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Silva, um dos principais obstáculos a ser vencido é a necessidade de conseguir “se adaptar ao tempo do ensino a distância” (Aluno Jorge da Silva). ...

Silva, um dos principais obstáculos a ser vencido é a necessidade de conseguir “se adaptar ao tempo do ensino a distância” (Aluno Jorge da Silva). O desafio para Antônio Carlos é “organizar melhor seu tempo e a sua rotina de acesso ao moodle”, em função do seu trabalho, música na noite na cidade de Rio Branco-AC. Ele relata que “todas as coisas que tem que fazer”, no seu caso, ainda “é muito esporádico e indefinido” por ter que conciliar com a sua demanda familiar. Apesar de ser um profissional autônomo, ele possui os lugares fixos para tocar durante a semana. Com seus compromissos agendados, normalmente à noite, durante o dia, o aluno lida com imprevistos. Por isso, reforça que seu tempo é “inusitado”, uma vez que pode estar aqui e depois estar em outro lugar. Antônio Carlos conta uma passagem de sua rotina: “Igual ao que aconteceu ontem, eu estava estudando, aí eu tive que ir até a prefeitura pegar uma nota que eu precisava para tocar na noite. Assim, eu já cortei minha manhã de estudo”. Antônio Carlos precisa resolver suas demandas familiares como um apoio a sua esposa: “eu estava estudando, mas tive que comprar uma carne que faltava para o almoço. Como nós temos um bebê, a combinação é que minha esposa cuide o tempo todo dele, e os deslocamentos na rua ficam por minha conta”. O depoimento de Antônio Carlos mostra a dificuldade em estabelecer o espaço da casa, como espaço de estudo constante e gerenciar o seu tempo, que ele denomina como “indefinido”. Mesmo que ele procure estabelecer o turno da manhã para os estudos como: ler partitura e executar os estudos do violão, sem entrar no moodle, o seu foco é interrompido para atender as demandas familiares cotidianas. O fato de ter que “entrar e sair sempre para ver o que tem que ser feito nos fóruns”, para o aluno Antônio Carlos, “desvirtua a atenção e o foco dos estudos”. Por isso, ele prefere separar em três blocos: o estudo do violão, a execução das tarefas e, em um terceiro momento, Antônio Carlos deixa reservado para postar suas mensagens nos fóruns de discussão das disciplinas, uma vez que aprendeu que “tem que participar dele todos os dias. É como você dar bom dia e boa noite. Você tem que participar dele [do fórum], todos os dias. Você todo dia tem que levantar e ver o que tem postado”. Além das demandas do trabalho e da família, Antônio Carlos descreve algumas demandas das disciplinas que interferem na organização do seu tempo e do seu planejamento, como os trabalhos a serem desenvolvidos que possuem um campo de estudo. Para atender uma tarefa sobre Arte, ele teve que selecionar um ponto cultural da cidade de Rio Branco-AC para falar. Essas tarefas exigiram o deslocamento e, com essas saídas, “o tempo acaba escoando” e “preenchendo o tempo disponível”. São essas quebras temporais que impedem a permanência contínua no computador e a organização de um planejamento para atender suas demandas semanais, configurando assim um tempo “imprevisível” e “indeterminado”; ou seja, o tempo do aluno Antônio Carlos, “muda, oscila bastante” e com isso ele acaba ficando sem tempo para fazer suas atividades (Aluno virtual Antônio Carlos). Os entrevistados destacam que os obstáculos e as dificuldades estão vinculados, principalmente, à quebra do tempo para se dedicar aos estudos. Como tem que lidar com demandas imprevisíveis em seu cotidiano, no caso do aluno Antônio Carlos, seria importante estabelecer limites e dividir mais suas tarefas familiares, e na medida do possível, reduzir a sua carga horária de trabalho, selecionando alguns lugares antigos para tocar, e nesse momento de formação, deixar outros locais. Além disso, os ajustes, as adaptações e as reconfigurações familiares dos alunos envolvidos com o curso a distância reforçam que é preciso estar atento para o tempo que eles dedicam ao curso. Esse aspecto é importante, principalmente no que se refere à transposição de foco dos cônjuges para os estudos. Na visão da aluna Aurora, isso “acontece porque os maridos estavam acostumados com a atenção voltada apenas para eles”, já com o fato de ter que lidar com o curso, os maridos, nesse caso, deixam de ter as mulheres “apenas prontas para servir”, e “como o curso exige muito tempo, as atividades são muitas, a atenção acaba mudando de foco”. Por isso, Aurora se sente muito cobrada de ambos os lados e esse conflito gera uma sobrecarga emocional e acadêmica (Aluna virtual Aurora). O fato das alunas terem que trabalhar em casa com a presença dos maridos muda o ciclo do convívio familiar como um todo. Além disso, elas precisam conciliar o trabalho profissional e o trabalho doméstico, o que por um lado, provoca o acúmulo de tantas funções cotidianas. Mesmo que o curso de música a distância permita que elas permaneçam em casa, os conflitos gerados com os esposos não são difíceis de evitar. Sobre as relações que ocorrem na família, Setton (2005) aborda que é na família que se constitui o “espaço de relações identitárias e de identificação afetiva e moral”, ou seja, é na família que se busca “um conforto psicológico”, uma “segurança afetiva”, “o reconhecimento de emoções e dificuldades ao longo da trajetória” (SETTON, 2005, p. 85). No cenário que as alunas entrevistadas se encontram, é necessário também um trabalho, junto aos seus companheiros, de diálogos sobre limites, respeito e compreensão em relação ao tempo disponibilizado ao curso de música a distância. Essa reconfiguração nas atividades cotidianas para poder habitar o espaço virtual revela que as relações dos alunos envolvidos no curso de música a distância se modificam. As pessoas com quem eles convivem alertam que esses agentes produzem significados em um determinado tempo e espaço, o que implica “uma mútua” relação com o cotidiano dos mesmos (HALABAN, 2010, p. 19). Como transformar a casa em um ambiente de trabalho, estudo e sala de aula online Como os entrevistados adaptam e transformam suas residências em um espaço de estudo e sala de aula online? Coordenadores, professores, tutores a distância e os alunos virtuais não se deslocam para um local de trabalho e uma sala de estudo. Halaban (2010) considera esses espaços, como “espaços sociais”, os quais são habitados virtualmente tanto por professores quanto por alunos, além de serem transformados conforme as necessidades de cada sujeito. Assim, o espaço utilizado para que o curso de música a distância aconteça é também a própria casa amar a sua rotina semanal e o seu tempo em casa, que, em sua opinião, é para ficar com a família. Em função dessa rotina, o aluno acaba ficando sem alternativa para poder estudar e fazer as tarefas semanais. Outra dificuldade se refere à transformação da residência em um ambiente de estudo constante. Para Aurora organizar o espaço da casa onde mora para os estudos, não é “uma tarefa fácil”. Mesmo separando um dos quartos para os estudos, “seu refúgio”, no qual possui uma mesa com computador, livros e material impresso de leitura, que ela chama de “escritório”, a aluna não possui privacidade. Aurora divide o espaço de sua casa apenas com o seu marido. Mas, além da atenção que tem que destinar a ele, também tem que administrar o fluxo contínuo de suas relações sociais que, frequentam a sua residência diariamente. A aluna possui dificuldade de estabelecer regras e limites com seu marido, filhos, netos, genros, noras e com seus vizinhos. Apesar de considerar um “problema” ter que lidar com esse afastamento da família e dos amigos, Aurora confessou que, em muitos momentos, quando as pessoas “vinham conversar”, ficava “aérea”, em função da quantidade de coisas que tinha para fazer. Mesmo que fizesse uma pausa, para ficar “escutando suas visitas” e “driblar” seu marido, sua cabeça “não conseguia se desligar da plataforma moodle”. Por isso, ela ficava “contando os minutos para a visita ir embora” e sentia que estava em uma situação tensa, pois, não “tinha como ficar trancada dentro do quarto sem receber as pessoas” e se “afastar de seu esposo”. Como ficava o “tempo todo pensando nas tarefas”, refletia: “como vou conseguir concentrar nos estudos desse jeito?”. Tendo em vista que não pode contar com as “brechas” disponíveis em seu local trabalho, para manter sua rotina de estudos, a aluna encontrava-se “em um mato sem cachorro”. Com o tempo, Aurora procurou ser mais firme

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323 pág.

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