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Pacto ou Testamento, que encerra um contrato entre Deus e Abraão, mediante o qual Abraão fica obrigado, assim como sua posteridade, a ficar sujeito...

Pacto ou Testamento, que encerra um contrato entre Deus e Abraão, mediante o qual Abraão fica obrigado, assim como sua posteridade, a ficar sujeito de maneira peculiar à lei positiva de Deus. Porque à lei moral já estava obrigado antes, através de um juramento de obediência. Embora ainda não seja dado a Deus o nome de rei, nem a Abraão e sua descendência o nome de reino, a coisa é a mesma, a saber, a instituição mediante um pacto da soberania peculiar de Deus sobre a descendência de Abraão. O que na renovação do mesmo pacto por Moisés, no monte Sinai, é expressamente chamado um Reino de Deus peculiar sobre os judeus. E foi de Abrão (não de Moisés) que São Paulo disse (Rom 4,11) que ele é o Pai dos J ic is, quer dizer, dos que são leais e não violam a obediência jurada a Deus, primeiro pela circuncisão, e depois, no novo pacto, pelo batismo. Este pacto, no sopé do monte Sinai, foi renovado por Moisés (Êx 19,5) quando o Senhor ordenou a Moisés que falasse ao povo desta maneira: Se efetivamente obedecerdes a minha voz e respeitardes meu pacto, então sereis um povo peculiar para mim, pois toda a terra me pertence, l í sereis sob mim um reino sacerdotal e uma nação santa. Povo peculiar era, no latim vulgar, peculium de cunctis populis; na tradução inglesa feita no reinado de Jaime, um tesouro peculiar sob mim, acima de todas as nações, e a tradução francesa de Genebra, a jóia mais preciosa de todas as nações. Mas a tradução correta é a primeira, pois é confirmada pelo próprio São Paulo (Ti 2,14), quando diz, aludindo a essa passagem, que nosso abençoado Salvador se deu a si mesmo por nós, com o fim de purificar-nos para si mesmo, como um povo peculiar (isto é, extraordinário). Porque em grego a palavra é periorisios, que geralmente se opõe à palavra epiorisios, e, assim como esta significa vulgar, cotidiano, ou (como na oração do Senhor) de uso diário, assim também a outra significa excedente, e armazenado, e gozado de maneira especial, e é a isso que os latinos chamavam peculium. E este significado da passagem é confirmado pela razão para ela dada por Deus imediatamente a seguir, onde ele acrescenta: Todas as nações do mundo são minhas, mas não é dessa maneira que sois meus, e sim de uma maneira especial. Porque elas são minhas em virtude do meu poder, mas vós sereis meus por vosso próprio consentimento e pacto. O que constitui um acrescento a seu título geral sobre todas as nações. Por outro lado, o mesmo é confirmado nas palavras expressas do mesmo texto: Vós sereis para mim um reino sacerdotal e uma nação santa. O latim vulgar era regnum sacerdotale, com o que concorda a tradução dessa passagem (IPdr 2,9). sacerdotium regale, um sacerdócio real. Com o concorda também a própria instituição pela qual ninguém pode entrar no sanctum sanctorum, quer dizer, ninguém pode dirigir-se diretamente ao próprio Deus, mas só através do sumo sacerdote. A tradução inglesa acima referida, seguindo a de Genebra, refere um reino de sacerdotes, o que ou significa a sucessão de um Sumo Sacerdote após outro, ou então não está de acordo com São Pedro nem com o exercício do sumo sacerdócio. Porque nunca competiu a ninguém a não ser apenas ao Sumo Sacerdote informar o povo da vontade de Deus, nem jamais a qualquer convocação de sacerdotes foi permitido entrar no sanctum sanctorum. Além disso, o título de nação santa confirma o mesmo, porque santo significa aquilo que é de Deus por direito especial, não por direito geral. Conforme se diz nos textos, a terra inteira é de Deus, mas nem toda a terra é chamada santa, sendo-o apenas aquela que é posta de parte para um serviço especial, como era o caso da nação dos judeus. Portanto esta passagem mostra suficientemente que por Reino de Deus se entende propriamente um Estado, instituído (pelo consentimento dos que lhe iriam ficar sujeitos) para seu governo civil e para o controle de seu comportamento, não apenas para com Deus, seu soberano, mas também uns para com os outros em matéria de justiça, e para com as outras nações tanto na paz como na guerra. Ele era propriamente um reino, onde Deus era o rei e o Sumo Sacerdote viria a ser (após a morte de Moisés) seu único vice-rei ou lugar-tenente. Mas há muitas outras passagens que provam claramente o mesmo. Em primeiro lugar (1 Sam 8.7) aquela em que os anciãos de Israel (revoltados com a corrupção dos Filhos de Samuel) pediram um rei, e Samuel mostrou seu desagrado e orou ao Senhor, e o Senhor em resposta lhe disse: Escuta a voz do povo, pois não foi a ti que eles rejeitaram, foi a mim, para que não reine sobre eles. Onde é evidente que o próprio Deus era então seu rei, e que Samuel não comandava o povo, mas apenas a ele comunicava o que de vez em quando Deus lhe ditava. Por outro lado, quando Samuel disse ao povo (1 Sam 12.12): Quando vistes que Nahash, rei dos filhos de Amou, marchava contra vós, haveis-me dito; Não, só um rei deve reinar sobre nós, dado que Deus, nosso Senhor, era vosso rei: fica manifesto que Deus era seu rei, e governava o regime civil de seu Estado. E depois de os Israelitas rejeitarem Deus os profetas predisseram sua restituição (fs 24.23): Então a Lua Jicara confundida, e o Sol ficará envergonhado, quando o Senhor das Hostes reinar no monte Sion e em Jerusalém. Onde se fala expressamente de seu reino em Sion e em Jerusalém, quer dizer, na terra. E também (Miq 4,7): O Senhor reinará sobre eles no monte Sion: este monte Sion é em Jerusalém, na terra. E também (Ez 20,33): Como vivo, disse Deus, nosso Senhor, seguramente com mão poderosa e o braço estendido, e com fúria derramada, governarei sobre vós: e (versículo 37) Far-vos-ei passar sob a vara, e levar-vos-ei até o laço do pado: quer dizer, reinarei sobre vós, e obrigar-vos-ei a respeitar aquele pacto que fizestes comigo através de Moisés, e ao qual haveis quebrado com vossa rebelião contra mim no tempo de Samuel, e em vossa eleição de um outro rei. No Novo Testamento o anjo Gabriel disse de nosso Salvador (Lc 1.32.33): Ele será grande, e será chamado o Filho do Altíssimo, e o Senhor lhe dará trono de seu pai Davi; e ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó e seu reino não mais terá fim. Aqui também se trata de um reino na terra, e foi porque o reclamou que lhe foi dada a morte, como inimigo de César. A insígnia de sua cruz era Jesus de Nazaré. Rei dos Judeus; por escárnio, foi coroado com uma coroa de espinhos; e por sua proclamação diz-se dos discípulos (At 17.7): Isso todos eles fizeram contrariamente aos decretos de César, dizendo que havia um outro rei, chamado Jesus. Portanto, o Reino de Deus é um reino real, não um reino metafórico, e é neste sentido que é tomado, não só no Antigo Testamento como também no Novo. Quando dizemos porque teu é o Reino, o Poder e a Glória, deve entender-se o Reino de Deus pela força de nosso pacto, e não pelo direito do poder de Deus: porque tal reino Deus sempre teve, portanto seria supérfluo dizer em nossas preces venha a nós o teu Reino, se isso não significasse a restauração daquele Reino de Deus pelo Cristo, esse reino que a revolta dos israelitas interrompeu com a eleição de Saul. E também não seria próprio dizer o Reino do Céu está em tua mão, ou rezar venha a nós o teu Reino, se ele tivesse continuado.

Essa pergunta também está no material:

Hobbes - Coleção os Pensadores
444 pág.

Filosofia Faculdade Carlos Drummond de AndradeFaculdade Carlos Drummond de Andrade

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