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Explique sobre o caso Marbury vs. Madson. Qual sua importância?

Explique sobre o caso Marbury vs. Madson. Qual sua importância?

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Marcio Alle

Caso Marbury x Madison (1803)

 

A necessidade de controlar os atos do governo e do parlamento, tendo em vista a lei maior, a “higher law”, pode ser dectada no mundo moderno a partir de um conflito entre o “common law”, direito aplicado consuetudinariamente pelos juizes e aquele produzido pelo parlamento, na Inglaterra no século XVII. A origem do controle da constitucionalidade das leis, tal como definido por Marshall em 1803, pode ser encontrado há dois séculos, em diversos casos em que Lorde Coke defendeu a supremacia do common law frente ao direito produzido pelo parlamento inglês. Em 1607, no que ficou conhecido como caso Bonham, Coke e os juizes de Warburton e Daniel deixaram de aplicar um ato do parlamento que dava ao presidente e aos censores do College of Physicians poderes de punição, o que os autorizava a julgar em causa própria ([1]). Em célebre passagem, Coke irá fundamentar a sua doutrina do controle dos atos do parlamento em função do common law: “aparece em nossos livros, que em muitos casos, a common law controla os atos do parlamento, e que algumas vezes determina que estes sejam posteriormente cancelados: quando, um ato do parlamento seja contrário ao direito comum e à razão, ou repugnante ou impossível de ser realizado, a common law irá controlá-lo e determinar que este não seja cancelado”.

A doutrina de Coke, no caso Bonnham, ganhou adeptos nos tribunais coloniais americanos, como forma de se contrapor ao poder da metrópole, prevalecendo mais do que na própria Inglaterra, onde o poder do parlamento cresceu após a revolução gloriosa.

Com a revolução americana a prática do “judicial review” ficou adormecida.

A Constituição de 1787 vai recriar a idéia de uma lei superior que deve vincular todos os poderes do estado, inclusive o legislativo, ao estabelecer no seu artigo VI: “Supreme Law of the Land, and the judges in every state shall be bound thereby...”. A partir dessa concepção de supremacia da Constituição a doutrina do “judicial review” se consolidou. Estabeleceu-se a idéia de uma constituição rígida, acima dos poderes do Estado e mesmo das leis produzidas pelo parlamento.

Foi a partir da decisão expressa no caso Marbury vs. Madison, em 1803, pelo Chief Justice Marshall, que a Suprema corte e os juizes passaram a se auto atribuir o poder do judicial review. A importância do caso Marbury vs. Madison está em lei inválida, impondo ao poder legislativo um limite fundado na superioridade dos preceitos constitucionais.

Derrotado pelo Presidente Thomas Jefferson, o então presidente John Adams nomeou diversos de seus correligionários do partido federalista como juizes federais, entre os quais se encontrava Willian Marbury. O próprio Marshall, secretário de Estado de Adams, havia sido nomeado com a aprovação do senado, Chief Justice da Suprema Corte, algum tempo antes. O título de nomeação de Marbury não lhe foi entregue a tempo, sendo sua nomeação suspensa por determinação do novo presidente (Jefferson) ao seu secretário de Estado James Madison. Marbury acionou Madison exigindo informações, num primeiro momento. Não sendo fornecida nenhuma explicação, impetrou uma nova ação, “writ mandamus”, com o objetivo de alcançar a nomeação. O tribunal adiou por dois anos a decisão o que gerou uma forte reação contra os juizes. Finalmente, ao anunciar a decisão da Suprema Corte, Marshall destacou duas questões Jefferson não tinha direito de negar posse a Marbury. Porém a Suprema Corte não poderia conceder o writ mandamus, porque esta competência lhe havia sido atribuída pela seção 13 do Judcial act de 1789 era contrária à Constituição, na medida que alargava as competências originais da Suprema Corte. A corte não poderia utilizar-se de uma atribuição ainda que conferida pelo parlamento, incompatível com a Constituição.  De acordo com a CF de 1787 as competências originárias da suprema corte  são restritas e poderiam ser aumentadas somente por emenda à CF.

Esta decisão abriu um importante precedente seguido pelas demais instâncias do poder judiciário americano, que passaram a também exercer o poder de não aplicar uma lei que esteja em desacordo com a CF, sendo a Suprema Corte a última instância para resolução desse conflito.

Na argumentação de Marshall: “existindo um conflito entre leis hierarquicamente distintas, deve prevalecer a superior, assim, se uma lei estiver em contraposição com a CF; se ambas, lei e CF se aplicam a um caso particular, então a corte deve resolver o caso em conformidade com a lei, não levando em conta a CF; ou em conformidade com a CF não levando em conta a lei; a corte deve dizer qual dessas regras em conflito “governs the case”. Essa é a essência judicial. Se, portanto, as cortes devem respeito à CF, e a CF é superior a qualquer ato ordinário do legislativo, a CF e não esse ato ordinário deve “governs the case” para o qual se aplicam.

Surge assim o que hoje se chama de sistema difuso de controle da constitucionalidade das leis. Difuso por poder ser realizado por todo e qualquer juiz no momento de julgar a questão concreta.    

 

 (Oscar Vilhena Vieira - "STF, Jurisprudência política", ps. 42/45)

 

 

 

Caso Bonham   (1610)

 

O Real Colégio de Médicos tinha poderes, segundo um estatuto do Parlamento, de multar os membros que desrespeitassem suas regras. O Dr. Bonham  foi multado em dez libras, não pagou e foi preso, em 1610. A multa era dividida entre o Colégio e a Coroa. Interpôs ação por detenção injusta perante o Tribunal do Rei, presidido pelo grande jurista Coke. O tribunal deu-lhe ganho de causa, firmando um princípio fundamental: o estatuto que dava poderes desta natureza ao Real Colégio era nulo, porque ninguém pode ser juiz e parte na mesma causa, o que era contrário ao direito comum e à razão natural. O Real Colégio não podia ser o juiz, proferir o julgamento, fazer prender o réu e ter parte na multa. "Assim sendo, se qualquer ato do Parlamento der a alguém o direito de julgar de quaisquer questões que lhe forem apresentadas dentro dos seus domínios, não poderá julgar ação alguma em que seja parte, porque, conforme ficou dito acima, iniquum est aliquem suae rei esse judicem"(trecho da decisão).

 

B. - Rocoe Pound, “Desenvolvimento das garantias constitucionais da liberdade”. Ibrasa ed. São Paulo, 1965.

 

 

 

 

 

 

[1] - - O Real Colégio de Médicos (College of Physicians) tinha poderes, segundo um estatuto do Parlamento, de multar os membros que desrespeitassem suas regras. O Dr. Bonham foi multado em dez libras, não pagou e foi preso, em 1610. A multa era dividida entre o Colégio e a Coroa. Interpôs ação por detenção injusta perante o Tribunal do Rei, presidido pelo grande jurista Coke, do qual participaram os juízes Warburton e Daniel. O tribunal deu-lhe ganho de causa, firmando um princípio fundamental: o estatuto que dava poderes desta natureza ao Real Colégio era nulo, porque ninguém pode ser juiz e parte na mesma causa, o que era contrário ao direito comum e à razão natural. O Real Colégio não podia ser o juiz, proferir o julgamento, fazer prender o réu e ter parte na multa. "Assim sendo, se qualquer ato do Parlamento der a alguém o direito de julgar de quaisquer questões que lhe forem apresentadas dentro dos seus domínios, não poderá julgar ação alguma em que seja parte, porque, conforme ficou dito acima, iniquum est aliquem suae rei esse judicem"(trecho da decisão). - Rocoe Pound, Desenvolvimento das garantias constitucionais da liberdade. Ibrasa ed. São Paulo, 1965.

 

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DLRV Advogados

O caso Marbury vs. Madison é considerado o marco inicial do controle difuso de constitucionalidade exercido pelo Poder Judiciário.

Por meio dessa decisão, a Suprema Corte americana desenvolveu e estruturou a sua competência para exercer o controle de constitucionalidade com base no Artigo III da Constituição.

Tal precedente jurisprudencial americano influenciou diversos ordenamentos jurídicos, inclusive o nosso.

Abaixo, colacionamos um resumo sobre o caso, produzido por Thiago Henrique Boaventura:

"O ano é 1797. Os Estados Unidos eram governados pelo Presidente John Adams. Advogado, graduado em Direito na então pouco prestigiada Universidade de Harvard, Adams, que era vice-presidente de George Washington, acabara de tomar posse como Presidente dos Estados Unidos.

Durante todo o período em que esteve à frente da Casa Branca, Adams, membro do partido Federalista, sofreu severas críticas dos Republicanos, sobretudo no que diz respeito ao posicionamento americano acerca do conflito existente entre França e Inglaterra.

Os Republicanos acreditavam que os EUA possuíam uma dívida história com a França, já que a nação europeia foi de grande valia na guerra de independência americana, por óbvio, contra a mesma Inglaterra. Adams e a maioria esmagadora dos Federalistas discordavam de tal pensamento, o que custou, e muito, para a imagem do então presidente e até mesmo do partido ao qual integrava.

Naquele momento, as eleições para parte das cadeiras no Congresso Americano já aconteciam antes dos pleitos presidenciais. Neste diapasão, servia a primeira como verdadeiro termômetro político para a segunda.

O fato é que os federalistas sofreram uma grande derrota nas eleições de 1800, tendo perdido preciosos 22 assentos na Câmara dos Representantes para o partido Republicano. Nas eleições presidenciais que ocorreriam no mesmo ano, o resultado não seria diferente: Thomas Jefferson, então vice-presidente dos EUA, membro do partido Republicano, vence John Adams, candidato à reeleição pelo partido Federalista.

Diante de sua derrota, e vislumbrando que o partido Federalista perdera espaço no Legislativo e no Executivo, John Adams decide então manter o controle sobre o único poder que lhe restava, o Judiciário.

Para tanto, Adams decide alterar o Judiciary Act de 1789, dobrando o número de juízes federais, e criando outros cargos na magistratura americana, no que ficou conhecido como “Midnight Judges” (parte dos estudiosos apontam que o nome foi dado pelo fato da nomeação ter se dado no “apagar das luzes” do governo Adams, outros entendem que o fato recebeu este título por ter se dado às escuras, escondido). Por fim, o derrotado presidente americano decide nomear John Marshall, seu secretário de Estado, para o relevante cargo de Chief of Justice (em apertada síntese, o equivalente ao presidente do STF no Brasil).

Fundamental para que se entenda a história é destacar que, dentre os magistrados nomeados por Adams, está William Marbury, que assumiria o posto de Juiz de Paz no estado da Colúmbia.

Em 04/03/1801, Thomas Jefferson assume a presidência dos Estados Unidos. Dentre as suas primeiras medidas no cargo, Jefferson nomeia James Madison, que viria a ser o próximo presidente dos EUA, para o ofício de Secretário de Estado. No exercício do cargo, Madison passa a analisar a situação das nomeações dos novos magistrados.

Ao fazê-lo, Madison observa que um número considerável de possíveis magistrados ainda não haviam recebido a carta de nomeação, razão pela qual o ato presidencial não estava completo, sendo, portanto, passível de cancelamento.

O Secretário de Estado não hesitou: cancelou todas as nomeações pendentes, dentre elas, a de William Marbury.

Indignado com a situação, Marbury ajuíza, com fulcro na seção 13 do Judiciary Act, a chamada “writ of mandamus”, uma espécie de mandado de segurança adotado pelo ordenamento jurídico americano, em face do Secretário Madison, na Suprema Corte Americana, assim, o caso passou a ser conhecido como Marbury vs. Madison.

O acima mencionado diploma conferia à Corte máxima americana a competência originária para apreciar mandados ajuizados em face de autoridades federais.

John Marshall, então Chief Justice, ficou encarregado de apreciar a matéria. Além de ser um grande jurista, tendo sido um dos percussores do direito constitucional americano, Marshall era também um habilidoso político.

No uso de tais habilidades, o juiz da Suprema Corte analisa o caso mediante a apreciação de vários pontos, dentre eles, se a Suprema Corte americana teria, de fato, competência para analisar aquela ação.

Aduz Marshall, brilhantemente, em sua decisão, que a Constituição estadunidense teria atribuído à Suprema Corte a competência originária para analisar todas as causas concernentes a embaixadores, outros ministros públicos e os cônsules, bem como as ações em que for parte um Estado. Nas demais causas, teria a Corte competência revisional, em grau de recurso. Nesse sentido, verificava-se um conflito de normas entre a Constituição Americana e a Seção 13 do Judiciary Act. O questionamento que se fazia, por óbvio, era o que deveria prevalecer: a carta magna ou uma lei federal?

Como bem reflete Pedro Lenza [1], “a regra era a de que a lei posterior revogava anterior. Assim, teria a lei revogado o artigo de Constituição que tratava das regras sobre competência originária?”

John Marshall, em sua decisão, se encarrega de pacificar a questão. Argumenta Marshall, em apertada síntese, que, na hierarquia das leis, impera a Constituição dos EUA, estando os tribunais, bem como os demais departamentos, vinculados a ela. Deste modo, toda lei que contrarie a Constituição deveria ser declarada nula.

Assim, decide Marshall, incidentalmente (incidenter tantum), pela inconstitucionalidade da Seção 13 do Judiciary Act, no ponto em que contraria os preceitos da Constituição Americana. Declarou-se a inconstitucionalidade de uma lei, sem a análise do mérito propriamente dito. Percebam que Marshall, ao proferir tal decisão não adentrando no mérito, não profere, em tese, entendimento favorável a nenhum dos dois polos, de modo a não gerar, para ele, conflitos políticos com os dois partidos."

Fonte:

https://thiagobo.jusbrasil.com.br/artigos/451428453/conheca-o-caso-marbury-vs-madison

 

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Isabel Cristina Park

O Caso Marbury contra Madison, decidido em 1803 pela Suprema Corte dos Estados Unidos, é considerado o marco inicial do controle de constitucionalidade exercido pelo Poder Judiciário. Por meio dessa decisão, a Suprema Corte desenvolveu e estruturou a sua competência para exercer o controle de constitucionalidade com base no Artigo III da Constituição Norte-Americana, afastando as leis federais que contrariam a Constituição.

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