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Explique os conceitos de atitude blasé e invisibilidade social.

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Milene Alves

Blasé (ou blasée, na sua forma feminina) é um adjetivo do idioma francês, que classifica a atitude de uma pessoa céticaapática ou indiferente.

Esta palavra é a forma verbal no particípio passado do verbo em francês blaser, que indica o ato de tornar insensível ou indiferente. Este verbo deriva do verbo blasen do idioma holandês, que significa "encher" ou "soprar".

Uma pessoa blasé pode ter esta atitude porque os seus sentidos foram enfraquecidos por excessos. Também é classificada como uma característica de uma pessoa que permanece alheia ou distante de um assunto quando na verdade deveria mostrar atenção. Ex: Os professores estavam desapontados com ele porque nas aulas ele sempre tinha uma atitude blasé.

Um indivíduo pode revelar uma atitude blasé por tédio, cansaço ou por ser esnobe.

Relativamente à pronúncia desta palavra, apesar de se escrever blasé, ela é pronunciada como "blasê", algo que acontece com muitas outras palavras em francês.

É bastante comum uma pessoa com ar blasé ser categorizada como arrogante, porque não mostra interesse pelas coisas ao seu redor e parece não se importar com a opinião e interesses dos outros.

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LR

Georg Simmel, sociólogo alemão do século XIX, ocupou-se dos estudos a respeito dos processos de socialização, ou seja, dos elementos que constituem a vida social, sendo eles: 1) Aspecto quantitativo (diz respeito ao tamanho e a complexidade da sociedade em questão); 2) Dominação e subordinação; 3) Conflito; 4) Pobreza; 5) Individualidade. No campo da sociologia urbana, mais especificamente em texto intitulado A metrópole e a Vida Mental, Simmel caracteriza a atitude blasé da seguinte forma: “A atitude blasé resulta em primeiro lugar dos estímulos contrastantes que, em rápidas mudanças e compreensão concentrada, são impostos aos nervos. Disto também parece orginalmente jorrar a intensificação da intelectualidade metropolitana. Portanto, as pessoas estúpidas, que não têm existência intelectual, não são exatamente blasé.” (SIMMEL, 1987: 16). A atitude blasé conecta-se com a valorização do prazer em detrimento do crescimento intelectual: “Uma vida em perseguição desregrada ao prazer torna uma pessoa blasé porque agita os nervos até seu ponto mais forte de reatividade por um tempo tão longo que eles finalmente cessam completamente de reagir. Dessa forma, através da rapidez e contraditoriedade de suas mudanças, impressões menos ofensivas forçam reações tão violentas, estirando os nervos brutalmente em uma e outra direção, que suas ultimas reservas são gastas; e, se a pessoa permanece no mesmo meio, eles não dispõem de tempo para recuperar a força. Surge assim a incapacidade de reagir a novas sensações com a energia apropriada. Isso constitui aquela atitude blasé que, na verdade, toda criança metropolitana  demonstra quando compara com crianças de meios mais tranquilos e menos sujeitos a mudanças.” (SIMMEL, 1973: 16).

A atitude blasé também vincula-se a ações de discriminação econômica mediante a normalização das diferenças, o que significa dizer que a atitude blasé é aquela que trata com indiferença todas as condições humanas que não dizem respeito ao indivíduo que observa, trata com indiferença, por exemplo, situações comuns da miséria urbana: “Essa fonte fisiol6gica da atitude blasé metropolitana e acrescida de outra fonte que flui da economia do dinheiro. A essência da atitude blasé consiste no embotamento do poder de discriminar. Isto não significa que os objetos não sejam percebidos, como e o caso dos débeis mentais, mas antes que o significado e valores diferenciais das coisas, e dai as próprias coisas, são experimentados como destituídos de substancia. Elas aparecem à pessoa blasé num tom uniformemente plano e fosco; objeto algum merece preferencia sobre outro. Esse estado de animo é o fiel reflexo subjetivo da economia do dinheiro completamente interiorizada. Sendo o equivalente a todas as múltiplas coisas de uma e mesma forma, o dinheiro torna-se o mais assustador dos niveladores. Pois expressa todas as diferenças qualitativas das coisas em termos de ‘quanto?’. 0 dinheiro, com toda sua ausência de cor e indiferença, torna-se o denominador comum de todos os valores; arranca irreparavelmente a essência das coisas, sua individualidade, seu valor especifico e sua incomparabilidade. Todas as coisas flutuam com igual gravidade especifica na corrente constantemente em movimento do dinheiro. Todas as coisas jazem no mesmo nível e diferem umas das outras apenas quanta ao tamanho da área que cobrem. No caso individual, esta coloração, ou antes descoloração, das coisas através de sua equivalência em dinheiro pode ser diminuta ao ponto da imperceptibilidade. Entretanto, através das relações das riquezas com os objetos a serem obtidos em troca de dinheiro, talvez mesmo através do caráter total que a mentalidade do publico contemporâneo em toda parte imprime a tais objetos, a avaliação exclusivamente pecuniária de objetos se tornou bastante considerável. As grandes cidades, principais sedes do intercâmbio monetário, acentuam a capacidade que as coisas têm de poderem ser adquiridas muito mais notavelmente do que as localidades menores. É por isso que as grandes cidades também constituem a localização (genuína) da atitude blasé. Com a atitude blasé a concentração de homens e coisas estimula o sistema nervoso do individuo até seu mais alto ponto de realização, de modo que ele atinge seu ápice. Através da mera intensificação quantitativa dos mesmos fatores condicionantes, essa realização é transformada em seu contrario e aparece sob a adaptação peculiar da atitude blasé. Nesse fen6meno, os nervos encontram na recusa a reagir a seus estímulos a ultima possibilidade de acomodar-se ao conteúdo e a forma da vida metropolitana. A autopreservação de certas personalidades e comprada ao preço da desvalorização de todo o mundo objetivo, uma desvalorização que, no final, arrasta inevitavelmente a personalidade da própria pessoa para uma sensação de igual inutilidade.” (SIMMEL, 1973: 16-17).

O conceito de invisibilidade social é análogo ao conceito de atitude blasé. O professor Fernando Braga da Costa, compreende que o significado de invisibilidade social (ou invisibilidade pública) trata-se de uma “espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens” (COSTA, 2008), cuja a chave de acesso a essa situação é o contexto de “humilhação social e reificação” (COSTA, 2008). Em sua pesquisa a respeito dos catadores de lixo urbano (garis), Costa faz a seguinte consideração: “Bater o ponto, vestir o uniforme, executar trabalhos essencialmente simples (como varrer ruas, cortar mato, retirar o barro que se acumula às guias), estar sujeito a repressões mesmo sem motivo, transportar-se diariamente em cima da caçamba de caminhonetes ou caminhões em meio às ferramentas ou lixo, são as tarefas delineadoras do trabalho desses homens [os garis]. Tarefas nas quais pudemos reconhecer ingredientes psicológicos e sociais profunda e fortemente reservadas a uma classe de homens proletarizados; homens que se tornam historicamente condenados ao rebaixamento social e político.” (COSTA, 2008). Gonçalves Filho complexifica o conceito dizendo que “Invisibilidade pública é expressão que resume diversas manifestações de sofrimento político: A humilhação social, um sofrimento longamente aturado e ruminado por gente das classes pobres. Um sofrimento que, no caso brasileiro e várias gerações atrás, começou por golpes de espoliação e servidão que caíram pesados sobre nativos e africanos, depois sobre imigrantes baixo-salariados: a violação da terra, a perda de bens, a ofensa contra crenças, ritos e festas, o trabalho forçado, a dominação nos engenhos ou depois nas fazendas e nas fábricas.” (GONÇALVES, 2004: 22).

“Trata-se, portanto, de uma forma de violência simbólica e material que vem oprimir cidadãos das classes pobres, na cidade e no campo. É um fenômeno que, por essa razão, não pode ser suficiente e certeiramente investigado à distância do oprimido, à distância de quem vive por dentro sua ação corrosiva.” (COSTA, 2008).

“A invisibilidade pública – construção social e psíquica – tem a força de ressecar expressões corporais e simbólicas dos humanos então apagados. Pode abafas a voz e abaixar o olhar. Pode endurecer o corpo e seus movimentos. Pode emudecer os sentimentos e fazer fraquejar a memória. Faz esmorecer – em todos estes níveis – o poder de aparição de alguém.” (COSTA, 2008).

“A invisibilidade pública é fundada e mantida por motivações sociais e psicológicas, por antagonismos de classe mais ou menos conscientes, mais ou menos inconscientes.” (COSTA, 2008).

“O olhar personalizante, olhar de reconhecimento interpessoal, perde espaço para o olhar humilhante, olhar objetivante, olhar reificado e reificante. A invisibilidade pública é cegueira psicossocial, parece ser tanto mais automatizada quanto menor for o sentimento de comunidade que o cego tenha com o indivíduo que não foi visto. Parece haver mais consciência do cego sobre sua cegueira quanto maior for o grau de comunidade em que ele possa ingressar com quem ficou apagado.” (GONÇALVES, 2004: 22).

Referências bibliográficas:

SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In VELHO, Otávio Guilherme. O fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973).

GONÇALVES FILHO, José Moura. A invisibilidade pública. In COSTA, F. B. Homens Invisíveis: relatos de uma humilhação social. São Paulo: Globo, 2004.

COSTA, Fernando Braga da. Moisés e Nilce: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante e entrevistas. São Paulo: USP, 2008 [Tese de doutorado, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo].

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