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Se um atirador de facas, ele está fazendo a apresentação e sem querer atinge a ela acaba mg de trab e ela morre. é dolo eventual ou culpa consciente

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Alexandre Fortes

É um caso de culpa consciente.

No direito penal, há uma gradação do elemento volitivo do agente.

O primeiro grau é o da chamada culpa simples, na qual o agente não representa, para si, qualquer possibilidade de superviniência do resultado que efetivamente acontece. O agente não admite, para si, que, da sua conduta, possa emergir qualquer dano a um bem tutelado pela lei penal.

Na hipótese desse atirador de facas, seria o caso dele não admitir, de modo algum, para si mesmo, que ele pudesse errar no manejo das facas e atingir alguém da plateia. Ele não admite para si o resultado.

Depois vem a culpa consciente, na qual o agente prevê a possibilidade da superveniência do resultado, mas o rejeita, ou seja, ele acredita que aquele resultado previsto (dano a um bem tutelado pelo direito penal) não ocorrerá.

No caso desse atirador de facas, ele imagina a hipótese de ferir alguém da plateia se errar as manobras com as facas, mas rejeita o resultado, por acreditar que ele não ocorrerá.

No caso da sua questão, é esse o caso.

Seguindo na gradação do elemento volitivo, teríamos o dolo eventual, onde o agente prevê o resultado danoso, e não o rejeita, assume o risco de atingi-lo. O agente não quer diretamente o evento danoso, mas não afasta a possibilidade da sua ocorrência. É como se ele dissesse para si mesmo: "que se dane!", ou seja, "acredito que não vou errar no manejo das facas, mas, também, se errar e ferir alguém, que se dane!..."

No direito brasileiro, como os crimes dolosos contra a vida vão a julgamento diante do tribunal do júri, se ficar caracterizado o dolo eventual já temos o requisito necessário para tal tipo de julgamento, ou seja, não é necessário o dolo direto, basta o eventual, para que uma pessoa seja levada a júri.

Por fim, temos o dolo direto, onde o agente não apenas prevê o evento danoso, mas o quer, é exatamente o resultado almejado.

 No caso do atirador de facas, imagine a hipótese de ele perceber que na plateia há um velho inimigo, e ele resolve atirar uma faca exatamente na cabeça dele, e, devido à sua perícia no manejo das facas, é exatamente o que ele consegue, matando a pessoa em questão: dolo direto.

Entre o dolo direto e o eventual há apenas a diferença na gradação da culpa, e consequentemente, gradação da pena: o crime cometido através de dolo eventual receberá uma pena menos rigorosa do que o cometido com dolo direto. Mas a natureza da pena é a mesma: detenção, reclusão, dependendo do tipo penal envolvido.

Sintetizando, o caso da sua questão é o caso de culpa consciente: o atirdor de facas sabe que o manejo das facas pode redundar em ferimento ou mesmo morte a alguém da plateia, mas ele rejeita o resultado porque acha que é bom o suficiente no seu trabalho para evitar que tal evento danoso ocorra.

Não é concebível que um atirador de facas seja tão ingênuo a ponto de achar que o seu trabalho não possa acarretar em riscos para a plateia, o que seria o caso da culpa inconsciente ou simples, na qual o agente nem sequer imagina que algo possa dar errado. No caso do atirador de facas, isso não parece plausível.

Por outro lado, se o atirador de facas, representando para si a possibilidade do evento danoso, pronunciar o célebre "que se dane!", teríamos o caso de dolo eventual, porque ele assumiu o risco de causar dano a um bem penalmente progegido. Isso depende apenas do que passa pela cabeça dele, o que é difícil de determinar no caso concreto em algumas ocasiões.

Recentemente, num programa do Datena, ele argumentou justamente isso ao comentar sobre um atropelamento onde o motorista estava bêbado: a defesa alegou culpa consciente (para evitar de ir a júri), enquanto o Datena defendeu a tese de que uma pessoa que fica bêbada e sai dirigindo assume, sim, o risco de atropelar alguém, o que caracterizaria o dolo eventual, com o consequente julgamento pelo tribunal do júri.

Muitos advogados e promotores brigam entre si justamente a partir deste detalhe, ou seja, saber se, antes do evento danoso (que pode ser a morte de uma pessoa), o agente pensou para si algo como "isso jamais vai acontecer!" (culpa consciente) ou então o célebre "que se dane" (dolo enventual).

No final das contas, se o réu não confessar o que se passou na sua cabeça, tudo é uma questão de convencimento de quem tem o poder de decidir se a pessoa vai a júri ou não.

 

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