A coagulação intravascular disseminada (CID) envolve geração anormal e excessiva de trombina e fibrina no sangue circulante. Durante o processo, ocorre aumento da agregação plaquetária e consumo de fatores de coagulação. CID que se desenvolve lentamente (por semanas ou meses) causa manifestações primariamente trombótica venosa e embólica; CID que se desenvolve rápido (em horas ou dias) ocasiona primariamente sangramento. CID grave, desenvolvendo-se com rapidez, é diagnosticada por demonstrar trombocitopenia, PTT e PT elevados, níveis elevados de d-dímero plasmático (ou de produtos de degradação de fibrina sérica) e nível reduzido de fibrinogênio plasmático. O tratamento inclui correção da causa de base e reposição das plaquetas, fatores de coagulação (em plasma fresco congelado) e fibrinogênio (em crioprecipitado) para controlar hemorragia grave. A heparina é utilizada como terapia (ou profilaxia) em pacientes que desenvolvem CID lentamente e apresentam (ou estão em risco de) tromboembolia venosa.
Coagulação intravascular disseminada (CID) normalmente resulta da exposição do fator tecidual ao sangue, iniciando a cascata da coagulação. Além disso, a coagulação intravascular disseminada (CID) ativa a via fibrinolítica ( Via fibrinolítica.). A estimulação das células endoteliais pelas citocinas e as alterações do fluxo sanguíneo microvascular provocam a liberação do fator de ativação do plasminogênio tecidual (tPA, do inglês tissue plasminogen activator) a partir das células endoteliais. Tanto o tPA como o plasminogênio se ligam aos polímeros da fibrina, e a plasmina (gerada pela clivagem do tPA do plasminogênio) cliva a fibrina em dímeros-D- e outros produtos de degradação da fibrina). Portanto, a coagulação intravascular disseminada causa tanto trombose como hemorragia.
A CID ocorre com mais frequência nas seguintes circunstâncias clínicas:
Complicações obstétricas (p. ex., descolamento prematuro da placenta, aborto terapêutico induzido por solução salina, feto morto ou produtos de concepção retidos, embolismo do fluido amniótico). O tecido placentário com atividade do fator tecidual entra ou é exposto à circulação materna.
Infecção, em particular com microrganismos Gram-negativos: a endotoxina Gram-negativa provoca geração ou exposição da atividade do fator tecidual em células fagocíticas, endoteliais e teciduais.
Câncer, sobretudo adenocarcinomas secretores de mucina do pâncreas, adenocarcinomas da próstata e leucemia promielocítica aguda, em que as células do tumor expõem ou liberam a atividade do fator tecidual.
Choque por qualquer causa que produz lesão tecidual isquêmica e exposição do fator tecidual.
As causas menos comuns da CID incluem
Lesão tecidual grave por traumatismo craniano, queimaduras, úlceras por geladura ou ferimentos por arma de fogo
Complicações da cirurgia da próstata permitindo que permitem material prostático com atividade do fator tecidual (juntamente com ativadores de plasminogênio) entrem na circulação
Picadas de cobras peçonhentas nas quais enzimas entram na circulação, ativam um ou vários fatores de coagulação, e geram trombina ou convertem diretamente fibrinogênio em fibrina
Hemólise intravascular profunda
Aneurismas aórticos ou hemangiomas cavernosos (síndrome de Kasabach-Merritt) associados a lesão da parede do vaso e áreas da estatese sanguínea
Coagulação intravascular disseminada que evolui lentamente costuma resultar principalmente de câncer, aneurisma ou hemangioma cavernoso.
CID que se desenvolve lentamente ocasiona primariamente manifestações tromboembólicas venosas (p. ex., trombose venosa profunda, embolismo pulmonar), embora, às vezes, ocorram vegetações da válvula cardíaca; hemorragia anormal é incomum.
CID que evolui rapidamente, em contraste, causa trombocitopenia e depletação dos fatores de coagulação de plasma e fibrinogênio, o que provoca hemorragia. A hemorragia dentro dos órgãos, juntamente com tromboses microvasculares, pode acarretar disfunção e deficiência em múltiplos órgãos. A dissolução demorada de polímeros de fibrina pela fibrinólise pode resultar na ruptura mecânica de eritrócitos, produzindo esquistócitos e hemólise intravascular leve.
Na CID de evolução lenta, pode haver sintomas de trombose venosa e/ou sintomas de embolia pulmonar.
Na CID de evolução rápida, locais de picadas (p. ex., punções intravenosas ou arteriais) sangram persistentemente, as equimoses se formam nos locais de injeções parenterais e podem ocorrer hemorragias gastrintestinais sérias.
Contagem de plaquetas, PT, PTT, fibrogênio plasmático, d-dímero plasmático
Suspeita-se de coagulação intravascular disseminada em pacientes com hemorragia inexplicável ou tromboembolia venosa, especialmente se existir condição predisponente. Se houver suspeita de CID, obtêm-se contagem de plaquetas, PT, PTT, nível de fibrinogênio e d-dímero plasmáticos (indicação de deposição e degradação de fibrina in vivo).
CID de desenvolvimento lento produz trombocitopenia leve, PT e PTT normais a minimamente prolongados (resultados são tipicamente registrados como INR), nível de fribina normal ou moderadamente reduzido e aumento do nível plasmático de d-dímero. Como várias doenças estimulam a elevação da síntese de fibrinogênio como reagente de fase aguda, declínio do nível de fibrinogênio em duas dosagens consecutivas pode ajudar a fazer o diagnóstico de CID. Valores iniciais de PTT em CID de desenvolvimento mais lento podem, realmente, ser mais baixos que o normal, provavelmente em razão da presença de fatores de coagulação ativados no plasma.
A CID de desenvolvimento rápido e grave resulta em trombocitopenia mais grave, PT e PTT mais prolongados, declínio rápido das concentrações de fibrinogênio do plasma e alto nível plasmático de d-dímero.
Um nível do fator VIII pode, às vezes, ser útil se CID grave e aguda tiver de ser diferenciada da necrose hepática maciça, que pode produzir anormalidades similares nos estudos de coagulação. O nível do fator VIII está elevado na necrose hepática porque o fator VIII é produzido nas células endoteliais hepáticas e liberado assim que elas são destruídas; o fator VIII é menor na CID em razão da geração de proteína C ativada induzida por trombina, que gera proteólise da forma ativada do fator VIII.
Tratamento da causa
Possivelmente terapia de reposição (p. ex., plaquetas, crioprecipitado, plasma fresco congelado)
Heparina, se necessário
A correção imediata da causa de base é a prioridade (p. ex., tratamento com antibiótico de largo espectro em suspeita de sepsia Gram-negativa, evacuação do útero em descolamento prematuro da placenta). Se o tratamento for eficaz, a coagulação intravascular disseminada deve melhorar rapidamente.
Se o sangramento for profuso ou ocorrer em um local crítico (p. ex., cérebro, trato gastrointestinal), ou se houver necessidade urgente de cirurgia, então a terapia de reposição adjuvante é indicada. A substituição pode consistir em
Concentrados de plaquetas para corrigir a trombocitopenia (no caso de queda rápida da contagem de plaquetas ou de plaquetas < 20.000/μL)
Crioprecipitado para substituir o fibrinogênio (e o fator VIII) se o nível de fibrinogênio estiver caindo rapidamente ou for < 100 mg/dL.
Plasma fresco congelado para aumentar os níveis dos outros fatores de coagulação e anticoagulantes naturais (antitrombina, proteínas C, S e Z)
A efetividade da infusão dos concentrados de antitrombina na CID grave, de rápido desenvolvimento, é incerta. A reposição volêmica em caso de hipotensão é essencial para deter a CID.
A heparina é útil no tratamento da coagulação intravascular disseminada de desenvolvimento lento com trombose venosa ou embolia pulmonar. Ela geralmente não é indicada para CID de rápido desenvolvimento com hemorragia ou risco de hemorragia, exceto no caso de mulheres com feto morto retido e desenvolvendo CID com diminuição progressiva de plaquetas, fibrinogênio e fatores de coagulação. Nesses pacientes, a heparina é administrada durante vários dias para controlar a CID, aumentar os níveis de fibrinogênio e plaquetas e diminuir o consumo excessivo do fator de coagulação. A heparina é então suspensa e o útero é curetado.
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