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Qual foi o contexto da Revolução Burguesa no Brasil ?

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Laraiany Rosa

A revolução burguesa no Brasil. Recebido à época como uma tentativa de explicação das origens e fundamentos do Estado autoritário.

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LR

Quando se trata de Brasil, como também de qualquer país de capital periférico, não é possível expor a história em termos de Revolução, pois não houve um rompimento, ou uma conjunto sucessivo de acontecimentos de impacto tal capaz de tornar visualizável um processo revolucionário em curso. É possível colocar a revolução burguesa nos países periféricos, sem nenhuma contradição com o que já foi dito aqui, nos seguintes termo: “O regime de classes ‘transborda’ de um para outro, graças às estruturas de poder criadas no plano internacional pelo capitalismo, porém o primeiro ‘faz história’, enquanto que, o segundo, ‘a sofre’” (FERNADES, 1979: 26), o que significa dizer que as antigas metrópoles [“sociedades nacionais dotadas, ao mesmo tempo, de desenvolvimento capitalista autônomo e de posição hegemônica nas relações internacionais” (FERNANDES, 1976: 25)], em especial as de capitalismo avançado (Inglaterra, França), fazem a história no sentido de que efetivam de fato um processo revolucionário que hoje nomeados Revolução Burguesa, e as ex-colônias sofrem a história na medida em que o capitalismo determina que elas passem a operar segundo uma lógica completamente diferente do que se tinha até então.

No que diz respeito ao Brasil, é possível localizar dois momentos históricos importantes para o desenvolvimento do capital (mesmo que periférico):

I) Primeira República: “sob condições tipicamente neocoloniais (nas quais apenas emerge um mercado capitalista especificamente moderno e o regime de classes aparece, assim, como uma realidade histórica incipiente); (...) A primeira situação histórico-social existiu no Brasil na época da emancipação nacional [rompimento definitivo da ligação colonial com Portugal e o moroso processo de abolição da escravidão] e da eclosão interna do capitalismo.” (FERNANDES, 1976: 24).

II) Estado Novo: “sob condições tipicamente de dependência econômica, sócio-cultural e política (nas quais a dominação externa é mediatizada e em que a revolução burguesa, como uma dimensão histórica interna, não se acelera por via autônoma, mas graças a esquemas de articulação da ‘iniciativa privada nacional’ com o ‘intervencionismo estatal’, com o ‘capital estrangeiro’ ou com ambos). (...)A segunda, já aparece claramente configurada nas últimas quatro décadas do século dezenove, exprimindo e servindo de suporte ao deslanche da revolução burguesa; mas é sob a aceleração do crescimento econômico, portanto sob a ‘integração do mercado interno’ e o industrialismo, que ela iria mostrar o que significa dependência sob o capitalismo monopolista e o imperialismo total” (FERNANDES. 1976: 24).

As características da revolução burguesa no Brasil são:

I) Jogo de interesses entre uma burguesia Nacional que deseja se desenvolver e a influencia internacional que deseja conter o ritmo da descolonização com a finalidade de manter o país dependente e passível de exploração: “Na medida em que a ‘burguesia nacional’ luta pelo desenvolvimento capitalista em termos de uma política de associação dependente, ela se articula, ativa e solidariamente, aos variados interesses externos, mais ou menos empenhados na redução dos ritmos e dos limites da descolonização.” (FERNANDES, 1979: 28).

II) Regime de classes brasileiro (A elite brasileira): “As classes dominantes internas usam o Estado como bastião de autodefesa e de ataque, impondo assim seus privilégios de classe como ‘interesses da Nação como um todo’, e isso tanto de cima para baixo, como de dentro para fora. Elas precisam de um ‘excedente de poder’ (não só economico, mas especificamente político) para fazer face e, se possível, neutralizar: 1.°) as pressões internas dos setores marginalizados e das classes assalariadas;2.°)as pressões externas vinculadas aos interesses das nações capitalistas hegemônicas e à atuação da ‘comunidade internacional de negócios’; 3.°) as pressões de um Estado intervencionista, fortemente burocratizado e tecnocratizado, por isso potencialmente perigoso, especialmente se as relações de classes fomentarem deslocamentos políticos no controle societário da maquinaria estatal, transformações nacional-populistas ou revoluções socialistas.”” (FERNANDES, 1976: 28).

III) O Estado brasileiro: “Em vista disso, o Estado não é, para as classes dominantes e com o controle do poder político, um mero comitê dos interesses privados da burguesia. Ele se torna uma terrível arma de opressão e de repressão, que deve servir a interesses particularistas (internos e externos, simultaneamente), segundo uma complexa estratégia de preservação e ampliação de privilégios econômicos, sócio-culturais e políticos de origem remota (colonial ou neocolonial) ou recente.” Na lógica do uso do Estado como instrumento de ditadura de classe, seja ela dissimulada (como ocorria sob o regime imperial e sob o presidencialismo), seja ela aberta (como ocorreu sob o Estado Novo e no presente), o inimigo principal da burguesia vêm a ser os setores despossuídos, na maioria classificados negativamente em relação ao sistema de classes, embora uma parte deles se classifiquem positivamente, graças a proletarização.” (FERNANDES, 1976: 29).

IV) O política brasileira: “Todavia, nessa lógica o ‘parceiro externo’ não passa de um ‘perigoso companheiro de rota’ [o Estado é inimigo da burguesia, da elite, ao mesmo tempo, é figura-se como um companheiro de rota contra um inimigo em comum: o povo, ou a revolução socialista]. É a relação política com esse aliado, aliás, que caracteriza a existência do capitalismo dependente e define os rumos da revolução burguesa que ele torna possível. Sem um Estado suficientemente forte e dócil, seria difícil mantes a associação com os ‘interesses externos’ em condições de autodefesa dos ‘interesses privados nacionais’; esse Estado é que engendra o espaço político de que necessita a ‘burguesia nacional’ para ter uma base de barganha com o exterior e, ao mesmo tempo, poder usar a articulação com o ‘capital externo’ como fonte de aceleração do crescimento econômico ou de transição de uma fase para outra do capitalismo. As classes dominantes seriam uma mera ‘burguesia compradora’, destituída dos meios políticos para evitar a regressão de uma condição colonial ou neocolonial, se não dispusesse dessa faculdade para criar e utilizar o seu próprio espaço político nas relações com o seu polo externo. Analisando-se as conexões apontadas, constata-se que o Estado surge, assim, como o instrumento por excelência da dominação burguesa, o que explica as limitações de sua eficácia: seus alvos são egoísticos e particularistas; e são raras as coincidências que convertem ‘o que interessa ao topo’ em algo relevante para toda a Nação. Em tais circunstâncias, a dominação burguesa não é útil nem para levar a cabo a revolução nacional (por causa de suas conexões estruturais e dinâmicas com as burguesias das nações capitalistas hegemônicas e com o capitalismo internacional), nem para promover a democratização da riqueza, do prestígio social e do poder (por causa da coexistência de vários modos de produção pré ou subcapitalista com o pode de produção capitalista e de temos de que uma liberalização da compressão política pudesse conduzir à ‘anarquia’ e à ‘revolução popular’).” (FERNANDES, 1976: 29-30).

V) A revolução burguesa no Brasil: “Em consequência, temos aí uma revolução burguesa de tipo especial. Ela tem sido encarada e definida como uma revolução burguesa ‘frustrada’ ou ‘abortada’. Contudo, esse raciocínio interpretativo só se justifica quando ela é pensada em confronto com o modelo nacional-democrático de revolução burguesa (a comparação implícita ou explícita seria como a França, a Inglaterra ou os Estados Unidos). Nos quadros em que ela ocorre, porem, a sua eficácia para o ‘poder burguês’ e o desenvolvimento depende da contenção tanto da revolução nacional, quanto da revolução democrática. Nesse sentido, ela não é uma revolução frustrada nem uma revolução abortada, por nem a ‘democracia burguesa’ nem o ‘nacionalismo revolucionário’ burguês se inscrevem entre os objetivos reais. O que ela colima, a criação de condições e meios para o aparecimento e a sobrevivência do capitalismo dependente, tem sido atingido, às vezes suscitando até a ideia de ‘milagre econômico’ (já aplicada ao México, e ao Brasil quanto à América Latina). Sob outros aspectos, ela cai na categoria das transformações capitalistas conseguidas por vias autocráticas.” (FERNANDES, 1976: 30).

Referência bibliográfica:

FERNANDES, Florestan. Mudanças Sociais no Brasil: Aspectos do desenvolvimento da sociedade brasileira. São Paulo: DIFEL, 1976.

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