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Quando o ouvinte é capaz de identificar o particular ao qual faz referência o falante? Conforme já explicitado, Strawson pensa que, para que aconte...

Quando o ouvinte é capaz de identificar o particular ao qual faz referência o falante? Conforme já explicitado, Strawson pensa que, para que aconteça a identificação dos particulares por parte do ouvinte, é necessário que o falante use, no seu discurso, expressões demonstrativas ou termos singulares. Estas expressões permitiriam ao falante fazer uma referência identificadora, por um lado, e ao ouvinte identificar e localizar o particular referido no discurso, por outro. Uma vez explicitado, ainda que ‘rapidamente’, o que significa a identificação e a ligação desta com os termos singulares, o próximo passo é pontuar os três sentidos de identificação: a relativa, a demonstrativa e a não-demonstrativa. Na identificação relativa, identificar é saber do que se fala, ainda que o falante e o ouvinte não tenham condições de identificar no mundo o particular de que se fala. Na identificação demonstrativa, identificar é ser capaz de localizar e individualizar o objeto de que se está falando num sistema espaço-temporal público. A tese nuclear postulada por Strawson nos Individuals consiste em que o fundamento último de toda a identificação é uma determinação ostensiva, onde o objeto pode ser localizado pelos atores do discurso por meio dos sentidos. Nessa perspectiva, um caso simples de identificação é dado mediante a expressão dêitica isto. Por exemplo, a pergunta, ‘qual é a montanha mais alta?’, pode ser respondida à medida que se conduz aquele que pergunta até determinada montanha e lhe diz: é esta aqui. Portanto, na identificação demonstrativa o ouvinte tem condições de discriminar e localizar sensivelmente o objeto referido pelo falante no discurso. Nesse âmbito, Strawson frisa que “uma condição suficiente, mas não necessária para a satisfação do requisito completo, é [...] que o ouvinte possa distinguir por meio do olho, do ouvido ou do tato, ou que possa discriminar sensivelmente de outro modo, o particular que se faz referência” (Ibidem, p.22). Entretanto, um objeto também pode ser identificado de um modo não-demonstrativo. Com efeito, tal identificação somente é possível quando for vinculada a uma identificação demonstrativa. Esclarece Strawson a esse respeito: Pois, ainda quando o particular em questão não pode ser identificado demonstrativamente, pode ser identificado mediante uma descrição, que o relacione singularmente com outro particular que pode ser identificado demonstrativamente [...] pois, a identificação não-demonstrativa pode descansar de modo seguro sobre a identificação demonstrativa. Toda descrição identificadora de particulares pode incluir, ultimamente, um elemento demonstrativo (1989, p. 25-26). Desse modo, a identificação não-demonstrativa assenta-se na possibilidade de estarem os objetos assim designados relacionados com outros objetos que possam ser identificados demonstrativamente. Strawson pressupõe ainda, em sua argumentação, que a identificação e localização direta ou indireta dos particulares depende de um “sistema de relações espaciais e temporais no qual cada particular se relaciona singularmente com qualquer outro” (Ibidem, p. 26). Ou seja, neste sistema de relações espaciais e temporais, cada objeto ocupa um lugar no interior deste sistema, de tal modo que este objeto está em uma relação espaço-temporal unívoca com os outros objetos sensíveis. Desse modo, sendo o sistema espaço-temporal unitário, cada objeto sensível pode ser identificado a partir da sua relação espaço-temporal com um objeto diretamente identificável. Nas palavras de Strawson: Todo particular ou tem seu lugar neste sistema, ou é de um tipo cujos membros não podem em geral ser identificados, exceto por referência a particulares de outros tipos que têm seu lugar nele; e todo particular que tem seu lugar no sistema tem um lugar único nele (Ibidem, p.29). 3 PESSOA COMO PARTICULAR DE BASE: IDEM OU IPSEIDADE? Na primeira parte ainda da obra Individuals, Strawson ocupa-se, depois da tematização sobre a identificação e reidentificação de particulares, em discriminar entre os particulares aqueles que são denominados de base, dos quais depende a identificação de todos os outros. Nesse sentido, Strawson define que “ocorrências históricas, objetos materiais, pessoas e suas sombras são todos particulares; enquanto que qualidades e propriedades, números e espécies não o são” (Ricoeur, 1997, p. 19). E, por conseguinte, “as coisas que são ou possuem corpos materiais devem ser os particulares básicos” (Ibidem, p.43). Desse modo, as pessoas compõem juntamente com os corpos materiais os particulares de base. E daí decorre que a identificação e reidentificação de qualquer particular supõem em última instância a referência aos particulares de base. De acordo com esta premissa, Ricoeur constata que “o conceito de pessoa, como o de corpo físico, seria um conceito primitivo, uma vez que não poderíamos remontar além dele sem pressupô-lo no argumento que pretendia derivá-lo de outra coisa” (Ibidem, p.44). Ricoeur salienta dois aspectos importantes no seu primeiro estudo sobre a pessoa que deve ser considerado neste texto: i) que Strawson, tratando a pessoa como particular de base, não acena para a possibilidade da autodesignação da pessoa como sujeito falante, restringindo-se, desse modo, a tratá-la como uma das coisas ou objetos dos quais se fala; ii) e que a autodesignação, temática tratada numa abordagem pragmática, e a referência identificante defendida por Strawson em uma abordagem semântica, não se opõem, pois elas podem se cruzar em duas oportunidades.

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CONCEITO DE PESSOA EM PETER FREDERICK STRAWSON
12 pág.
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