Primeiramente, é preciso destacar que a teoria dos princípios desenvolvida por Dworkin, Alexy e Ávila refere-se aos princípios em geral, e não somente aos princípios do direito administrativo.
Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto explicam a visão desses autores de forma bastante esclarecedora. Vejamos.
“Segundo Ronald Dworking, os princípios (em sentido amplo) dividem-se em duas espécies: princípios em sentido estrito e diretrizes políticas (policies). Os primeiros são relacionados aos direitos, e devem ser observados ‘não porque isto vá promover ou garantir alguma situação econômica, política ou social considerada desejável, mas porque se trata de uma exigência de justiça, de equidade ou de alguma outra dimensão da moralidade’. Já as segundas são ‘standards que estabelecem um objetivo a ser alcançado, geralmente a melhoria de algum aspecto econômico, político ou social da comunidade’. Fiel ao ideário liberal, Dworking atribui primazia absoluta aos princípios em sentido estrito em relação às diretrizes políticas, afirmando que, em hipóteses de conflito, os primeiros devem sempre prevalecer.”
“Para Alexy, os princípios são mandados de otimização, que devem ser cumpridos na maior medida possível, dentro das possibilidades fáticas e jurídicas de cada caso. Eles comportam, portanto, o cumprimento em graus diferentes, que dependem não só das possibilidades reais, presentes no plano fático, como também das possibilidades jurídicas, relacionadas a possíveis colisões com princípios contrapostos. (...) os princípios são comandos prima facie, e não mandamentos definitivos, pois, mesmo quando válidos e incidentes sobre determinado caso, podem ter de ceder na sua solução, total ou parcialmente, em razão de colisão com outros princípios que apontem em direção contrária. Nesses casos, deve-se recorrer a uma ponderação entre os princípios, pautada pelos critérios da proporcionalidade.”
“Ávila sustenta que os princípios são imediatamente finalísticos, na medida em que estabelecem um ‘estado ideal de coisas a ser atingido’ enquanto as regras são imediatamente prescritivas, uma vez que preveem condutas que devem ser observadas. É verdade, diz o autor, que, indiretamente, as regras também visam à realização dos fins que lhes são subjacentes; e que, dos princípios, é possível inferir deveres de conduta, no sentido da adoção dos comportamentos necessários ao atingimento das finalidades perseguidas. Porém, apesar de ambas as espécies normativas ligarem-se tanto a fins quanto a condutas, a distinção se mantém. No que concerne aos princípios, a relação com os fins é direta e com as condutas indireta; enquanto para regras dá-se exatamente o inverso. (...) Finalmente, Humberto Áviladistingue as regras dos princípios, afirmando que aquelas tem a pretensão de definir, de forma exclusiva, a solução para as hipóteses sobre as quais incidem, com o afastamento de outras razões e considerações. Ele designa esta característica como ‘pretensão de decidibilidade e abrangência das regras’. Já os princípios não possuem o mesmo traço, pois visam apenas a contribuir para a adoção da solução adequada para o caso. Eles possuem, nas suas palavras, ‘pretensão de complementaridade e parcialidade’.”
(Direito Constitucional – Teoria, história e métodos de trabalho. 2ª ed. pgs 383-387)
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