grau de apelação. Se a matéria é processual, convém atribuir-se competência às Câmaras Cíveis Reunidas, onde houver. Via de regra, o Órgão Especial não se apresenta como indicado, porque implica atribuir-se a decisão a juízes que usualmente não tratam da matéria, com exclusão daqueles que lidam com ela no dia a dia. Competindo-lhe, porém, julgar o incidente de inconstitucionalidade (art. 949, II), deve-se-lhe atribuir competência para julgar também o incidente de resolução de demandas repetitivas, se a controvérsia for de natureza constitucional. O órgão colegiado será competente tanto para o juízo de admissibilidade do incidente quanto para seu julgamento de mérito, conforme prevê o art. 981. Relevante anotar que a competência para processar e julgar o incidente é do tribunal local. Entretanto, conforme prevê o artigo 982, o tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário poderá determinar a suspensão de todas as ações em curso no território nacional. Daniel de Andrade Lévy afirma que a solução do art. 982 é um atalho para se estender os efeitos da coisa julgada a todo território nacional sem alteração da competência dos Tribunais Superiores (LÉVY, Daniel de Andrade, ob. cit). O parágrafo único do artigo 978 estabelece que “o órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o incidente”. Inadmitido o incidente, o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária serão redistribuídos para o órgão fracionário competente do tribunal. A divulgação e a publicidade do incidente são fundamentais para permitir a intervenção de quaisquer interessados e, ainda, de amici curiae que queiram contribuir com a discussão, oferecendo elementos técnicos e argumentos para a formação da tese jurídica a ser

Essa pergunta também está no material:

840 pág.

Direito Processual Civil I

💡 1 Resposta

User badge image

Ed Verified user icon

Você precisa criar uma nova pergunta.

0
Dislike0

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Outros materiais