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A fazenda pública revel, sofre os efeitos da revelia?

Os efeitos da revelia são aplicáveis a fazenda pública?

💡 2 Respostas

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leandro pereira

O que acontece se o réu é citado, em uma ação que tramita no procedimento ordinário, mas não apresenta contestação?

Nesse caso, ocorre a revelia.

 

Quais são os efeitos que decorrem da revelia?

Verificada a revelia, em regra, ocorrem três efeitos:

a) Os fatos alegados pelo autor são reputados como verdadeiros

(efeito material

da revelia)

Art. 319.  Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor.

 

Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente:

I – se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;

II – se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;

III – se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que a lei considere indispensável à prova do ato.

(obs: há outras exceções ao art. 319 fora os casos do art. 320).

b) O réu revel não é mais intimado dos atos processuais.

Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos independentemente de intimação, a partir da publicação de cada ato decisório.

 

Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.

c) Haverá o julgamento antecipado da lide.

Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença:

 

II – quando ocorrer a revelia (art. 319).

 

Esses efeitos são obrigatórios? Sempre que ocorrer a revelia, haverá esses efeitos?

NÃO. Tais efeitos ocorrem como regra, mas nem sempre. É possível, inclusive, que haja revelia sem a verificação de nenhum desses três efeitos. Ex: se o réu revel possuir advogado constituído nos autos e a matéria versar sobre direitos indisponíveis.

Ademais, o fato de o réu ter sido revel não significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor.

 

Se a Fazenda Pública for ré e não apresentar contestação, haverá revelia?

SIM, considerando que a revelia é a ausência jurídica de contestação.

 

Os efeitos da revelia, em especial a presunção de veracidade dos fatos alegados, irão ocorrer contra a Fazenda Pública quando ela for revel?

A doutrina e a jurisprudência sempre afirmaram que não. O principal argumento invocado é o de que direitos e interesses defendidos pela Fazenda Pública em juízo são indisponíveis. Logo, enquadra-se na exceção prevista no art. 320, II, do CPC.

 

No entanto, indaga-se: os direitos defendidos pela Fazenda Pública em juízo são sempre indisponíveis?

NÃO. Foi o que entendeu a 4ª Turma do STJ. Nos casos em que a Administração Pública litiga em torno de obrigações tipicamente privadas (como é o caso de contrato de locação), não há de se falar em “direitos indisponíveis”, de modo a incidir a contenção legal dos efeitos da revelia prevista no art. 320, II, do CPC.

Em outras palavras, se for identificado, no caso concreto, que a demanda envolvendo a Fazenda Pública diz respeito a direitos disponíveis, será possível aplicar o efeito material da revelia, ou seja, haverá presunção de que os fatos alegados pelo autor contra o Poder Público são verdadeiros.

 

E qual é o critério para que se defina que o direito defendido pela Fazenda Pública em juízo será considerado indisponível?

O direito defendido pela Fazenda Pública em juízo somente será considerado indisponível quando refira-se ao interesse público primário; ao revés, se estiver relacionado apenas com o interesse público secundário, há de ser reputado disponível. Na doutrina, um dos poucos a tratar do tema é Marinoni e Mitidiero:

“Direito indisponível é aquele que não se pode renunciar ou alienar. Os direitos da personalidade (art. 11, CPC) e aqueles ligados ao estado da pessoa são indisponíveis. O direito da Fazenda Pública, quando arrimado em interesse público primário, também o é. O direito da Fazenda Pública com esteio no interesse público secundário não é indisponível.” (Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 326).

 

Caso concreto julgado pelo STJ:

Determinada empresa celebrou contrato de leasing com o Município “X” por meio do qual alugava máquinas fotocopiadoras.

Ocorre que o Poder Público passou a não mais pagar o valor do aluguel, razão pela qual a empresa rescindiu o contrato e ajuizou ação de cobrança.

O Município foi devidamente citado, mas não apresentou contestação.

Foi decretada a revelia e o magistrado julgou antecipadamente a lide (art. 330, II, do CPC).

 

Segundo restou consignado na decisão, a Administração Pública celebra não só contratos regidos pelo direito público (contratos administrativos), mas também contratos de direito privado em que não se faz presente a superioridade do Poder Público frente ao particular (contratos da administração), embora em ambos o móvel da contratação seja o interesse público. A supremacia do interesse público ou sua indisponibilidade não justifica que a Administração não cumpra suas obrigações contratuais e, quando judicializadas, não conteste a ação sem que lhe sejam atribuídos os ônus ordinários de sua inércia, não sendo possível afastar os efeitos materiais da revelia sempre que estiver em debate contrato regido predominantemente pelo direito privado, situação na qual a Administração ocupa o mesmo degrau do outro contratante, sob pena de se permitir que a superioridade no âmbito processual acabe por desnaturar a própria relação jurídica contratual firmada.

(Quarta Turma. REsp 1.084.745-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/11/2012)

 

Cuidado:

Nas provas, pode ser cobrada a seguinte afirmação genérica:

Não se aplica à Fazenda Pública o efeito material da revelia – presunção de veracidade dos fatos narrados pelo autor – pois seus bens e direitos são considerados indisponíveis.

Essa afirmação deve ser assinalada como correta.

Se o precedente acima explicado for cobrado em uma prova, a questão irá fazer expressamente a distinção entre direitos disponíveis e indisponíveis. Se não o fizer, significa que ele está querendo indagar sobre a regra geral, ou seja, a de que a Fazenda Pública não está sujeita à confissão ficta (um dos efeitos da revelia).

 

Algumas provas têm cobrado a distinção entre revelia formal e revelia substancial

Revelia formal: é a que estudamos acima e ocorre quando o réu não apresenta a contestação ou quando a apresenta intempestivamente. É a ausência jurídica de contestação.

Revelia substancial (ou material): verifica-se quando o réu apresenta contestação tempestiva, mas não realiza a impugnação específica dos fatos alegados,

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rui salles

Os atos administrativos gozam de presunção de veracidade, legitimidade e legalidade, por isso, a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em demanda proposta contra a fazenda pública não se lhe aplica. Uma presunção de veracidade não pode elidir a outra. Somente as provas podem elidir a presunção de veracidade, legalidade e legitimidade, logo, em determinadas demandas, será necessária a instrução probatória.

 

 

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