A Constituição é um sistema de norma jurídicas composto por regras e princípios, segundo os quais se organiza, normatiza e dirige um Estado. Já os direitos fundamentais são aquelas que revelam, com maior ênfase, os princípios e valores que devem conduzir a interpretação constitucional. Segundo asseveram George e Glauco Salomão Leite (2008, p.56),
Os Direitos Fundamentais são positivados a luz de princípios, sendo estes extremamente abrangentes, tornando assim impossível aplicar uma interpretação literal (levar ao pé da letra), deve-se então aplicar a interpretação sistêmica que nada mais é do que interpretar uma norma/princípio levando em consideração outras normas/princípios que se relacionam em seu conteúdo.
O Professor George Marmelstein, em estudo sobre a Hermenêutica dos Direitos Fundamentais, ensina que:
“Na hermenêutica tradicional, a argumentação jurídica é relevativamente fácil. Basta identificar a norma que incidirá sobre o fato e realizar um exercício básico de lógica formal: dado um fato temporal (FT), deve ser determinada prestação (P). Dada a não prestação (NP), deve ser a sanção (S). Tudo muito simples.
Talvez surja alguma dificuldade quando o texto normativo comporta várias interpretações possíveis. Isso ocorre com certa frequência.
Nesses casos, são fornecidos alguns métodos para ajudar o intérprete, como a análise gramatical (interpretação literal), a busca da finalidade social do texto (interpretação teleológica), a vontade do legislador, as razões históricas da edição da norma (interpretação histórica), a análise do ordenamento jurídico como um todo (interpretação sistemática) etc.
As premissas básicas da hermenêutica tradicional sofreram profundo abalo com o pós-positivismo e a teoria dos direitos fundamentais. É fácil perceber porque isso ocorreu.
A partir do momento em que se admite a aplicação direta e imediata dos direitos fundamentais, o jurista obriga-se a sempre buscar argumentos na própria constituição. Ou seja, a norma constitucional torna-se o principal parâmetro de argumentação jurídica.
Outra peculiaridade da hermenêutica dos direitos fundamentais surge em razão da colisão de normas constitucionais, assunto a ser debatido mais à frente. Nessas situações, tem-se normas de igual hierarquia, publicadas ao mesmo tempo e com o mesmo grau de abstração, que, no caso concreto, fornecem consequências jurídicas opostas. Ou seja, os famosos critérios de solução de antinomias (hierárquico, cronológico e da especialidade) não servem para solucionar o conflito ora previsto.
Por isso, surge a necessidade de desenvolver outras técnicas capazes de adequar a teoria jurídica à nova realidade constitucional. afinal, a hermenêutica clássica não fornece nenhuma dica sobre como resolver esse problema da colisão de direitos, questão surgidad justamente em razão da positivação de valores/princípios e da crença na força normativa da Constituição.
O pós-positivismo, com a sua teoria dos princípios e outros intrumentos de argumentação, consegue fornecer algumas ferramentas capazes de ajudar na solução dessas colisões com razoável sucesso, ainda que em detrimento da objetividade plena e da previsibilidade absoluta da decisão jurídica.” (Curso de Direitos Fundamentais. 6ª ed. pg. 362-364)
Diante do exposto, é possível concluir que os métodos clássicos de interpretação, incluindo nesse rol a interpretação sistêmica, não são suficientes para atender a realidade dos direitos fundamentais. Isso não significa que eles estejam superados, mas apenas que eles precisam ser complementados por outros métodos, especialmente os fornecidos pelo pós-positivismo.
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Direito Constitucional I
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