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a função social da propiedade e respeitada no brasil?

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Paulo Golin

Deveria ser. É um dos propósitos da propriedade. Muito embora há pessoas que possuam terras do tamanho de um estado. Se falarmos em Reforma Agrária, aí é algo polêmico.

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Especialistas PD

O dever de respeito à função social da propriedade pode ser extraído de vários dispositivos constitucionais. Observe.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

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Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

III - função social da propriedade;

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Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.

§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

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Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

A função social da propriedade já estava prevista na Constituição, em seu art. 5.º, XXII e XXIII, e no seu art. 170, III, e foi reforça pelo art. 1.228, § 1.º, do CC/2002.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

No que diz respeito à propriedade rural, o Estatuto da Terra (Lei 4504/64) permite inclusive a desapropriação da propriedade rural com a finalidade de condicionar o uso da terra à sua função social.

Art. 17. O acesso à propriedade rural será promovido mediante a distribuição ou a redistribuição de terras, pela execução de qualquer das seguintes medidas:

a) desapropriação por interesse social;

Art. 18. À desapropriação por interesse social tem por fim:

a) condicionar o uso da terra à sua função social;

b) promover a justa e adequada distribuição da propriedade;

c) obrigar a exploração racional da terra;

d) permitir a recuperação social e econômica de regiões;

e) estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e assistência técnica;

f) efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos naturais;

 g) incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural;

 h) facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias.

Portanto, todo imóvel que não estiver cumprindo com a função específica da propriedade imobiliária rural pode ser objeto de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária. É o caso do imóvel rural improdutivo, que o INCRA define como “aquele que, embora seja agricultável, se encontra total ou parcialmente inexplorado pelo seu ocupante ou proprietário”.

O artigo a seguir traça um panorama das propriedades improdutivas segundo dados de 2011 (de lá pra cá pouco mudou).

“O levantamento de dados do Incra mostra revela que as terras brasileiras estão mais concentradas e improdutivas. Estudo conduzido por Gerson Teixeira, ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e integrante do núcleo agrário do PT indica que, ao longo da última década, o quadro se agravou especialmente na região Norte.

Atualmente, 130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. Em 2003, eram 112 mil proprietários com 215 milhões de hectares. Mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários. “Há um amplo território em todas as regiões do país para a execução da reforma agrária com obtenção via desapropriação, sem ameaçar a ‘eficiência’ da grande exploração do agronegócio”, afirma Teixeira.

Os dados demonstram também que o registro de áreas improdutivas cresceu mais do que das áreas produtivas, o que aponta para a ampliação das áreas que descumprem a função social. O aumento do número de imóveis e de hectares são sinais de que mais proprietários entraram no cadastro no Incra. Em 2003, eram 58 mil proprietário que controlavam 133 milhões de hectares improdutivos. Em 2010, são 69 mil proprietários com 228 milhões de hectares abaixo da produtividade média.

O ex-presidente da Abra lamenta em especial que não sejam aplicadas as medidas que impõem limites à concentração de terra. Na região Norte, as grandes propriedades tiveram um crescimento de área de 133%, ocupando 54,7 milhões de hectares, o que representa 75% do total das terras cadastradas na Amazônia Legal. Isso representa quase oito vezes a área ocupada por minifúndios. Somando-se pequenas e médias propriedades não se atinge a metade do abrangido pelos latifúndios. 

Por outro lado, a área de terras improdutivas no Norte chegou a 116 milhões de hectares, uma variação de 155%. No Brasil como um todo, o crescimento dessas terras foi de 75%. O Sul, no entanto, é a região com maior crescimento no número de propriedades consideradas improdutivas. Eram 5.413 imóveis nessa condição em 2003, chegando a 7.139 no ano passado. “Vale lembrar que não estamos tratando de grandes propriedades que descumprem a função social e, sim, daquelas que sequer cumprem os baixos requisitos de produtividade”, adverte o estudo. 

“Essas áreas podem ser desapropriadas e destinadas à Reforma Agrária”, afirma José Batista de Oliveira, da Coordenação Nacional do MST. Os critérios para classificar a improdutividade dessas áreas estão na tabela vigente dos índices de produtividade, que tem como base o censo agropecuário de 1975. No fim do governo Lula, teve início uma discussão para revisar os índices de produtividade, mas a bancada dos representantes do agronegócio no Congresso rechaçou a possibilidade.

O número de propriedades improdutivas aumentaria se fosse utilizado como parâmetro o censo agropecuário de 2006, que leva em consideração as novas técnicas de produção agrícola que possibilitam o aumento da produtividade.”

Diante desse quadro, percebe-se que a desapropriação de terras para fins de reforma agrária não vem sendo efetivada na proporção e intensidade que seriam necessárias, de modo que o desrespeito à função social da propriedade permanece sendo uma realidade no Brasil.

 

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