Artigo interresante vai ajudar nesta questão .
Felipe Magalhães Francisco*
Nos últimos dias 26 e 27, católicos, umbandistas e candomblecistas celebraram, respectivamente, Cosme e Damião. Essa festa é, certamente, um exemplo claro de um dos traços culturais que mais têm expressão em nosso país: o sincretismo religioso. Enxergado por muitos como algo negativo, a ser combatido, em nome da purificação da religião cristã, o sincretismo religioso revela como o sentimento religioso é algo bastante vivo em nossa cultura. Na realidade religiosa de nossa cultura, religiões se tocam, afetam-se, gerando novas experiências e expressões de contato com o sagrado.
Refletir a respeito do sincretismo religioso é fundamental, sobretudo em tempos nos quais a intolerância religiosa ocupa os diversos rincões de nosso país. O desrespeito para com as tradições religiosas diversas à qual eu me integro revela a ignorância da própria história de nosso desenvolvimento cultural: não há traços puros na religiosidade brasileira, somos todos frutos de uma integração religiosa, que torna bastante rica as expressões de crenças e de fé em todo o nosso território. Também as chamadas religiões tradicionais. O próprio cristianismo, tal como o conhecemos atualmente, só chegou à sua forma graças aos processos de sincretismo, sobretudo com as tradições religiosas romanas.
Dedicar uma matéria especial a esse importante tema é nos comprometer com uma cultura de paz, buscando contribuir com uma reflexão a respeito daquilo que nos constitui como povo, em um dos seus traços mais elementares, que é o aspecto religioso. Rechaçando todas as expressões de intolerância religiosa, que nos empobrece como humanos e que enfraquece a vivacidade de nossa cultura, precisamos nos sensibilizar com a causa dos irmãos e irmãs das mais diversas tradições religiosas, que vivem a perseguição, fruto de uma má compreensão de religiosos fundamentalistas. A pluralidade é um dom que nos enriquece.
O primeiro artigo de nossa matéria, Sincretismo religioso e religiosidade brasileira, do Dr. Roberto Francisco de Oliveira, abre nossa reflexão, ajudando-nos a compreender o significado do sincretismo religioso e suas marcas em nossa religiosidade brasileira. No artigo, o autor mostra como que, de forma plástica e flexível, o povo brasileiro lida com os limites religiosos impostos pelas religiões, no intento de resguardar sua identidade, bem como com a abertura a outras tradições.
Na esteira da reflexão sobre identidade e sincretismo, o Ms. Alex Kiefer da Silva, no artigo O sincretismo religioso e a construção da identidade cultural, mostra-nos como a identidade cultural de um povo é bastante marcada pelo sincretismo religioso. Sinalizando que o sincretismo é uma realidade bastante antiga na humanidade, o autor coloca o tema na perspectiva do pluralismo religioso global, refletindo sobre o constante processo de construção de identidade, tão possível no encontro de culturas.
O terceiro artigo, O sincretismo religioso como resistência, em contextos de perseguição, do Ms. Guaraci Santos, reflete a respeito do processo de formação do imaginário religioso brasileiro, desde a colonização marcadamente sincrético. Didaticamente, o autor aborda o sincretismo brasileiro a partir de três bricolagens: cristã-indígena; cristã-africana; indígena africana. Da resistência, frente às imposições de uma religião hegemônica, o nascimento de uma grande riqueza religiosa, que nos marca em nossa diversidade e pluralidade.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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Formação Histórica e Social do Brasil
•ULBRA
Historia e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena
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