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Explique o titulo do poema "o adeus de Teresa"?

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Gislaine Motta

A exegese do poema deve se fazer já no título. O poeta evidencia que uma chave para seu entendimento está na palavra ´Adeus´, registrada entre aspas. Dessa maneira, Castro Alves adverte ao leitor que este termo tem uma utilização especial, segundo se confirma nas seis aparições de Adeus, sempre em aspas no poema. Aqui o sinal gráfico é indicador de discurso direto, ao contrário do uso no título, que sinaliza a latência significativa do termo.

A peculiaridade é dada porque a cada aplicação de ´Adeus´ o sentido de despedida é acrescido de uma carga semântica particular. Essa qualificação da palavra tem sua propriedade caracterizada por ´modalizadores´ explícitos no verso. ´´Adeus´ eu disse-lhe a tremer co´a fala´ e ´Ela, corando, murmurou-me: ´adeus´´, ao primeiro verso, a tremer co´a fala, pois é intensa a emoção palpitando-lhe; e, ao segundo, corando, o pundonor feminil, transmitem a ´Adeus´ um valor significativo de uma despedida de namorados. Na verdade, está quase equivalente sinonímio de um ´até logo´ ou ´tchau´ ou para adequar a modalidade lingüística: ´em breve nos veremos´. O próprio termo murmurar (falar baixo, - quase ao ouvido, como podemos presumir), com seu sussurro onomatopaico e sua aliteração da constritiva bilabial nasal, também confere, desse modo, essa feição ´enamorada´ ao termo.

Dois outros casos

Castro Alves, em dois outros seus poemas, retoma a questão da semântica de ´Adeus´. Define-a como uma palavra fatal e restringe seu uso ao momento extremo de separação absoluta. Para, simplesmente, despedir-se, reclama outra expressão que não ´Adeus´. Veja-se nesse caso a última estrofe do poema ´Adeus´ de ´A Cachoeira de Paulo Afonso´: ´- Adeus - palavra sombria!/ Não digas - adeus -, Maria!/ ou não me fales de amor!´ porque ´- Adeus! - miséria! Mentira/ De um seio que não suspira/ De um coração sem amor´ (diletíssima a elipse do verbo, que se aponte). É uma poesia sobre o rompimento de uma relação apaixonada e intempestiva o poeta intitula-a como a mesma palavra. Os poemas homônimos deixam claro como Castro Alves concebe a natureza desse vocábulo.

Na segunda estrofe e segundo estribilho de ´O ´Adeus´ de Teresa´, a palavra destacada toma uma roupagem teatral. O namorado ´conservando-a presa´ e a jovem ´entre beijos´ encenam dramaticamente uma separação. Agora, de uma despedida juvenil, florescente em que os namorados se deixam ir, inicialmente; temos uma cordata situação: o casal, já íntimo, observe-se a expressão ´sem véus´ do 9º verso, portanto, os dois morando juntos, pois casados, despedem-se. A gravidade do quadro é tonificada pelo adjetivo pálida, que além de fazer parte do escopo vocabular do léxico romântico (mesmo tido como uso vazio de tão reiterado, nesse caso o poeta o revigora; - os clichês enraizavam-se por tal jeito que amiúde colidiam com o pensamento do poeta, no poema ´Um Raio de Sol´, o poeta fala de um níveo de uma escrava morena.), condensa nessa poesia uma ambiência de mal-sina que se está anunciando.

Melancolicamente pálida, Teresa torna-se branca ao fim da poesia. O descoramento é por espanto, surpresa e por medo, já que parece antever o desfecho funesto de sua história. Teresa dá seu último ´Adeus´ ´arquejando´, agonizando a última palavra antes da morte. ´Adeus´ neste último verso potencializa uma nova essência: um valor fatal.

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