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O desejo de Antígona será tomado como o ponto central da discussão de Lacan, donde ele conclui o seu raciocínio sobre a posição ética da psicanális...

O desejo de Antígona será tomado como o ponto central da discussão de Lacan, donde ele conclui o seu raciocínio sobre a posição ética da psicanálise: o desejo, em sua radicalidade. Antígona nos mostra o que é o desejo. Sua figura é ilustrativa, para a psicanálise, no sentido de uma postura radical de não renunciar ao seu próprio desejo. Sua postura é inflexível diante do próprio desejo. Creonte, pelo contrário, quando o profeta Tirésias diz que males assinala que, a contrapelo do encaminhamento filosófico sobre a ética, a perspectiva psicanalítica não é uma especulação, nem se encontra orientada pelo ideal do Bem. Antes, se refere a uma experiência, à ação, cuja dimensão é fundamentalmente trágica. Assim, a ética da psicanálise se constitui como a própria prática da psicanálise, ou seja: ela é uma ética que, de acordo com Lacan, faz-se ato cuja dimensão não visa um ganho, mas pode, ao contrário, inscrever uma perda. TEMA 2 – A PSICANÁLISE COMO UMA ÉTICA A psicanálise, em sua prática, não visa educar, instruir ou fornecer critérios para se alcançar uma inteligência emocional, como está em moda dizer. Nesse sentido, é correto afirmar que a psicanálise não tem uma ética? Ricardo Goldenberg (1999) pergunta, em seu artigo: “A ética em que se baseiam os psicanalistas no exercício de sua atividade difere em quê da que eles têm como cidadãos?”. E a resposta que ele mesmo dá é aquela com que desejamos refletir sobre esse tema. Ele diz: “[...] não é em nada diferente. Os valores dos analistas não são valores psicanalíticos. [...] [Há que se considerar] que a ética que os orienta, no consultório ou fora dele, nada tenha a ver com a psicanálise” (Goldenberg, 1999). Portanto, a ética do analista diz respeito ao modo singular com que se rege socialmente o sujeito, que vai ser o mesmo que rege a sua conduta como psicanalista; mas essa ética não é psicanalítica. Por exemplo, Freud apresentou a formação do analista como sendo sustentada pelo tripé: análise pessoal, estudo contínuo da teoria e supervisão. Manter esse tripé diz respeito a uma conduta ética do sujeito para com a prática psicanalítica; mas essa ética ainda não é psicanalítica. Ela está mais relacionada a uma ética deontológica, ou seja, a pertinente aos acordos estabelecidos entre profissionais de uma categoria. A ética profissional do psicanalista é o compromisso permanente que ele precisa ter para com a sua profissão, evidenciado pela sua dedicação ao tripé da formação psicanalítica. Goldenberg (1999), então, explica que a psicanálise pode até revelar as condições para enunciação de uma ética determinada, mas pretender uma ética que seja psicanalítica não passa de um sonho totalitário. Dessa forma, o autor lembra que o próprio Freud disse que não tinha criado uma cosmovisão, com a psicanálise. E mesmo Lacan, quando dedicou um seminário para tratar da ética da psicanálise, não estava elaborando um saber positivo, mas o que estava em jogo era uma pergunta dirigida aos analistas sobre o seu desejo e a sua ação, que, por conseguinte, colocaria em pauta o lugar do psicanalista e a presença da ética na psicanálise. Lima e Paradivine (2011, p. 423) entendem, nesse sentido, que: A posição de onde se articula toda e qualquer intervenção (do psicanalista) deve ser, portanto, contrária a toda pretensão universalizante e totalizante, quer esta tome a forma de regras morais, ou de um saber médico-psicológico que torne a priori a emergência do sujeito um fato de difícil acontecimento. Retomando aqui o conflito vivido por Antígona: entre o poder totalitário (poder positivo) e impositivo do rei, que tinha o direito de exercê-lo por ser rei, e o direito milenar de sepultar dignamente os mortos; em um conflito entre o direito positivo e o direito natural, Antígona não cedeu diante das imposições de um discurso autoritário, que tentava a ele subordiná-la. Assim, a psicanálise também não se subordinou ao saber científico da medicina e da psicologia, nem à religião, e por mais de 120 anos se sustenta como uma ocupação livre e laica, sem conselhos de classe, sem profissão regulamentada; se sustenta pelo seu desejo e se define como uma ética. A psicanálise entende que todo discurso de saber sobre o outro (dando diagnósticos, prescrevendo remédios e explicando o seu funcionamento para que se adapte a um contexto) torna a emergência do sujeito algo de difícil acontecimento. Um psicanalista não deve proferir um saber sobre o outro, mas sim deve sustentar um lugar de não saber, para que o sujeito possa emergir, para que possa surgir no paciente o saber que ele tem sobre si mesmo. Portanto, o único lugar em que podemos situar a ética da psicanálise é no próprio ato do analista, que atua como causa sobre o sujeito. Dito de outro modo, o analista, ao não assumir um lugar de suposto saber, se posicionará de forma a abrir um espaço para que o analisado possa construir seu próprio discurso. Vejamos o que Goldenberg (1999) escreve sobre isso: O psicanalista parte do princípio de que a palavra de seu analisando tem valor absoluto (aprendeu isso, curiosamente, com o louco, o irresponsável por antonomásia, não tanto com o neurótico, sempre prestes a ceder em matéria de palavras). Falou, está falado, não tem discussão, sobretudo o que disse sem pensar. Contudo, caso o analisando resolva que não está mais aqui quem falou, não há nada que o psicanalista (enquanto psicanalista) possa fazer a respeito. O seu dever é confrontar o locutor com a diferença entre o que queria dizer e o que disse, porque às vezes não coincidem e esta diferença pode estar prenhe de consequências [...]. É opção sua, claro, transformar-se em fiscal de vida e milagres de seu paciente, mas terá mudado de discurso, terá deixado de ser seu analista. Dessa forma, a única coisa que pode sustentar a ética da psicanálise é o desejo do analista; e, nesse ponto, já não estamos mais falando do analista como sujeito, mas de uma posição que desvela o desejo inconsciente do analisando. Assim, o desejo do analista é que sustenta o ato analítico, e isso é a própria ética da psicanálise. TEMA 3 – O DESEJO DO ANALISTA O desejo do analista é o operador da ética da psicanálise. Esse termo foi usado por Lacan (2016) no Seminário 6: o desejo e sua interpretação, mais precisamente quando ele contrapõe o desejo, como desejo do outro, ao desejo do psicanalista. Assim, o desejo do analista não é o mesmo que o desejo inconsciente, com origem na história edipiana do sujeito. Quinet (2022), ao discorrer sobre o tema, nos oferece uma descrição do que não seja o desejo do analista: ele a. não é uma formação do inconsciente; b. não é o desejo que se articula ao outro; c. não é um desejo a ser decifrável; d. não é o desejo proibido; e. não é um desejo que se encontre na cadeia significante do sujeito; f. não é um desejo que se encontre no panteão da família; g. não é um desejo vinculado ao sexo. Portanto, o desejo do analista não está ligado à fantasia do suje

Essa pergunta também está no material:

A ética em psicanálise
129 pág.

Metodologia Científica Centro Universitário UNINTERCentro Universitário UNINTER

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