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antropologia

Como vimos no nosso material referencial, há uma estreita relação entre a Antropologia e os estudos históricos. Essa aproximação sugere que se faz necessária uma sondagem de nosso passado histórico quando o objetivo de nossas investigações reside no estudo de fenômenos que definem nossa realidade atual.

Vale sublinhar, com base no que foi exposto, que são diversas as versões sobre um mesmo fato histórico, assim como são muitas as versões da história. Contudo, há duas razões e ou motivos que conduzem os historiadores a escreverem ou reescreverem as histórias: primeiro, pode-se dizer que escrevem sobre fatos e ou acontecimentos, pois esses são temporais, isto é, “a história se torna visível e apreensível com a sucessão temporal” (REIS, 2002, p.7). O segundo motivo que os induz à reescrita da história deve-se, portanto, ao fato de que o “conhecimento histórico muda, acompanhando as mudanças históricas” (REIS, 2002, p. 9).

Tendo como referência a discussão apresentada em nossa Apostila sobre as visões conflitantes de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes no que diz respeito à questão racial e ao processo de miscigenação ocorrido no Brasil, analise os textos a seguir:

 

Texto 1

Entre nós [brasileiros], (…) a separação imposta pelo sistema de produção foi a mais fluida possível. Permitiu constante mobilidade de classe para classe e até de uma raça para outra. Esse amor, acima de preconceitos de raça e de convenções de classe, do branco pela cabocla, pela cunhã, pela índia (…) agiu poderosamente na formação do Brasil, adoçando-o.

(Gilberto Freyre. “O mundo que o português criou”)

 

 

Texto 2

Porém o fato é que ainda hoje a miscigenação não faz parte de um processo de integração das “raças” em condições de igualdade social. O resultado foi que (…) ainda são pouco numerosos os segmentos da “população de cor” que conseguiram se integrar, efetivamente, na sociedade competitiva.

(Florestan Fernandes. “O negro no mundo dos brancos”)

Respostas

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RD Resoluções

Para responder essa pergunta precisamos colocar em prática nossos conhecimentos da disciplina de Antropologia.


A primeira impressão dos textos deixa uma clara percepção de ideias contraditórias sobre o mesmo período histórico. É preciso que se faça uma discussão ou reflexão sobre o processo de miscigenação no Brasil.

A história marcada na pele, cultura, linguagem, etc, dos brasileiros é fruto de atividades como escravização, imperialismo, estupro e resistência. A vinda dos portugueses para o Brasil marca a exploração do território brasileiro e suas riquezas, bem como a dominação e imposição cultural sobre os povos indígenas. Há que se ressaltar que dominação não foi pacífica durante muito tempo. Com a chegada dos escravos africanos, a miscigenação é aprofundada. O importante é analisar de que forma ela se deu. É possível que os negros, que eram mantidos em senzalas e em regime de chicotadas, atraiam as paixões do povo português. Porém, a narrativa mais consciente deve se voltar para a relação entre os negros e portugueses. Nesse sentido, a ideia de português e negros em matrimônio parece insustentável, evidenciando a verdadeira forma violenta na qual se deu a miscigenação, através do estupro. A capoeira, que é marco das raízes brasileiras atualmente, nasceu na resistência negra, como forma de luta. Mesmo após a abolição da escravidão, o povo negro foi abandonado sem educação ou especialização para realizar trabalhos e produzir seu sustento e ainda, às margens do racismo branco da época.

Tendo vista a análise histórica, é possível perceber uma visão romantizada do que foi o processo de miscigenação segundo Gilberto Freyre. O descrito no texto 1 por Gilberto Freyre é muito improvável quando analisado sob a narrativa de tratamento do povo negro escravo. O trecho “Permitiu constante mobilidade de classe para classe e até de uma raça para outra’ dá a ideia de povos livre, o que não é verdade.

No texto 2, redigido por Florestan Fernandes, há uma descrição mais realista do processo de miscigenação. O texto fala da dificuldade dos indivíduos descritos como “de cor” se integrarem na sociedade competitiva e sobre os preconceitos enfrentados.

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Marcos Farias

        Gilberto Freyre e Florestan Fernandes são dois grandes expoentes do pensamento social brasileiro, tendo especial relevo na questão da herança colonial e escravista e suas marcas na sociedade brasileira. Ambos têm visões opostas acerca da inserção do negro na sociedade brasileira. Cabe destacar que ambos conceberam as suas concepções em momentos distintos, refletindo aspirações e percepções  ideológicas e culturais inerentes a cada momento histórico.

        Freyre, em Casa Grande & Senzala,  parte do pressuposto de que o Brasil é uma sociedade etnica e culturalmente mestiça, miscigenada, reafimando o aspecto da integração do negro e do mulato e a democracia racial, ao passo que Fernandes, como o título da sua obra sugere, O Negro no Mundo dos Brancos,  a percebe como uma sociedade dividida entre uma elite branca, detentora dos privilégios, dos benefícios e da hegemonia cultural de um lado e, do outro lado,  um  amplo seguimento da população composta por negros e mulatos,  alijados da ascensão econômica e social pela "barreira de cor", enfatizando em sua obra a segregação e a luta pela democracia racial.  

      Freyre concebeu a sua obra no princípio da década de 30, momento de intenso debate acerca da verdadeira identidade nacional, e da compreensão da alma do Brasil, simultaneamente ao grande esforço de integração nacional empreendido na década de 30. Freyre teve o mérito de conceber de forma positiva o papel do negro e a sua contribuição na sociedade colonial,  ao contrário das interpretações do Brasil anteriores, influenciadas pelas ideias deterministas e evolucionistas, que atribuiam um viés negativo  à participação do negro,  de forma pessimista, inviabilizando o futuro do país. Assim, Freyre inaugurou um novo paradigma para o pensamento social brasileiro, o qual se caracterizou, segundo Ricardo Benzaquen, pela assimilação da "contribuição do negro" - e em menor escala do índio -, em pé de igualdade com o branco, na nossa formação histórica, e pelo reconhecimento do caráter híbrido da nossa sociedade, de forma a lançar as bases para a formação de uma identidade nacional e de  uma consciência coletiva. Essa assimilação e permeabilidade do negro teria se dado por meio de uma pretensamente pequena distância entre os senhores e os escravos, entre dominadores e  a massa trabalhadora constituida de "homens de cor",  que teria resultado numa situação de dependentes, protegidos, e até mesmo de "solidário e afim", resultando num "equilíbrio de antagonismos" entre negros e brancos. Em suma, em Casa Grande & senzala, Gilberto Freire pretensamente solucionou um dilema nacional que inviabilizaria culturalmente o futuro do Brasil como nação. 

          Florestan Fernandes, por sua vez, publicou O Negro no Mundo dos Brancos no início dos anos 70, momento em que estava em pauta nos meios intelectuais a  satisfação das demandas das classes populares, dos oprimidos, a luta de classes e o antagonismo entre dominadores e dominados,    refletindo o clima ideológico vigente à época. Em continuidade a outros trabalhos anteriores, Fernandes  dedica-se à relação entre negros e brancos, atacando a hipocrisia representada pela "democracia racial", denunciando a "barreira de cor" que, segundo a sua concepção, impedem a ascensão do negro na sociedade brasileira. Dessa forma a teoria social de Florestan Fernandes traz ao debate o "dilema racial dea sociedade brasileira. 

        Por fim, cabe destacar que as obras supramencionadas, embora abordem a questão racial, são opostas em suas concepções, refletindo o clima cultural e ideológico de cada momento histórico.

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Andre Smaira

Para responder essa pergunta precisamos colocar em prática nossos conhecimentos da disciplina de Antropologia.


A primeira impressão dos textos deixa uma clara percepção de ideias contraditórias sobre o mesmo período histórico. É preciso que se faça uma discussão ou reflexão sobre o processo de miscigenação no Brasil.

A história marcada na pele, cultura, linguagem, etc, dos brasileiros é fruto de atividades como escravização, imperialismo, estupro e resistência. A vinda dos portugueses para o Brasil marca a exploração do território brasileiro e suas riquezas, bem como a dominação e imposição cultural sobre os povos indígenas. Há que se ressaltar que dominação não foi pacífica durante muito tempo. Com a chegada dos escravos africanos, a miscigenação é aprofundada. O importante é analisar de que forma ela se deu. É possível que os negros, que eram mantidos em senzalas e em regime de chicotadas, atraiam as paixões do povo português. Porém, a narrativa mais consciente deve se voltar para a relação entre os negros e portugueses. Nesse sentido, a ideia de português e negros em matrimônio parece insustentável, evidenciando a verdadeira forma violenta na qual se deu a miscigenação, através do estupro. A capoeira, que é marco das raízes brasileiras atualmente, nasceu na resistência negra, como forma de luta. Mesmo após a abolição da escravidão, o povo negro foi abandonado sem educação ou especialização para realizar trabalhos e produzir seu sustento e ainda, às margens do racismo branco da época.

Tendo vista a análise histórica, é possível perceber uma visão romantizada do que foi o processo de miscigenação segundo Gilberto Freyre. O descrito no texto 1 por Gilberto Freyre é muito improvável quando analisado sob a narrativa de tratamento do povo negro escravo. O trecho “Permitiu constante mobilidade de classe para classe e até de uma raça para outra’ dá a ideia de povos livre, o que não é verdade.

No texto 2, redigido por Florestan Fernandes, há uma descrição mais realista do processo de miscigenação. O texto fala da dificuldade dos indivíduos descritos como “de cor” se integrarem na sociedade competitiva e sobre os preconceitos enfrentados.

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