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Vistos. Trata-se de ação declaratória de nulidade de contrato de cartão de crédito com reserva de margem consignável (RMC), cumulada com pedido de repetição de indébito em dobro e indenização por danos morais. A parte autora alega que jamais contratou cartão de crédito consignado, sendo surpreendida por descontos mensais em seu benefício previdenciário desde 2016. Afirma que acreditava tratar-se de empréstimo consignado tradicional e que jamais foi informada das condições específicas da contratação. Sustenta a ausência de consentimento válido, a violação ao dever de informação e requer a declaração de nulidade do contrato, com devolução em dobro dos valores descontados e indenização por danos morais. A parte ré defende a legalidade da contratação, apresentando contrato datado de 22/07/2021. Alega que houve liberação de R$ 1.335,95 e que o desconto decorre da reserva de margem para pagamento mínimo do cartão de crédito. Requer a improcedência da ação e impugna a gratuidade de justiça. É o relatório.  Fundamento. A controvérsia gira em torno da validade dos descontos efetuados sob a rubrica “empréstimo sobre RMC”, os quais ocorreram em dois períodos distintos: de março de 2016 a maio de 2021, e, posteriormente, a partir de agosto de 2021, conforme demonstrado nos documentos juntados no evento 1 – OUT6. Observa-se um lapso temporal de dois meses sem qualquer desconto (junho e julho de 2021), o que indica a existência de dois contratos distintos ou eventual renovação contratual. O contrato apresentado pela parte ré no evento 17 – CONTR1, OUT3 e OUT4 – não está assinado pelo autor, tampouco há comprovação inequívoca de sua ciência ou anuência quanto à natureza da operação realizada. Além disso, não foram juntados contratos anteriores que justifiquem os descontos praticados no período de 2016 a 2021. A simples apresentação de contrato eletrônico não comprova, por si só, a validade e regularidade da contratação, especialmente quando se trata de consumidor idoso, hipervulnerável e sem conhecimento técnico, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Ademais, inexiste nos autos qualquer documento apto a demonstrar o efetivo repasse do valor contratado ao autor. Embora a parte ré mencione o pagamento de R$ 1.335,95, não há identificação do favorecido – como nome ou CPF – nem foi apresentado extrato bancário que comprove o ingresso do valor na conta do autor. Diante disso, não há prova de que o valor tenha sido efetivamente recebido. Nesse cenário, diante da ausência de contrato válido e da inexistência de prova do repasse dos valores ao autor, impõe-se a declaração de inexistência da dívida, com a consequente restituição em dobro dos valores indevidamente descontados, nos termos do parágrafo único do art. 42 do Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, é firme a jurisprudência das Turmas Recursais deste Estado: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). NEGATIVA DE CONTRATAÇÃO. CONTRATO E AUTORIZAÇÃO DE DESCONTO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO TRAZIDOS PELO BANCO, SEM ASSINATURA DA AUTORA. CONTRATAÇÃO INDEMONSTRADA, ÔNUS QUE COMPETIA À PARTE RÉ, A TEOR DO ART. 373, II, DO CPC E DO QUAL NÃO SE DESINCUMBIU. DESCONTOS INDEVIDOS. DEVOLUÇÃO DOS VALORES, EM DOBRO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71010426526, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: José Vinícius Andrade Jappur, Julgado em: 28-09-2022) No que tange aos danos morais, entendo que restaram configurados. Os descontos efetuados de forma indevida incidiram diretamente sobre proventos de natureza alimentar, comprometendo a subsistência do autor, pessoa idosa e hipervulnerável. A ausência de contrato válido, a inexistência de prova do repasse dos valores contratados e a conduta negligente da instituição financeira extrapolam o mero aborrecimento cotidiano, atingindo a esfera da dignidade do consumidor. Quanto ao valor da indenização, observo que as Turmas Recursais deste Estado têm fixado, em casos análogos, o montante de R$ 3.000,00, quantia que atende aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Ante o exposto, com fulcro no art. 487,I do CPC, opino pela PARCIAL PROCEDÊNCIA para: a) Confirmar a tutela concedida no evento 4;
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Cláudia .B

mês passado

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