No final do século 20, houve uma verdadeira revolução tecnológica na microeletrônica, na microbiologia e na engenharia genética. O que ela ocasionou?

Na década de 1980, desenvolveu-se um grande bloco de inovações tecnológicas baseadas na microeletrônica e no campo das biotecnologias. Esse processo intenso e global de aceleração científica e tecnológica ficou conhecido como 3ª Revolução Industrial e Tecnológica.

O avanço da microeletrônica, além de impulsionar a produção industrial em escala, agregando valor e reduzindo custos, esteve na raiz do paradigma que caracterizou a 3ª Revolução Industrial e Tecnológica: o paradigma das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Destas decorrem a informatização de todos os processos produtivos e a integração das empresas em escala mundial, que passaram a comprar e vender conhecimento, e também a desmembrar as etapas da sua produção entre vários países. Com isso, as indústrias e as pessoas ao redor do mundo tiveram acesso uma gama imensa de novas mercadorias e serviços, mais rápidos e inteligentes.

No mesmo período, as biotecnologias também evoluíram muito em termos de conhecimento e produção, em especial a microbiologia e a engenharia genética. A pesquisa em microbiologia conseguiu criar substâncias de uso industrial a partir de micro-organismos, o que impulsionou vários setores, como o médico-farmacêutico, alimentício, o de energia e o de soluções ambientais. A engenharia genética, por sua vez, através da manipulação de genes, investiu na reformulação e criação de seres vivos, vegetais e até animais – aliás, o tema ganhou espaço na mídia a partir da clonagem da ovelha Dolly, em 1996. Esse campo científico permitiu a emergência das pesquisas em células tronco, que buscam a cura de doenças e lesões graves, e é também o responsável pelos grãos vegetais transgênicos, que aprimoraram a produção agrícola e alimentícia em larga escala.

Essa revolução teve consequências imensas à economia global. Por um lado, as inovações tecnocientíficas puderam suprir necessidades humanas e comerciais. Por outro, elas alteraram definitivamente a organização produtiva de todos os setores industriais, com influências importantes sobre a dinâmica do mercado de trabalho. Enquanto grandes empresas se espalharam pelo mundo, alocando seus recursos nos países onde seriam melhor aproveitados, inúmeras empresas não sobreviveram à concorrência, seja porque não conseguiram produzir e/ou adquirir as inovações, ou porque não adaptaram sua cultura organizacional à concorrência global.

Neste processo, a indústria mecânica tradicional decaiu e, com ela, a mão de obra menos qualificada. A microeletrônica e as biotecnologias exigem mão-de-obra extremamente qualificada, o que demanda investimentos massivos em pesquisa científica, aos quais poucos tem acesso. O resultado disso foi o crescimento do desemprego, do trabalho informal, do trabalho no setor de serviços de baixo valor agregado, da desigualdade de renda e da pobreza, principalmente nos grandes centros urbanos.

Em conclusão, esta grande revolução tecnológica na microeletrônica, microbiologia e engenharia genética teve múltiplos efeitos, dos quais destacamos: o aprofundamento da globalização, com a interação entre pessoas e empresas ao redor do mundo, possibilitada pelas TICs; uma mudança definitiva na organização produtiva, nos processos, nos resultados e na cultura das empresas; um aumento das desigualdades no mercado do trabalho, com a diferenciação acentuada entre profissionais qualificados para o novo paradigma e a mão de obra tradicional.

Por fim, pode-se lembrar que, embora não haja consenso entre os economistas, grande parte deles acredita que hoje nós já vivemos a 4ª Revolução Industrial e Tecnológica, que seria marcada pela articulação sem precedentes entre tecnologia e biociências, cujos produtos podem ir da inteligência artificial até a modelagem de seres humanos.