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As questões levantadas são parte dos desafios às teorias da informalidade e do próprio desenvolvimento. Nos anos 1970, a abordagem de Oliveira sobr...

As questões levantadas são parte dos desafios às teorias da informalidade e do próprio desenvolvimento. Nos anos 1970, a abordagem de Oliveira sobre o trabalho informal trazia a exploração da mão de obra rebaixada para o centro da constituição da acumulação à brasileira. O debate dava formas ao próprio subdesenvolvimento, problematizando interesses de classe, a inserção do país no contexto internacional, a centralidade da desigualdade social nessa constituição e traçando também os contornos dos horizontes do desenvolvimento. Atualmente, países da periferia são o centro da produção material, que, hoje, pode combinar trabalho degradado com inovação tecnológica, não se tratando, portanto, apenas das formas antigas de exploração do trabalho. Políticas de Estado desses países incentivam o fornecimento da mão de obra rebaixada em cadeias transnacionais, como a cooperativa de Quixeramobim que, graças aos incentivos do governo do Ceará, hoje fabrica os tênis Nike. Mas esses países também podem ser a sede de empresas como a Natura, que hoje investe pesadamente em pesquisa e desenvolvimento e se firma no mercado mundial, estendendo sua distribuição e seu exército de revendedoras para a América Latina e a França, além de no Brasil bancar a concorrência com as empresas multinacionais e ser líder de mercado. Brasileiras imigrantes ilegais podem vender os produtos na Europa. Trabalhadoras na França podem se tornar revendedoras da empresa brasileira. Paralelamente, as trabalhadoras consumidoras brasileiras hoje também são parte da “nova classe C”, formada nos anos do governo Lula. A revista The Economist celebrava em 2009 que o “país do futuro” havia começado a “cumprir suas promessas”. A marca Natura, aqui, foi analisada no mesmo sentido, pela imagem do “Brasil que dá certo”, combinando tropicalidade com modernização. Dentre seu mais de um milhão de revendedoras informais, encontro a consultora de classe alta que resume o imbróglio, dizendo que “a empresa é um exemplo de brasilidade”. O que isso quer dizer hoje? Aumento exponencial do consumo dos mais pobres e do lucro das empresas; uma definição governamental de “classe média” que inclui os que em sua maioria têm rendimento inferior a um salário mínimo; empresas brasileiras que se tornam multinacionais; expansão do setor privado altamente financeirizado de educação, saúde, moradia; geração de empregos, mas com remuneração inferior a 1,5 SM são alguns dos elementos que hoje formam esse intricado “exemplo de brasilidade”. A brasilidade também consistiria nas formas pouco reconhecidas mas explícitas de intensificação do trabalho e de extensão do tempo de trabalho? Como a consultora citada do site Reclame Aqui, o trabalhador – de diversos níveis e qualificações – sabe do que se trata. Da perspectiva aqui proposta, não se pode perder de vista que o trabalho informal se atualiza e permanece como elemento central para o reconhecimento dos elos contemporâneos entre exploração do trabalho, acumulação e desenvolvimento. Por fim, numa perspectiva geral, a discussão sobre a queda tendencial da taxa de lucro e suas contratendências percorreu toda a análise. Estudei o trabalho das revendedoras com base no reconhecimento das contratendências que estão em ato. Esse ângulo de visão possibilitou não só a contraposição às teorias da perda de centralidade do trabalho como também a formulação de um pensamento sobre a valorização real bem-sucedida em “espremer mais trabalho” e transferir custos da produção para o trabalhador. A relação entre capital e trabalho estruturou, portanto, a investigação de uma ocupação que pode nem mesmo ter a forma trabalho reconhecida. Finalmente, a análise toda é costurada por uma ausência: a do reconhecimento das formas de resistência que historicamente definem os limites da relação entre capital e trabalho. Se a relação entre capital e trabalho se tornou de difícil reconhecimento, também ficam obscurecidas as formas de resistência frente à exploração. No caso das revendedoras, o que parece “perfumaria” na realidade são evidências dos desafios políticos dos trabalhadores e da teoria em face das constituições contemporâneas da exploração.

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Sem maquiagem - Ludmila Costhek Abilio
516 pág.

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