Considere o caso seguinte: um deputado federal, um deputado estadual e um vereador estão sendo investigados pois há indícios de que, sem ligação entre si, cometeram crimes no exercício de suas funções. O Ministério Público pede que os parlamentares sejam afastados cautelarmente dos seus mandatos, para evitar que prejudiquem as investigações. Como juiz competente para a causa, considerando as regras constitucionais e as funções das imunidades parlamentares, bem como as posições do Supremo Tribunal Federal a respeito do tema, decida fundamentadamente sobre a possibilidade de afastamento de cada um dos membros do Poder Legislativo, nas três esferas federativas. ( RELATORIO\FUNDAMENTAÇÃO\ DISPOSITIVO)
Inicialmente, há que separar os casos, já que não há liame de desígnios entre os 3 parlamentares. E, ainda, ressaltar que deputados têm imunidade parlamentar penal e civil em relação às opiniões, palavras e votos. Assim dispõe a CF, a saber:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.
Assim, quando presos em flagrante por crimes inafiançáveis cometidos no exercício da função, os deputados federais deverão ser julgados pelo STF. E o próprio STF poderá determinar o afastamento cautelar durante as investigações, como disposto no art.319, inciso VI do CPP.
Mas, o próprio STF decidiu em plenário, no bojo da ADI 5526/DF que, no caso do afastamento impedir o exercício regular do mandato, a Câmara dos Deputados poderá rechaçar a decisão, conforme disposto a seguir:
“A decisão se deu no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5526, julgada parcialmente procedente da sessão desta quarta-feira (11). Na ação, os partidos Progressista (PP), Social Cristão (PSC) e Solidariedade pediam interpretação conforme a Constituição para que a aplicação das medidas cautelares, quando impostas a parlamentares, fossem submetidas à deliberação da respectiva Casa Legislativa em 24 horas. O prazo está previsto na Constituição para os casos de prisão em flagrante de crime inafiançável. Nessas hipóteses, diz o texto constitucional, os autos deverão ser remetidos para que a maioria dos membros delibere sobre a prisão. Pelo entendimento da maioria, no entanto, apenas a medida que suspenda o mandato ou embarace seu exercício deve ser submetida a posterior controle político do Legislativo.”
No caso dos crimes cometidos pelos deputados estaduais no exercício de suas funções, simetricamente, em que pese decisão cautelar de afastamento do Tribunal respectivo, a decisão deve ser apreciada pela Assembleia Legislativa do estado, caso a suspensão prejudique o exercício regular do mandato.
Já os vereadores, caso não haja previsão expressa na respectiva constituição estadual, não possuem foro por prerrogativa de função. Um juiz de direito de primeira instância julgará o crime. Essa decisão, diferentemente das acima citadas, não está sujeita à revisão legislativa. É esse o atual entendimento das Cortes superiores, conforme julgado abaixo:
“É possível que o Juiz de primeiro grau, fundamentadamente, imponha a parlamentares municipais as medidas cautelares de afastamento de suas funções legislativas sem necessidade de remessa à Casa respectiva para deliberação.
STJ. 5ª Turma. RHC 88.804-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07/11/2017 (Info 617).”
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