Como a expressao jus foi substituída por derectum?

Segundo Tércio Sampaio Ferraz Júnior, no decurso da história o direito sempre se vinculou a uma série de símbolos, alguns mais eloquentes, outros menos, e que antecederam a própria palavra direito. Tércio nos chama atenção para o fato de que, o direito sempre teve um grande símbolo, bastante simples, que se materializava, desde muito tempo em uma balança com dois pratos colocados no mesmo nível, com o fiel no meio - quando este existia - em posição perfeitamente vertical. No entanto, essa representação sempre variou de povo para povo e de época para época.

Na Grécia antiga, o direito era representado na imagem da deusa Diké, que tinha os olhos abertos e portava em sua mão esquerda a balança com os dois pratos, mas sem o fiel no meio, e uma espada em sua mão direita. E em pé, declarava o direito de forma solene, assumia assim, existir o justo quando os pratos estavam em equilíbrio (íson, de isonomia), daí a explicação para os gregos do justo (o direito) significar o que era visto como igual.

Já na Roma antiga, o direito se fazia representada pela deusa Iustitia, que diferente da deusa grega, segurava a balança com as duas mãos, tinha os olhos vendados e estava sentada quando declarava o direito (Jus) de forma solene. Ela assim o fazia quando o fiel da balança estava completamente vertical: direito = perfeitamente reto, reto de cima a baixo (de+rectum).

Dessa forma, Tércio nos fala que os gregos aliavam à deusa algumas palavras, das quais as mais representativas eram díkaion, significando algo dito solenemente pela deusa Diké, e íson, mais popular, significando que os dois pratos estavam iguais. Já em Roma, as palavras mais importantes eram jus, correspondendo ao grego díkaion e significando também o que a deusa diz solenemente, e derectum, correspondendo ao grego íson, mas com ligeiras diferenças.

Assim, Tércio conclui esse raciocínio alertando para o fato de que, estando à deusa grega de olhos abertos, isso aponta para uma concepção mais abstrata, especulativa e generalizadora do direito por parte desse povo, o que ligava o direito mais a um saber teórico. Já os romanos, com a deusa Iustitia de olhos vendados, aponta que a concepção desse povo acerca do direito era antes referida a um saber agir, um saber prático, uma prudência, um equilíbrio entre a abstração e o concreto.

 Diante disso, acredito eu, que com essa visão de aplicabilidade maior do direito em sua rotina, é natural que as expressões romanas nesse campo do saber viessem a sobrepor as expressões gregas. Não obstante, Tércio credita essa sobreposição ao caráter mais popular da expressão derectum. Como ele mesmo apresenta, no correr dos séculos, a expressão jus foi a mais usada pelos juristas romanos, mas, pouco a pouco, a expressão derectum ia ganhando força. Mas somente a partir do século IV d.C. que ela começou a ser usada também pelos juristas. Guardou, porém, desde suas origens, um sentido moral e principalmente religioso, por sua proximidade com a deificação da justiça. Nos séculos VI ao IX, as fórmulas derectum e derectum passam a sobrepor-se ao uso de jus. Depois do século IX, finalmente, derectum é a palavra consagrada, sendo usada para indicar o ordenamento jurídico ou uma norma jurídica em geral.

Isso mesmo...acho que só tem essa fonte do Tércio Jr. Obrigada