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Leia os textos a seguir. Texto I - Com que prazer, com que avidez o povo não escuta as histórias inacreditáveis de fantasmas, de espíritos, de alma...

Leia os textos a seguir. Texto I - Com que prazer, com que avidez o povo não escuta as histórias inacreditáveis de fantasmas, de espíritos, de almas do outro mundo, de inferno e outros prodígios do gênero! Quanto mais o narrador se afastar do razoável, mais certeza terá de iludir seus ouvintes e de acariciar seus ouvidos. Não se deve pensar, porém, que essas coisas sirvam apenas para desentediar os que as dizem ou as ouvem; elas têm uma utilidade mais sólida; servem para encher os bolsos dos padres e dos monges. Não há grande diferença entre esses loucos e aqueles que, por uma louca confiança na proteção dos santos, são sempre acalentados pelas mais doces esperanças. Um acredita que mal algum lhe acontecerá na jornada, se tiver a felicidade de ver de manhã uma figura ou uma estátua colossal de São Cristóvão; outro está convencido de que sairá são e salvo de um combate, porque, antes da ação, fez uma pequena reverência à estátua de Santa Bárbara; um terceiro não duvida que logo enriquecerá, porque, em certos dias da semana, nunca deixa de fazer uma visita à figura de Santo Erasmo. Que direi dos que repousam tranquilamente sobre as indulgências, contando de tal maneira com sua eficácia que medem como por um relógio o tempo que devem ficar no purgatório, calculando assim os séculos, os anos, os meses, os dias e as horas com tanta exatidão como se tivessem feito tabelas matemáticas? E daqueles outros que, cheios de confiança, em certos amuletos, em certas preces mágicas que algum devoto impostor terá inventado para seu prazer ou seu proveito, prometem-se nada menos que riquezas, honrarias, prazeres, boa comida, saúde inalterável, longa vida, velhice robusta e, enfim, um lugar no céu, ao lado de Jesus Cristo? Quanto a essa última vantagem, só querem usufruí-la o mais tarde que puderem. Somente quando os prazeres desse mundo os tiverem abandonado e não mais puderem reter um só, é que consentirão em desfrutar as delícias celestes do Paraíso. (Erasmo Desidério. Elogio da loucura. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2006.

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O texto fornecido é um trecho do livro "Elogio da Loucura" de Erasmo de Rotterdam. Ele critica a superstição e a credulidade das pessoas em relação a práticas religiosas e crenças populares. O autor destaca como essas crenças são exploradas por padres, monges e impostores para benefício próprio, levando as pessoas a depositarem sua confiança em amuletos, preces mágicas e indulgências.

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