Buscar

Porte ilegal de arma branca

O que dizer do porte ilegal de arma branca? Resquício como contravenção penal do derrogado "art. 19, da LCP"? Fato atípico decorrente da revogação tácita trazida pelo Estatuto do Desarmamento?

💡 3 Respostas

User badge image

John Charles Torres

Boa Jardel !

1
Dislike0
User badge image

Jardel Luciano

Questão nada pacífica!

Observem na órbita da Jurisprudência (julgados recentes):

a)     TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO – ACORDÃO 1ª CÂMARA CRIMINAL EXTRAORDINÁRIA TJSP – 19 DE MAIO DE 2014: Apelação Nº 0101835-32.2010.8.26.050 - APELAÇÃO CRIMINAL PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO CONTRAVENÇÃO DE PORTE DE ARMA BRANCA - ABSOLVIÇÃO - IMPOSIBILIDADE. Tendo o conjunto probatório se mostrado uníssono em demonstrar a prática dos ilícitos dos artigos 14 da Lei nº 10.826/03 e 19 da Lei de Contravenções Penais, inviável a solução absolutória. Condenação mantida. Recurso não provido. Minuta: A ora apelante foi denunciada como incursa no artigo 14, caput, da Lei nº 10.826/03 e no artigo 19 da Lei de Contravenções Penais, porque, no dia 2 de dezembro de 2010, por volta das 14h20m, na Rua Brigadeiro Machado, esquina com a Av. Rangel Pestana, Brás, na cidade e Comarca de São Paulo, possuía, transportava e forneceu arma de fogo de uso permitido, consistente em um revólver calibre 38, com numeração presente, em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, bem como trazia uma faca tipo punhal.

b)     TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS – ACORDÃO 1ª CÂMARA CRIMINAL – 14 DE JANEIRO DE 2014: Ementa: Habeas Corpus – porte de arma branca sem licença – atipicidade da conduta – trancamento da ação penal – viabilidade – ordem concedida. 1. A conduta de portar arma branca não configura a contravenção penal prevista pelo artigo 19 da Lei de Contravenções Penais, que apenas engloba o porte das chamadas armas próprias. 2. Verificada a atipicidade da conduta, o trancamento da ação penal originária se impõe. 3. Writ concedido. Minuta: o paciente se viu denunciado pela suposta prática da contravenção penal prevista no art. 19 da Lei específica (fls. 15/16), em virtude de policiais militares terem encontrado um facão escondido atrás do banco no qual o ora paciente se encontrava.

c)     TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS – ACORDAO 7ª CÂMARA CRIMINAL TJMG – 28 DE JUNHO DE 2013: EMENTA: HABEAS CORPUS - CONTRAVENÇÃO PENAL - PORTE DE ARMA BRANCA - EXIGÊNCIA DE PERIGO CONCRETO - ATIPIA DA CONDUTA - ORDEM CONCEDIDA. - O porte de pequenos canivetes e outras armas brancas como facas, por si só, não enseja a tipicidade da conduta descrita na lei de contravenções -arma branca - a permitir a instauração da ação penal. Minuta: que no dia 17/05/2011, em tese, trazia consigo arma branca, sem licença ou autorização da autoridade competente.

d)     SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – ACÓRDÃO 6ª TURMA STJ – 08 DE MAIO DE 2014:AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PORTE DE ARMA BRANCA. ALEGADA ATIPICIDADE. ART. 19 DA LEI DAS CONTRAVENCOES PENAIS. LEI 9.437⁄1997. REVOGAÇÃO APENAS NO QUE SE REFERE AO PORTE DE ARMA DE FOGO. SUBSISTÊNCIA DA CONTRAVENÇÃO QUANTO AO PORTE DE ARMA BRANCA. RECURSO DESPROVIDO. – A Lei 9.437⁄1997, ao instituir o Sistema Nacional de Armas e tipificar o crime de porte não autorizado de armas de fogo, não revogou o art. 19 da Lei das Contravenções Penais, de forma que subsiste a contravenção penal em relação ao porte de arma branca. Precedentes. Agravo regimental desprovido. 1. Consoante a jurisprudência desta Corte, a Lei nº 9.437⁄97 e também a de nº 10.826⁄03 tipificam o porte ilegal de arma de fogo. Em relação ao porte de arma branca, a conduta continua a ser prevista como contravenção penal, mais especificamente, o art. 19 do Decreto-Lei nº 3.688⁄1941.

e)     SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – ACÓRDÃO 5ª TURMA STJ – 04 DE FEVEREIRO DE 2014:RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART. 19 DA LEI DAS CONTRAVENCOES PENAIS. ATIPICIDADE. INEXISTÊNCIA. ART. 10 DA LEI N.º9.437⁄97. REVOGAÇÃO PARCIAL. SUBSISTÊNCIA DA CONTRAVENÇÃO QUANTO AO PORTE DE ARMA BRANCA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A edição da Lei n.º 9.437⁄97 - diploma que instituiu o Sistema Nacional de Armas e elevou à categoria de crime o porte não autorizado de armas de fogo - não revogou o art. 19 da Lei das Contravenções Penais, subsistindo a contravenção quanto ao porte de arma branca. Precedentes. 2. Recurso desprovido.Ora, não se conclui como atípica a conduta de portar outros tipos de arma do fato de o porte ilegal de arma de fogo haver sido retirado da esfera de incidência da norma contravencional e erigido à natureza de crime. Com efeito, a derrogação do art. 19 do Decreto-Lei n.º 3.688⁄41 deu-se tão somente em relação às armas de fogo, não se estendendo às armas brancas, cuja posse fora de casa ou de dependência desta, sem licença de autoridade, constitui a contravenção respectiva, que guarda, portanto, residual vigência.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – PROCESSO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 782488 RS – 23 DE FEVEREIRO DE 2010 – DECISÃO:Agravo em Recurso Extraordinário. Processual Penal. 1) falta de prequestionamento: súmulas n. 282 e 356 do supremo tribunal. 2) controvérsia sobre eficácia do art. 19 do decreto-lei n. 3.688/1941: questão infraconstitucional. Recurso ao qual se nega seguimento. Minuta: A denúncia descreve que o acusado foi abordado na via pública, depois das 23h45min, portando uma adaga com aproximadamente 47 cm de lâmina e uma faca com cerca de 22 cm de lâmina. Embora com divergência de entendimento sobre a questão jurídica, é preciso examinar as circunstâncias do fato para se concluir acerca da tipicidade, no tocante especialmente à potencialidade lesiva. Isso porque as Leis nº 9.437/97 e 10.826/03 não vieram para descriminalizar o porte de arma branca, apenas elevaram o “porte ilegal de arma de fogo”, antes tipificado como contravenção penal, à categoria de crime (TURMA RECURSAL CRIMINAL DO JUIZADO ESPECIAL DE PORTO ALEGRE/RS). Relatora Ministra Carmen Lúcia: Razão jurídica não assiste ao Agravante. Ademais, a controvérsia sobre a eficácia do art. 19 do Decreto-Lei n. 3.688/1941 é infraconstitucional e não pode ser objeto de Recurso Extraordinário. Nada há a prover quanto às alegações do Agravante.

 

Já na Doutrina, autores renomados como Damásio, Andreucci e Capez têm se posicionado a respeito e afirmam que o art. 19 da LCP subsiste quando ao porte de arma branca. Já o excêntrico Nucci manifestou em sua obra mais recente (Leis Penais Especiais - 2014) que trata-se de fato atíco, assim como boa parte das condutas previstas na LCP.

A discussão deve ser fomentada às luz do art. 144, da CF, sem se desgarrar dos bens jurídicos tutelados pela citada norma (incolumidade e segurança pública), mas, ao mesmo tempo, sob a égide dos direitos e garantias individuais insculpidos por toda a Constituição Federal.

Eis o doce fardo do operador do direito...

0
Dislike0

Libere todas as respostas com o Premium!

Escolha o seu plano e acesse milhões de

conteúdos quando quiser.

Já tem cadastro?

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta.

User badge image

Perguntas relacionadas

Materiais relacionados

Materiais recentes

Perguntas Recentes