Historicamente, vigiam, no período colonial brasileiro, as Ordenações Filipinas, legislação portuguesa que, apesar da independência brasileira, em 1822, seguiu sendo aplicada, ressalvada a edição futura de um Código Civil. Após tentativas, com a Proclamação da República, foi o Projeto de Código Civil de Clóvis Beviláqua encaminhado ao Presidente da República que, em 1900, o repassou ao Congresso Nacional, ensejando sua aprovação em 1916.
O Código Civil de 1916 compunha-se por 1.807 artigos, sendo antecedido pelo Decreto-Lei 4.657 (Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro). Estruturalmente, apresentava uma “Parte Geral”, em que relacionava conceitos, categorias e princípios essenciais aplicáveis a todo o direito civil. Em seu bojo, a parte geral tratava de pessoas (titulares de relações jurídicas), dos bens (objeto de relações jurídicas) e dos fatos (forma de exteriorização da relação jurídica). Criadas tais premissas, seguia-se à “Parte Especial”, dividida em quatro livros: Direito de Família, Direito das Coisas, Direito das Obrigações e Direito das Sucessões.
Contudo, tal código, apesar de elogiado pela precisão conceitual e técnica, tornou-se rapidamente ultrapassado diante do individualismo que lhe marcava, o que ensejou diversas tentativas de sua modificação. Não por outro motivo, a própria evolução social ensejou a edição de uma série de leis extravagantes regulamentando relações civis (processo de descodificação). Inclusive, a CRFB/88 dispôs fortemente sobre institutos conceitualmente civilistas, como a família e a propriedade, ensejando o fenômeno da Constitucionalização do Direito Civil (Direito Civil-Constitucional).
Por tal motivo, em 2002 foi aprovado pelo Congresso Nacional a Lei 10.406 - o Código Civil de 2002 (Projeto de Lei 634/75, elaborado por uma comissão de juristas sob a supervisão de Miguel Reale), que atualizou e unificou o direito privado. Estruturalmente, a Lei 10.406 apresenta 2.046 artigos e divide-se, assim como o anterior, em “Parte Geral”, que trata das pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos, e em “Parte Especial”, dividida em cinco livros: Direito das Obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família e Direito das Sucessões.
Essencialmente, o atual código buscou atualizar a técnica jurídica do código anterior, tendo em vista sua incompatibilidade decorrente dos progressos da Ciência Jurídica e descolamento das práticas sociais. Ademais, afastou-se das concepções individualistas que marcavam o diploma anterior para se voltar à orientação social do direito moderno, em consonância com a CRFB/88. Apesar disso, a Lei 10.406 (cujo projeto remonta a 1975), já nasceu, em alguma medida, desatualizado, sendo modificado por leis extravagantes recentes e pela própria evolução Constitucional.
Conforme se verifica, o Direito Civil tem sido objeto de forte interação com a Constituição Federal, ensejando a criação do “Direito Civil-Constitucional” e da “Teoria da Aplicação Direta dos Direitos Fundamentais às Relações Privadas” (Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais). A constitucionalização do Direito Civil, portanto, determina que
Escolha uma:
a.
seja afastada a aplicação dos princípios gerais norteadores da Lei 10.406 às relações privadas, a saber, os princípios da socialidade, da eticidade e da operabilidade.
b.
a CRFB/88 abandona a concepção de mera carta programática, assumindo ela evidente e inafastável caráter normativo, a ser observado nas relações privadas.
c.
a CRFB/88 deve ser interpretada a partir da Lei 10.406, não o oposto, na medida em que, apesar dela dispor sobre institutos civilistas, estes são originados no direito privado.
d.
ao realizar a atividade jurisdicional, poderá o magistrado observar a incidência/eficácia horizontal de direitos fundamentais, não restando vinculado a aplicá-los ou protegê-los.
e.
seja obedecida uma visão unitária do sistema jurídico, passando o Direito Civil a ter como fonte primária a Lei 10.406 e secundária a CRFB/88, seguida por leis especiais.
Ed
há 7 meses
Vamos analisar as alternativas apresentadas em relação à constitucionalização do Direito Civil e à interação com a Constituição Federal de 1988 (CRFB/88): a) seja afastada a aplicação dos princípios gerais norteadores da Lei 10.406 às relações privadas, a saber, os princípios da socialidade, da eticidade e da operabilidade. - Esta alternativa está incorreta, pois a constitucionalização do Direito Civil busca integrar esses princípios nas relações privadas. b) a CRFB/88 abandona a concepção de mera carta programática, assumindo ela evidente e inafastável caráter normativo, a ser observado nas relações privadas. - Esta alternativa está correta, pois a CRFB/88 realmente possui um caráter normativo que deve ser observado nas relações privadas, influenciando o Direito Civil. c) a CRFB/88 deve ser interpretada a partir da Lei 10.406, não o oposto, na medida em que, apesar dela dispor sobre institutos civilistas, estes são originados no direito privado. - Esta alternativa está incorreta, pois a interpretação deve ser feita considerando a CRFB/88 como norma superior. d) ao realizar a atividade jurisdicional, poderá o magistrado observar a incidência/eficácia horizontal de direitos fundamentais, não restando vinculado a aplicá-los ou protegê-los. - Esta alternativa está incorreta, pois o magistrado deve aplicar e proteger os direitos fundamentais. e) seja obedecida uma visão unitária do sistema jurídico, passando o Direito Civil a ter como fonte primária a Lei 10.406 e secundária a CRFB/88, seguida por leis especiais. - Esta alternativa está incorreta, pois a CRFB/88 é a norma superior e deve ser considerada primária. Portanto, a alternativa correta é: b) a CRFB/88 abandona a concepção de mera carta programática, assumindo ela evidente e inafastável caráter normativo, a ser observado nas relações privadas.
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