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Direitos Fundamentais X Tribunal Penal Internacional, quem prevalece?

O art.5º, inc.LI, CRFB/88, diz que: "Nenhum brasileiro será extraditado, SALVO O NATURALIZADO, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afim, na forma da lei";

O art.5º, inc.XLVII, alínea "b", CRFB/88, diz que: " Não haverá penas:

- de caráter perpétuo";

Sendo assim, NENHUM BRASILEIRO NATO, pode ser extraditado, nem condenado a prisão perpétua.

Mas o mesmo art.5º, §4º, CRFB/88 diz que: " O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional, a cuja criação tenha manifestado adesão."

 

A jurisdição do TPI (Tribunal Penal Internacional), submete-se ao princípio da complementaridade, ou seja, haverá julgamento perante o TPI, em situações excepcionais gravíssimas, em que o Estado Soberano se mostre incapaz de processar os crimes indicados no Estatuto de Roma, como por exemplo, o crime de Terrorismo.

O art.77 do TPI prevê prisão perpetua quando justificada pela "extrema gravidade do crime e as circunstâncias pessoais do condenado" e o art.89, por sua vez, prescreve "a entrega do acusado ao tribunal pelo Estado em cujo território se encontre, SEM ESTABELECER QUALQUER EXCEÇÃO AOS NACIONAIS (EXTRADIÇÃO)".

O Estado deverá entregar (Extraditar) seus próprios cidadãos (naturalizados ou NATOS) se assim determinar o tribunal, porque o art.120, do TPI dispõe expressamente que "não se admitirão reservas ao presente Estatuto".

 

Sendo assim, levando em consideração a nossa Copa de 2014, em um caso hipotético, digamos que exista um Brasileiro Nato, que seja membro da All-Quaeda, e num possível jogo entre EUA x Inglaterra no Maracanã, ele exploda uma bomba dentro da Arena e mate todo mundo, jogadores, torcedores etc.

Isso seria um ato terrorista, mas o nosso homem-bomba, brasileiro nato, não seria julgado pelo crime de terrorismo já que não existe essa previsão no código penal e segundo o art.5º, inc.XXXIX, CRFB/88, "Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal"; sendo assim, ele seria julgado por milhares de homicídios, mas não passaria mais de 30 anos na cadeia, já que esse é o maior tempo que alguém pode ficar preso no Brasil, independentemente da pena aplicada.

Então, no caso de, o TPI exigir a extradição desse brasileiro nato, para que o mesmo seja julgado lá, já que o Brasil é incapaz de julga-lo pelo crime de terrorismo, O QUE FARIA A JUSTIÇA BRASILEIRA?

Extraditaria um Brasileiro Nato, para que ele fosse julgado pelo TPI, podendo ser condenado a uma prisão perpetua e assim ferindo o art.5º, LI, CRFB/88 (não se pode extraditar brasileiro nato); e o art.5º, XLII, "b", CRFB/88 (não haverá prisão perpetua)?

Ou não extraditaria, obedecendo os já citados incisos do art.5o, mas ferindo o próprio art.5º, §4º, da mesma CRFB/88, que diz que o Brasil tem que se submeter ao TPI?

💡 4 Respostas

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Harvey Dents

Taí uma boa pergunta...

Nao sei...

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Carlos Henrique Panhan

Primeiramente há de as fazer a distinção entre ‘extradição’ e ‘entrega’ (remise ou surrender). É fato que nenhum brasileiro nato será extraditado

O próprio Estatuto de Roma, que criou o TPI, faz essa distinção:

 

“Artigo 102

Termos Usados

Para os fins do presente Estatuto:

a) Por ‘entrega’, entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos do presente Estatuto.

b) Por ‘extradição’, entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado

conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno.”

 

Veja o que Fernandes e Lenza, discorrem sobre o assunto:

 

“Por último, temos que tecer comentários sobre a figura da entrega de nacional. Sem dúvida, passamos a ter, com a inserção do TPI em nosso ordenamento a intitulada possibilidade de entrega de nacionais. Esse instituto da entrega (surrender) não guarda relação com o instituto da extradição.

[...]. E o nato como já dito, não poderá ser extraditado em nenhuma hipótese. E no caso da entrega? Ora, conforme o Estatuto de Roma, temos a possibilidade da entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal Penal Internacional. Essa se diferencia, portanto, da extradição (que será oportunamente analisada na obra) e que consiste na entrega de um indivíduo por um Estado a outro Estado nacional que é competente para julgá-lo e puni-lo, conforme previsto em um ‘tratado ou em uma convenção ou no direito interno’.

Portanto, no caso da entrega podemos ter brasileiros, mesmo natos, sendo conduzidos ao TPI. Certo é que, caso exista a concorrência de pedidos (entregas e extradição), a entrega deverá ter preferência sobre a extradição (Estatuto de Roma, art. 90, 2).

É interessante ainda salientar que, no caso da entrega prevista no TPI, não há que se falar no julgamento de um nacional de um Estado por um Estado Estrangeiro mediante a legislação elaborada pelo Estado Estrangeiro (julgamento por uma jurisdição estrangeira), mas sim no julgamento do nacional de um Estado por uma jurisdição internacional à qual o Brasil está adstrito, mediante adesão voluntária (conforme citado acima). Assim sendo, a RFB também é parte integrante (Estado-Parte) dessa jurisdição Internacional.” (FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013, p. 463-464)

 

 

“Outrossim, a distinção que deve ser feita entre extradição e a entrega (surrender) ao TPI.

Em nosso entender, existiriam, basicamente, 3 jurisdições: a) a brasileira, cujos órgãos estão previstos no art. 92; b) a do TPI em relação à qual o Brasil a ela se submete; c) e a de Tribunais Estrangeiros, cujas decisões deverão passar por um processo de homologação da sentença, já que estrangeira, e concessão de exequatur às cartas rogatórias.

Esse processo de homologação não deverá ser observado em relação às decisões do TPI, porque o Brasil a elas se submete. Ainda, a entrega de brasileiro ou estrangeiro para o TPI não seguirá o mesmo procedimento da extradição, pois a entrega será para julgamento em Tribunal a cuja jurisdição o Brasil se submete.” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1009)

O Brasil não somente aderiu ao Estatuto, como expressamente inscreveu a aceitação da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, por meio da Emenda Constitucional n.º 45/2004, no § 4.º do art. 5.º da Constituição. Qando o art. 89 do Estatuto de Roma regula a “entrega de indivíduos ao tribunal”, aí não está incluída a garantia de extradição de brasileiro a outro Estado, vedada pelo inciso LI do art. 5.º da CF. O Estatuto do tribunal não trata de extradição, mas de entrega, que se daria não a Estado estrangeiro, mas a tribunal internacional ao qual o Brasil aderiu. Assim, a “entrega” de cidadãos brasileiros (Inclusive brasileiros natos) ao TPI é perfeitamente possível, e, sem isso, seria inoperante a aceitação manifesta do Estatuto, que se traduz em “obrigação de cooperar”, conforme disposto no art. 86. */

 

Não está errado usar a expressão ‘entrega’, quando falar em extradição. Tanto que o próprio STF já fez uso do termo ‘entrega’ em referencia à extradição. De fato, quando se extradita, obviamente se entrega o sujeito ao outro Estado. No entanto, ultimamente tem sido objeto de cobrança em concursos um conceito mais técnico da palavra ‘entrega’. Enquanto a extradição seria o envio do sujeito para outro Estado soberano, a entrega seria o envio do sujeito a um tribunal do qual o Estado que entrega participa. Como no caso o TPI

 

Relevância prática: um nacional não pode ser extraditado, mas pode ser entregue ao TPI

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Tiago Figueiredo

Cachanga Real!

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