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em ralação a construção das subjetividades é correto afimar

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LR

Se por subjetividade tomarmos como verdade generalizada a definição feita por Houaiss (2009), que compreende o termo como uma realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano, passível de manifestar-se simultaneamente nos âmbitos individual e coletivo, e comprometida com a apropriação intelectual dos objetos externos. Ao buscar entender a construção de subjetividades humanas do ponto de vista sociológico é necessário especificar a parte ultima da descrição, onde se salienta dois elementos: 1) A subjetividade humana pode ser verificada tanto no indivíduo quanto no coletivo; 2) A subjetividade humana compromete-se com, ou seja, tem como parte constitutiva, a apropriação intelectual dos objetos externos. Estes elementos somados nos dizem que a subjetividade humana está presente tanto nas manifestações do indivíduo pois este está invariavelmente colocado ao coletivo tento em vista é do homem ser político/social, e assim viver imerso em uma comunidade, e uma comunidade só sobrevive a partir do momento em que há nela coesão, e a coesão só se constrói por meio do consenso, e para se obter o consenso é necessário que exista um conjunto de pessoas compartilhando um pensamento comum, uma consciência comum, caso contrário a sociabilidade comunitária jamais seria possível em virtude do impossível nível de conflitos entre seus integrantes. Há um ciclo de influências externas e internas, a exterioridade coletiva influencia o indivíduo, e o indivíduo quando age da mesma forma que indivíduos agem influencia a exterioridade. O trabalhador responde as regras de produção capitalista, e todos os trabalhadores mantém a maquina produtiva funcionando. Supondo que seja verdade que há entre o empregado e o empregador uma relação de exploração em função da sub-remuneração do trabalhador e da super-lucratividade que o empregador usufrui, se há na subjetividade dos sujeitos que respondem a este sistema uma coesão, um consenso que é este o sistema ideal, então não há conflitos, nem possibilidade de mudança pois tudo é como deve ser. Assim, o trabalhador irá consumir apenas o que seu salário puder suprir, mesmo que isso signifique não suprir diversos itens fundamentais de uma vida digna, como por exemplo comida em quantidade suficiente, moradias em condições adequadas de saneamento e localização geográfica, saúde, educação, cultura. A falta destes itens não ira causar nenhum tipo de angústia ao trabalhador, pois em sua mente paira a subjetividade presente em todo o conjunto social, sendo este conjunto especificamente capitalista. O capitalista por sua parte, vive plenamente satisfeito com o conforto que o lucro sempre exponencialmente maior proporciona. Se um trabalhador não responde ao senso comum, este trabalhador é um homem inadaptável para a sociedade em que está inserido. O trabalhador pode responder a coerção exterior se submetendo a ela e construindo para si uma nova subjetividade, ou melhor dizendo pode passar a reproduzir a subjetividade de todos. Neste aspecto há uma situação de enquadramento social. Se diversos trabalhadores compartilham da mesma opinião de que não é possível obter a dignidade humana neste sistema específico, então a possibilidade de mudança surge.

Em sociologia diversos autores falam sobre a ação humana, diante das subjetividades presentes no indivíduo e no coletivo. Nos tópicos a seguir há alguns exemplos.

Durkheim: Compreende que as representações subjetivas são o sinônimo de representações mentais, tomadas por representações coletiva, retomando e exemplo dado, a religião – representação simbólica – em As formas elementares da vida religiosa (livro) é compreendida da seguinte forma: “através da análise das religiões primitivas – o totemismo como sua forma primeira e mais simples –, pode-se perceber como os homens encaram a realidade e constroem uma certa concepção do mundo e, mais ainda, como eles próprios se organizam hierarquicamente, informados por tal concepção” (RODRIGUES, 2005: 21). Outro exemplo, a família – também uma representação simbólica – é definida por Durkheim da seguinte forma: “ela é simplesmente, um grupo de indivíduos que foram aproximados uns dos outros, no seio da sociedade política, por uma comunidade mais particularmente estreita de ideias, sentimentos e interesses. A consanguinidade pode ter facilitado essa concentração [de indivíduos em torno do que se diz ser família], pois ela tem por efeito natural incluir as consciências umas em direção às outras. Mas muitos outros fatores intervieram: a proximidade material, a solidariedade de interesses, a necessidade de se unir para lutar contra um perigo comum, ou simplesmente de se unir, foram causas muito mais poderosas de aproximação.” (DUKHEIM, 1990: XXIII). Assim a família, como também a religião e a economia, são todas representações simbólicas, e por isso possuem um papel na construção de uma coesão social na medida em que é responsável pela construção de uma moralidade importante para a construção de um consenso, de uma consciência comum, de uma relação de solidariedade entre os indivíduos integrantes de uma mesma sociedade.

Hegel e Marx: A subjetividade pode ser percebida pelos padrões de produção e trabalho sob a lógica de uma ideologia burguesa. Marx vê a formação da sociedade sob a ótica de um materialismo histórico, “que consiste em atribuir aos fatores econômicos (técnicas de trabalho e de produção, relações de trabalho e de produção) peso preponderante na determinação dos acontecimentos históricos.” (ABBAGNANO, 2007: 750). Segundo Max, “a personalidade humana é constituída intrinsecamente (em sua própria natureza) por relações de trabalho e de produção que o homem participa para prover suas necessidades”(ABBAGNANO, 2007: 750). Assim, não são essas relações (de trabalho e de produção) que produzem a forma com que o homem pensa, com que o homem concebe seu próprio mundo, e sim é a forma com que o homem concebe o mundo, ou seja é “A ‘consciência’ do homem (suas crenças religiosas, morais, políticas etc.)” é que são os elementos que produzem as citadas relações. Podemos então definir o materialismo histórico da seguinte forma: “as formas assumidas pela sociedade ao longo de sua história dependem das relações econômicas predominantes em certas fases dela.” (ABBAGNANO, 2007: 750). Essa tese é formulada a fim de se apresentar como contraponto à visão de Hegel. Se em Hegel, “é a consciência que determina o ser social do homem”, em Marx “é o ser social do homem que determina a sua consciência” (ABBAGNANO, 2007: 750). Nas palavras de Marx: “ ‘Em sua vida produtiva em sociedade, os homens participam de determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade: relações de produção que correspondem a certa fase de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. Esse conjunto de relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, que é a base real sobre a qual se erige uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas sociais de consciência. [...] Portanto, o modo de produção da vida material em geral condiciona o processo da vida social, política e espiritual’ (...).” (ABBAGNANO, 2007: 750).

Jessé de Souza: Há na teoria deste autor um peso atribuído à construção das subjetividades no Brasil. A violência simbólica, como elemento fundamental da cultura brasileira, posta por Jessé de Souza em seus livro A Elite do Atraso (2017) e A tolice da inteligência brasileira (2018) – entre outros livros do autor tão importantes quanto estes citados –, tem sua raiz no que ele determina ser o pacto elitista. Há, primeiramente, a existência de um pensamento hegemônico que naturaliza certas aspectos da sociedade que só beneficiam uma parcela minoritária dela. Duverge (1976), em síntese, estaria correto quando expõe que a violência física é o último recurso de um governo (levando em conta que governo, no caso brasileiro, é sinônimo de Elite), e recurso este que expõe sua ilegitimidade, assim para governar, mais do que a violência aberta, visível, é necessário colonizar as mentes dos governados, ou seja, construir um discurso hegemônico capaz de ser um elemento de controle social. Para Jessé, este discurso hegemônico desenvolvido pela elite brasileira, trata-se da violência simbólica ao qual o povo brasileiro é submetido sem ao menos perceber, e ao não perceber, perde-se a possibilidade de se rebelar contra o status de coisa que os reprime e os relega as piores condições da miséria humana. Jessé questiona-se como é possível que o 1% mais rico da população brasileira possa ser capaz de concentrar a riqueza produzida pelo trabalho executado pelo restante (99%) da população brasileira. A resposta que o autor dá é que a todo o arcabouço de produção de conhecimento, e todas as formas de reprodução desse conhecimento, dedica-se a construção de um pensamento hegemônico cujos interesses são avessos aos interesses sociais, e cujas as origens são tão enraizadas no pensamento brasileiro, através da construção de um pensamento social que sequestrou a nossa história passada, amenizando os efeitos da violência física que herdamos do nosso passado escravista, e recolocando esta mesma violência, que impõe um novo tipo de escravidão de forma mais perversa. A elite, ao reescrever o passado do brasil segundo os próprios interesses e ao financiar a produção e a reprodução de novos conhecimentos a partir dessa história deturpada, e fazendo isso transparecer tanto na academia quanto eu todos os diversos meios de comunicação, construiu um senso comum tão desagregador socialmente que é capaz de mantê-la no poder sem que os 99% de oprimidos sejam capazes de se revoltar. Não o são pois possuir uma história de desagregação social, cuja a sociabilidade não é pautada no reconhecimento dos interesses da própria classe, e sim na reprodução dos interesses da classe que os domina e os oprime, das elites: “tamanha ‘violência simbólica’ só é possível pelo sequestro da ‘inteligência brasileira’ para o serviço não da imensa maioria da população, mas do 1% mais rico, que monopoliza a parte do leão dos bens e recursos escassos. Esse serviço que a imensa maioria presta é o que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vem da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim da ‘corrupção apenas do Estado’.” (SOUZA, 2018: 10).

– Como se verifica essa ‘violência simbólica’: “A realidade social não é visível a olho nu, o que significa que o mundo social não é transparente aos nossos olhos. Afinal, não são apenas os músculos dos olhos que nos permite ver, existem ideias dominantes, compartilhadas e repetidas por quase todos, que, na verdade, ‘selecionam’ e ‘distorcem’ o que os olhos veem, e ‘escondem’ o que não deve ser visto.” (SOUZA, 2018: 9); “É isso que faz com o que mundo social seja sistematicamente distorcido e falseado. Todos os privilégios e interesses que estão ganhando dependem do sucesso da distorção e do falseamento do mundo social para continuarem a se reproduzir indefinidamente. A reprodução de todos os privilégios injustos no tempo depende do ‘convencimento1, e não da ‘violência’. Melhor dizendo, essa reprodução dependente de uma ‘violência simbólica’, perpetrada com o consentimento mudo dos excluídos dos privilégios, e não da ‘violência física’. É por conta disso que os privilegiados são os donos dos jornais, das editoras, das universidades, das TVs e do que se decide nos tribunais e nos partidos políticos. Apenas dominando todas essas estruturas é que se pode monopolizar os recursos naturais que deveriam ser de todos, e explorar o trabalho da imensa maioria de não privilegiados sob a forma de taxa de lucro, juro, renda de terra ou aluguel.” (SOUZA, 2018: 9 – 10); “A soma dessas rendas de capital no Brasil é monopolizada em grande parte pelo 1% mais rico da população. É o trabalho dos 99% restantes que se transfere em grande medida para o bolso do 1% mais rico.”(SOUZA, 2018: 10); “tamanha ‘violência simbólica’ só é possível pelo sequestro da ‘inteligência brasileira’ para o serviço não da imensa maioria da população, mas do 1% mais rico, que monopoliza a parte do leão dos bens e recursos escassos. Esse serviço que a imensa maioria presta é o que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vem da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim da ‘corrupção apenas do Estado’.”(SOUZA, 2018: 10);

 

Referências bibliográficas:

SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. 2ed. Rio de Janeiro: LeYa, 2018.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: 2017.

DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1976.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 4ed, 1966.

DURKHEIM, Émile. 1999. Da divisão do trabalho social, São Paulo: Martins Fontes:1-109.

RODRIGUES, José Albertino. Émile Durkheim. São Paulo: Editora Ática, 2005.

IGUORI, Guido; VOZA, Pasquale. Dicionário Gramsciniano: 1926 - 1937. São Paulo: Boitempo, 2017. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993

 

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