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Como ler livros de história - 257 Você deve ter percebido que estamos diante do mesmo problema apresentado pela história. Não temos como ter certez...

Como ler livros de história - 257 Você deve ter percebido que estamos diante do mesmo problema apresentado pela história. Não temos como ter certeza de que estamos em contato com os fatos - não podemos ter certeza de que sabemos o que está acontecendo agora mais do que podemos ter certeza acerca do que aconteceu no passado. E ainda assim devemos tentar saber, na medida do possível. Se pudéssemos estar em todos os lugares de uma vez, escutar todas as conversas do planeta, olhar dentro do coração de cada pessoa viva, talvez pudéssemos avaliar qual a verdade das atualidades. Sendo humanos, e portanto limitados, somos obrigados a depender dos serviços de repórteres. Repórteres são pessoas que supostamente sabem o que acontece numa pequena área. Eles reportam o que sabem em notícias de jornal, em revistas ou em livros. Aquilo que podemos saber depende deles. Idealmente, um repórter, de qualquer espécie, é um espelho límpido, no qual a realidade é refletida, ou então um vidro através do qual ela brilha. Só que a mente humana não é nem um espelho nem um vidro límpido. Não reflete bem as coisas e, quando a realidade brilha através dela, a mente não a filtra muito bem. Ela separa aquilo que considera irrealidade, inverdade. Não que isso seja errado, claro: um repórter não deveria reportar aquilo que ele acha que é falso. Só que ele pode se enganar. Assim, a coisa mais importante a saber, ao ler quaisquer relatos de atualidades, é quem é seu autor. O que interessa aqui não é tanto ficar conhecendo o próprio repórter, mas conhecer o tipo de mente que ele tem. Existem diversos tipos de filtros-repórteres, e eles se dividem em grupos. Para saber a que tipo de filtro corresponde a mente do nosso repórter, temos de fazer uma série de perguntas a respeito dela. Isso equivale a fazer uma série de perguntas a respeito de qualquer material que trate de atualidades. As questões são: 1. O que o autor pretende provar? 2. Quem ele pretende convencer? 3. O autor pressupõe que você tenha algum conhecimento particular? 4. Ele usa algum linguajar peculiar? 5. Ele sabe mesmo do que está falando? Normalmente, pode-se presumir com segurança que todos os livros sobre atualidades pretendem provar alguma coisa e costuma ser fácil descobrir o que é. O texto da contracapa costuma dizer qual é o principal argumento ou tese desses livros. Se não estiver ali, talvez o autor o explique no prefácio. Tendo perguntado o que o livro pretende provar, é preciso que agora você pergunte quem o autor pretende convencer. Será que o livro se dirige 'aos que estão por dentro' - e será que você faz parte desse grupo? Será que ele se dirige a pequenos grupos de pessoas que podem fazer algo, e logo, a respeito da situação descrita pelo autor? Ou será que é para todo mundo? Se você não faz parte do público a que o livro se dirige, talvez não queira lê-lo. Depois, é preciso descobrir que conhecimento particular ele pressupõe que você possua. A palavra 'conhecimento', aqui é bastante ampla. 'Opinião' ou 'preconceito' poderiam ter sido escolhas melhores. Muitos autores só escrevem para pessoas que concordam com eles. Se você discordar fortemente dos pressupostos de um repórter, talvez não faça outra coisa além de ficar irritado se tentar ler o livro dele. Os pressupostos de um autor, e que ele presume que você compartilhe, podem ser muito difíceis de descobrir. Em The Seventeenth Century Background [A Situação do Século XVII] Basil Willey disse: (...) há uma dificuldade quase insuperável em ter uma consciência crítica dos próprios pressupostos habituais; só é possível enxergar como doutrinas as 'doutrinas percebidas como fatos' após vastos esforços mentais, e normalmente só com a ajuda de um filósofo de primeira linha. Depois, ele sugere que é mais fácil enxergar as 'doutrinas sentidas como fatos' de uma época diferente da nossa, e é isso que ele tenta fazer em seu livro. Ao ler livros sobre nossa própria época, porém, não temos a vantagem da distância. Assim, temos de tentar enxergar através não só do filtro da mente do autor-repórter, mas também da nossa. A próxima coisa a fazer é perguntar se há algum linguajar peculiar que o autor use. Isso é importante sobretudo na leitura de revistas e jornais, mas também vale para todos os livros de história contemporânea. Certas palavras provocam em nós respostas particulares, respostas que talvez não surjam em outros leitores, daqui a cem anos. Um exemplo desse tipo de palavra é 'comunismo' ou 'comunista'. Devemos tentar controlar essas respostas ou ao menos saber quando elas ocorrem. Por fim, é preciso considerar a última das cinco questões, que é provavelmente a mais difícil de responder. Será que o repórter cujo texto você lê conhece mesmo os fatos? Será que ele conhece os pensamentos e as decisões talvez secretos das pessoas sobre quem escreve? Será que ele sabe tudo que deveria saber para poder fazer um relato justo e equilibrado da situação? O que estamos sugerindo, em outras palavras, é que as possíveis inclinações do autor-repórter não são a única coisa a levar em conta. Ouvimos falar muito, ultimamente, a respeito do 'gerenciamento das notícias'; é importante perceber que isso se aplica não somente a nós, do público, mas também aos repórteres que supostamente estão 'por dentro'. Talvez eles não estejam. Com a maior boa vontade do mundo, e com toda a intenção de nos trazer a verdade das coisas, um repórter ainda assim pode estar 'desinformado' em relação a atos secretos, tratados etc. Ele mesmo pode ter consciência disso ou pode não ter. Neste último caso, é claro que a situação é particularmente prejudicial ao leitor. Você há de notar que essas cinco perguntas na realidade não passam de variações das perguntas que, como dissemos, devem ser feitas sobre qualquer livro expositivo. Conhecer o linguajar peculiar de um autor, por exemplo, é o mesmo que chegar a um acordo com ele. Mas, como os livros de atualidades e outros materiais sobre o mundo contemporâneo apresentam problemas específicos para nós, leitores, reformulamos as questões de um modo diferente. Talvez o mais útil seja sintetizar a diferença na forma de um aviso e não na forma de um conjunto de regras para a leitura de livros desse tipo. O aviso é este: Caveat lector - 'Tome cuidado, leitor'. Os leitores não precisam tomar cuidado quando vão ler Aristóteles, Dante ou Shakespeare. Mas o autor de qualquer livro contemporâneo pode ter - ainda que não necessariamente tenha - interesse em ser entendido de determinado modo. Ou, se ele não tem, então suas fontes de informação talvez tenham. É preciso que você saiba qual é esse interesse e o leve em consideração em tudo que ler. UMA NOTA SOBRE OS TEXTOS RESUMIDOS Há outra consequência de nossa distinção básica - a distinção entre ler para obter informações e ler para compreender - que subjaz a tudo que dissemos sobre a leitura. É que às vezes temos de ler para obter informações sobre compreender - para saber como outras pessoas interpretaram os fatos. Vamos tentar explicar o que isso significa. Normalmente, lemos jornais e revistas, e até material publicitário, em busca da informação ali contida. Esses materiais existem em vasta quantidade, tão vasta que ninguém hoje tem tempo de ler mais do que uma pequenina parte deles. A necessidade foi a mãe de um considerável número de invenções nesse campo de leitura. Por exemplo, as revistas de notícias, como a Time e a Newsweek, fazem um trabalho de valor inestimável ao ler as notícias e reduzi-las a seus elementos informativos essenciais. As pessoas que escrevem essas revistas são fundamentalmente leitores que desenvolveram a arte de ler para obter informações num grau muito acima da competência do leitor médio. O mesmo pode ser dito de uma publicação como a revista Reader's Digest (ou Seleções, na edição em português), que pretende apresentar condensadamente muito daquilo que merece nossa atenção em revistas atuais de interesse geral no formato compacto de um único e pequeno volume. Claro que os melhores artigos, assim como os melhores livros, não podem ser condensados sem que algo se perca. Se os ensaios de Montaigne, por exemplo, fossem publicados num periódico

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Leitura Analítica e Ativa
427 pág.

Ingles Ten Escola Colegio Estadual Barao Do Rio BrancoEscola Colegio Estadual Barao Do Rio Branco

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O texto que você forneceu parece ser um trecho de um livro que discute a importância de compreender a forma como os autores de livros de atualidades abordam e apresentam os fatos. Ele destaca a necessidade de questionar o que o autor pretende provar, quem ele pretende convencer, que conhecimento ele pressupõe que o leitor tenha, se ele utiliza linguagem peculiar e se ele realmente conhece os fatos. Além disso, menciona a importância de estar ciente das possíveis inclinações do autor e de considerar a fonte de informação ao ler materiais contemporâneos. A leitura atenta e crítica é essencial para compreender plenamente o conteúdo apresentado.

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