Preâmbulo
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
Preâmbulo, por definição, é a parte preliminar de algum texto, na qual se procura explicar ou justificar o que vem a seguir. É o que introduz o texto. Não é um elemento obrigatório, tampouco essencial para que as constituições produzam efeitos jurídicos; no entanto, verifica-se pelo estudo do direito comparado, ser muito comum, em todo o mundo, a utilização de preâmbulos introdutórios ao texto constitucional. É uma forma de expressão e comunicação do constituinte originário, que sintetiza suas reflexões acerca do Direito e da sociedade naquele dado contexto histórico-político, bem como suas principais motivações e intenções com aquela carta.
Fica claro, portanto, o caráter político do preâmbulo, que resume o projeto de Estado que aquela constituição pretende instituir. No entanto, há certo debate acerca da normatividade dos preâmbulos (esse debate não é visto apenas no Brasil). Questiona-se, de forma prática, qual a relação entre o preâmbulo e os dispositivos constitucionais, que possuem, indiscutivelmente, força jurídico-normativa. Há, sistematicamente, quatro correntes que cuidam desse tema: (i) o preâmbulo é irrelevante do ponto de vista jurídico; (ii) o preâmbulo possui força normativa apenas em âmbito infraconstitucional; (iii) o preâmbulo possui um valor jurídico-constitucional indireto; (iv) o preâmbulo é dotado de valor jurídico-constitucional direto.
O STF já teve a oportunidade de discutir esse tema em algumas ocasiões, das quais se percebe que a jurisprudência da Suprema Corte coaduna-se com a terceira corrente supracitada. O preâmbulo, no entendimento do STF, possui a mesma origem das demais normas constitucionais, o que torna inconsistente as teorias de lhe negar valor jurídico, em respeito ao princípio da unidade da Constituição. Todavia, não lhe confere autonomia normativa. Ele deve ser compreendido apenas como um vetor hermenêutico. Por estar fora do corpo da Constitucional propriamente dito, é apenas uma pauta interpretativa, que pode ser invocada em conjunto com as demais normas constitucionais, a fim de aclarar ou reforçar seu sentido. Desse modo, vale ressaltar, são incabíveis as declarações de inconstitucionalidade por violação direta e exclusiva do preâmbulo (ex: ADIn nº 2076, Rel. Min. carlos Velozo, DJ 08 ago. 2003 – ação que visava a declaração de inconstitucionalidade do termo “sob a proteção de Deus”, que consta no preâmbulo).
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