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Qual é a importância da da ciência politica e da teoria geral do Estado?

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Ramon Mortimer

Ciência Política e Teoria do Estado

O currículo disciplinar dos Cursos e Faculdades de Direito inclui no primeiro ano (ou no primeiro e segundo semestres) estudos que são chamados propedêuticos por serem preparatórios. São disciplinas-meio (como a Introdução ao Estudo do Direito, a Metodologia da Pesquisa Jurídica, a Linguagem Forense, a Introdução à Sociologia, a Economia, a Informática Aplicada ao Direito e outras) que visam a preparar o aluno para as disciplinas-fim (Direito Civil, Direito Comercial, Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito do Trabalho e outras) que se sucederão no evolver do curso.

Entre tais disciplinas propedêuticas estão a Ciência Política e a Teoria do Estado, a primeira abrangendo e a segunda tendo o Estado como objeto de estudo. Uma vez que é o Estado que provê a elaboração e a aplicação das leis jurídicas, pondo e impondo o Direito, é necessário – antes de aprofundar no estudo do Direito – adquirir noções básicas sobre o Estado. Eis a razão de estarem essas disciplinas no currículo dos dois semestres iniciais do Curso de Direito. Porque estudam o Estado, são preparatórias para o estudo do Direito.

Uma ciência se distingue de outra pelo objeto (objectum) que o sujeito (subjectum) põe diante de si para estudar. Nos substantivos sujeito e objeto, como nas palavras que lhes são correlatas (exemplos: subjetivoobjetivosubjetivarsujeitarobjetivar), aparece o particípio passado latino jectum – variante de jactum, que significa lançadopostocolocado – em composição com os prefixos ob e sub, que são duas preposições latinas, significando respectivamente diante de e sob.

Etimologicamente, portanto, sujeito (sub + jectum) é o que é lançado, posto sob a forma humana, dentro do ser humano. É o mundo subjetivo, no qual se abrigam percepções, sensações, sentimentos, julgamentos, raciocínios, juízos, idéias, noções, conceitos, ideais, preconceitos, etc. É a psiquê humana. Por sua vez, objeto (ob + jectum) é o que é lançado, posto diante do sujeito. É o mundo objetivo, no qual se passam os fenômenos que o sujeito percebe, sente, idealiza, conceitua, julga, etc.

Entre o sujeito e o objeto podem-se travar inúmeras relações. Por exemplo, o sujeito vê o objeto, o sujeito pega o objeto, o sujeito usa o objeto, o sujeito examina o objeto, o sujeito analisa o objeto, o sujeito estuda objeto, o sujeito conhece o objeto, etc. Portanto, o conhecimento é uma das relações possíveis entre o sujeito e o objeto.

A relação de conhecimento entre o sujeito e o objeto pode-se desenvolver de dois modos: sem método ou com método. O conhecimento ametódico, adquirido no curso da própria experiência de vida do sujeito, sem aplicação de nenhum método que o torne mais rigoroso, correto e verdadeiro, constitui um primeiro grau de conhecimento, dito conhecimento empírico. É o chamado senso-comum. Já o conhecimento adquirido metodicamente, mediante a aplicação de métodos que o aperfeiçoem, constitui um segundo grau de conhecimento, dotado de maior rigor, correção e verdade, dito conhecimento científico. É a ciência.

Na prática do estudo, assim como em outras práticas, o mundo subjetivo pode ser objetivado: posto diante do sujeito como objeto. Por exemplo, essa objetivação do subjetivo ocorre na psicologia, que é a ciência que tem por objeto de estudo a psiquê humana: os fenômenos psíquicos.

No campo da ciência jurídica, também por aplicação dessa etimologia, denomina-se direito objetivo a norma que é posta diante do sujeito e, como o vocábulo posto vem do latim positum, chama-se direito positivo o conjunto de normas que é posto diante dos sujeitos de uma dada sociedade pelo legislador que a disciplina. De outro lado, diz-se direito subjetivo a faculdade – inerente a um dado sujeito, alcançado pelo direito objetivo – de fazer aquilo que a norma lhe outorga, ou reconhece, ou garante, sob a proteção do legislador.

Por exemplo, da norma (direito objetivo) posta pelo legislador no ordenamento jurídico brasileiro (direito positivo) a partir de sua Constituição (art. 5o, inc. XVII) para reconhecer e garantir à gestante uma licença de seu emprego por ocasião do parto, resulta a faculdade (direito subjetivo) de obter e, se necessário, exigir essa licença nos termos da lei. Do mesmo modo, das normas referentes à herança (direito objetivo de herança), postas pelo legislador nacional (direito positivo brasileiro) na vigente Constituição da República Federativa do Brasil (art. 5o, inc. XXX) e em leis infraconstitucionais (como o Código Civil), deriva a faculdade de herdar (direito subjetivo à herança) que os sujeitos têm nas condições postas nesse ordenamento.

Assim por diante, inúmeros são os exemplos similares que podem ser aventados: o direito de resposta, o direito de locomoção, o direito de reunião, o direito de associação, o direito de expressão, o direito de defesa, o direito de culto, o direito ao trabalho, o direito às férias, o direito ao aviso-prévio, o direito à licença-gestante, o direito à licença-paternidade, o direito à aposentadoria, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o direito à paz, o direito à dignidade, o direito à saúde, o direito à vida, o direito à educação, o direito ao lazer, o direito à privacidade, o direito à convivência familiar e comunitária, etc. Tais direitos visam a disciplinar e garantir a vida dos indivíduos na sociedade.

Alguns direitos visam ao indivíduo considerado em si mesmo, dando-lhe uma proteção que é estendida a todos: são direitos individuais que constituem as liberdades públicas. Exemplos: o direito ou liberdade de locomoção, o direito ou liberdade de expressão, o direito ou liberdade de culto, o direito ou liberdade de imprensa, etc.

Outros direitos visam ao indivíduo considerado como integrante de uma categoria social merecedora de uma proteção especial: são direitos sociais constituídos pela chamada legislação social, pela qual – mediante uma particular e parcial atenção e intervenção do Estado – são protegidas certas partes da sociedade consideradas mais fracas econômica ou socialmente, compondo setores do direito como o direito do trabalho, o direito do consumidor, o direito do menor, o direito do idoso, etc.

Outros, enfim, visam ao indivíduo considerado como integrante da sociedade geral, seja participando de uma coletividade especialmente considerada, surgindo aqui os direitos coletivos especiais (ex.: o direito à convivência familiar), seja participando da sociedade humana considerada em si mesma, difusamente considerada, em sua generalidade, nascendo aqui uma recente geração de direitos: os direitos coletivos gerais, agora já ditos direitos difusos (exs.: o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o direito à paz, o direito à saúde, o direito à convivência comunitária).

Aí está uma rápida tipificação dos direitos. Verificar tipos de direitos – que, por terem nascido sucessivamente na história do Estado de Direito, também se chamam gerações de direitos – nem sempre é tarefa fácil e indiscutível, uma vez que certos direitos podem ser enquadrados neste ou naquele tipo, conforme sejam considerados neste ou naquele aspecto. Assim, o direito do consumidor é um ramo ou setor jurídico que compreende direitos sociais quanto à prestação social que é seu objeto (aspecto objetivo), embora também sejam direitos difusos quanto aos sujeitos a que se destinam (aspecto subjetivo). Não obstante essa dificuldade, a tipologia dos direitos constitui uma das partes mais relevantes e fascinantes desta ciência que tira o seu nome do objeto para o qual se volta em particular: o Direito.

O termo direito é equívoco e, especialmente, analógico, visto que apresenta variantes de significação próximas, afins, análogas, umas das outras, as quais somente são discernidas e definidas no texto em concreto, ou seja, em função do contexto em que o termo está inserido.

Já se viu acima que direito às vezes significa a norma em si mesma, na sua objetividade (direito objetivo), tal como foi posta pelo legislador (direito positivo). No texto "o direito disciplina a herança", por exemplo, "direito" significa a norma jurídica. Também foi visto que, outras vezes, significa a faculdade jurídica assegurada pela norma ao sujeito (direito subjetivo), como no texto "o filho tem direito de herdar do pai".

Acrescente-se agora que pode significar ainda uma situação de justiça verificada na aplicação da norma ao sujeito, como quando se diz "é direito" no sentido de "é justo" que o filho extra-matrimonial (tido fora do matrimônio) herde tanto quanto seus irmãos matrimoniais (havidos na constância do matrimônio).

Por fim, ainda acresce que o termo direito designa a ciência que estuda todo esse fenômeno social, acima descrito, que envolve as normas jurídicas, bem como as faculdades e as situações jurídicas delas resultantes. Por exemplo, no texto "o direito estuda a herança ao tratar da família e da propriedade", aí direito significa a ciência jurídica.

A ciência jurídica – a Ciência do Direito – enquadra-se na subespécie das ciências sociais, dentro da espécie das ciências humanas, dentro do gênero de conhecimento chamado conhecimento científico ou ciência, que é diferente de outros gêneros de conhecimento como, por exemplo, o chamado conhecimento empírico ou senso-comum. Em suma, em meio à ciência (em geral), distinguem-se algumas ciências (em especial) ditas humanas e sociais, entre as quais se situa a ciência jurídica (em particular).

Na ciência (em geral) o homem se volta para o mundo, com o fim de conhecê-lo para transformá-lo. Em uma ciência (em particular) o sujeito estuda uma parte do mundo, a qual será aí objeto de uma atenção especial. O objeto de uma ciência é uma parte do universo dos seres, à qual o sujeito se dedica especialmente, buscando um conhecimento especializado. Como essa busca é contínua e crescente, incessante e progressiva, a ciência se especializa sempre e cada vez mais. A especialização da ciência leva à especialização da técnica e, conseqüentemente, das profissões técnicas. Hoje, já não se consulta mais um advogado, ou um médico, ou um dentista. Mas, sim, um constitucionalista, um civilista, um tributarista, um ortopedista, um cardiologista, um ginecologista, um ortodontista, um periodontista, etc.

O objeto de uma ciência pode ser visto sob o ângulo material ou formal, já que, sempre, uma certa ciência estuda uma certa matéria de uma certa forma. Por exemplo, a anatomia estuda os corpos orgânicos (eis o seu objeto material) em sua forma estrutural (eis o seu objeto formal). É pelo objeto material e formal que uma ciência se define, distinguindo-se das outras. Assim, a anatomia se define como a ciência que tem por objeto a forma estrutural dos corpos orgânicos.

Definindo-se assim, as ciências se aproximam ou se distanciam entre si na proporção em que seus objetos materiais ou formais convergem ou divergem. É pela convergência de objeto que se agrupam as ciências em humanasexatassociais, etc. Esse agrupamento é possível porque um mesmo objeto material (o animal, o homem, a sociedade, o governo, etc.) pode ser estudado sob diferentes ângulos formais (a estrutura, o funcionamento, a origem, a finalidade, etc.) e, vice-versa, sob um mesmo ângulo formal podem ser estudados diferentes objetos materiais. Daí resulta uma afinidade material ou formal entre as ciências, que permite agrupá-las.

As ciências sociais têm por objeto a sociedade humana: as relações sociais entre os seres humanos. Dado o intrincamento material e formal das relações sociais, as ciências que as estudam não raro se conjugam em disciplinas mistas. Por exemplo, a Sociologia e o Direito se conjugam na Sociologia Jurídica.

Pela mesma razão, mas em sentido contrário, o intrincamento das relações sociais torna difícil a distinção das ciências sociais entre si, em alguns casos. Mas, a partir da própria Sociologia, que estuda os fenômenos sociais de forma mais geral, a distinção das ciências sociais entre si tem-se aprimorado cada vez mais, em que pese a constante especialização, que também no campo social é crescente.

Apesar da dificuldade de discernir para distinguir certas ciências humanas e sociais entre si em alguns casos, é possível um razoável discernimento de distinção no caso das ciências sociais mais intrincadas com o Direito, a partir do exame do tipo de relações sociais que elas enfocam (objeto material) e da forma como elas as enfocam (objeto formal).

O homem vive naturalmente em sociedade. Essa é uma verdade fundamental, evidente à experiência diária, independente de provas. Não precisa de comprovação. Pode ser tomada como axioma: proposição não demonstrada, mas assumida como verdadeira, para iniciar a demonstração de um sistema de proposições. Para principiar é preciso parar de recuar. Recuar sempre é principiar nunca. Para começar é preciso tomar um princípio do qual não mais se recua em busca de demonstrá-lo, mas que é tomado axiomaticamente como verdadeiro. Esta proposição – o homem vive naturalmente em sociedade – pode ser tomada como axioma, princípio evidente e não demonstrado, para dar início ao estudo da sociedade humana, mediante as ciências e as teorias que sobre ela se debruçam, inclusive a Ciência Política e a Teoria do Estado.

A sociedade humana é o conjunto das relações sociais travadas pelos seres humanos na sua vida. Viver em sociedade é travar relações sociais. Uma relação social é uma coincidência de condutas humanas. Relações sociais são movimentos, atividades, atuações, ações de dois ou mais sujeitos, coincidindo em determinado ponto, em relação a certo objeto.

Obviamente, as relações sociais tanto se multiplicam em quantidade, quanto se diferenciam em qualidade, o que permite distingui-las em tipos. Inúmeras relações sociais são travadas todos os dias fortuitamente, ao acaso, por mera coincidência de condutas. Por exemplo, um esbarrão inesperado, uma troca casual de olhares, etc. Todavia, como o ser humano, além de ser social, é também consciente de suas relações sociais, tendo consciência racional de sua vida social, procura ele desenvolver consciente e racionalmente suas relações sociais, ordenando-as segundo seus fins, sobretudo quando se trata das relações sociais mais importantes.

Por isso, de pronto, dois tipos de relações sociais são verificáveis: a par das fortuitas, surgem as ordenadas. As relações sociais ordenadas são travadas não mais por mera coincidência, ao acaso, mas nelas as condutas coincidem, ou seja, incidem mutuamente uma sobre a outra, segundo uma ordem determinada por um fim.

Se nas relações ordenadas existe uma ordem, alguém teve o poder de dar a ordem. Daí, em função do poder, tomando como critério o exercício do poder, pode-se prosseguir na tipificação das relações sociais.

Como em grego kratós significa poder, autoridade, governo, podem ser ditas relações cráticas aquelas em que se exerce algum poder e acráticas, as outras, nas quais não se manifesta poder. Dentro de um mesmo grupo social (por exemplo, a família), travam-se relações cráticas (por exemplo, o exercício do pátrio poder) e relações acráticas (por exemplo, um simples afago entre pai e filho).

No emaranhado das relações sociais, muitas relações cráticas e acráticas se misturam densamente, mas sempre é possível discernir, no transcurso do relacionamento social, o momento e o fato do poder, o instante e o ato em que o poder se faz presente, fazendo deste ato ou fato nesse momento ou instante uma relação específica, diferenciada das outras com as quais converge ou concorre.

Todo o relacionamento social, crático e acrático, é objeto da Sociologia. Já a Ciência Política e a Ciência Jurídica se interessam apenas pelas relações cráticas: o seu objeto é o relacionamento social crático, a manifestação do poder. O acrático lhes é indiferente, a não ser quando, por algum imprevisto ou desdobramento, produza um efeito de poder. Por exemplo, quando simples reuniões domésticas acabam elegendo um vereador ou quando atos inofensivos acabam gerando dano e o poder de exigir indenização).

Contudo, enquanto a Ciência do Direito se interessa por todas as relações cráticas, individuais e coletivas, privadas e públicas, procurando estabelecer a correlação entre os poderes e os respectivos deveres, nos quais os poderes se sustentam, já a Ciência Política tem por objeto o relacionamento social no que diz respeito, especificamente, às relações sociais em que se exerce o poder de governo, assim chamado o poder de conduzir as demais relações sociais para os objetivos sociais comuns, fixando os fins e os meios de um determinado complexo, conjunto ou grupo social, ou seja, de uma sociedade ou associação. O objeto da Ciência Política inclui, precipuamente, as relações cráticas que formam o governo da sociedade.

As relações de governo, pelas quais se dirigem as demais relações sociais, são cráticas pela sua própria natureza. Quando a associação governada é parcial, constituindo uma sociedade particular ou uma parte da sociedade geral, o governo é chamado direção. Os seus membros constituem uma diretoria. Mas, quando o que está sendo dirigido é a própria sociedade geral, então aí se exerce o poder de governo em sua maior escala: tem-se o governo propriamente dito, trava-se a relação crática máxima.

Tal relação de governo superior, exatamente por ser máxima, é maximamente abrangente, envolvendo toda a sociedade geral em um complexo de relações, co-relações e sub-relações cráticas, cujo conjunto forma o todo político-social que os gregos antigos chamavam pólis, definindo-o como autarquia, e que desde o início da Idade Moderna tem sido chamado Estado, definido pela soberania.

Se a Ciência Política tem por objeto relações cráticas em que se exerce poder de governo, certamente sua preocupação maior é com as relações sociais integrantes do Estado, dado que aí se exerce o poder de governo soberano, o mais elevado e envolvente dos poderes sociais. Pelo que se define a Ciência Política como sendo aquela ciência social que, voltando-se para as relações sociais cráticas, tem por objeto específico as relações de governo e, destacadamente, as relações de governo soberano que constituem o Estado. Tais relações sociais são ditas relações políticas.

As relações sociais, inclusive as relações políticas, uma vez que sejam disciplinadas formalmente pelo direito posto pelo Estado, transformam-se em relações jurídicas. Toda relação jurídica é relação social, mas nem toda relação social é relação jurídica, porque o Direito somente se interessa pelas relações sociais que sejam relevantes – e na medida em que elas se tornam relevantes – para a sociedade humana.

As relações políticas que constituem o Estado, dado que nelas se exerce o poder de governo soberano, merecem uma particular atenção por parte do Direito, que lhes dedica um setor especial, incumbido de estudá-las sob o ângulo formal de sua constituição jurídica: é o Direito Constitucional.

Mas, antes de entrar nesse estudo, e a fim de preparar para o Direito e, sobretudo, para o Direito Constitucional, as relações constitutivas do Estado são estudadas por uma disciplina propedêutica, que as enfoca, não sob um aspecto particular, como o de sua constituição jurídica, mas sob todos os aspectos – sinteticamente – necessários para dar uma visão geral – uma noção básica – do que seja o Estado. Essa disciplina é a Teoria do Estado.

Por ser disciplina sintética, que objetiva uma visão geral do Estado, também é dita Teoria Geral do Estado. Muitos acham que, já que toda teoria é geral, dizer teoria geral é cometer pleonasmo. Contudo, pelo visto acima, logo se deduz que a denominação Teoria Geral do Estado – formulada por Georg Jellinek no despontar do século 20 – não se apresenta inadequada na medida em que serve para frisar que o objeto formal dessa Teoria não é estudar o Estado em uma forma especializada, mas generalizada. Trata-se, realmente, de uma teoria duplamente geral. Já é geral por ser teoria. Mas, além disso, também é geral por tomar o Estado, não por um prisma formal peculiar ou particular, como o tomam outras teorias, mas por um prisma sintético, próprio desta teoria, que tem por objeto revelar uma visão geral do fenômeno estatal.

Sumariando, por fim, aí estão diferenças e uma coincidência entre a Ciência Política, a Teoria do Estado e o Direito Constitucional. Coincidentemente, nessas três disciplinas, o Estado é matéria de estudo: participa do objeto material. Mas elas diferem quanto à forma em que o apreciam: divergem no objeto formal. Pois, enquanto a Ciência Política focaliza o Estado de forma especial, precipuamente como relação de governo, a Teoria do Estado o enfoca de forma geral, como fenômeno em si mesmo, sinteticamente considerado, ao passo que o Direito Constitucional o considera de forma também especial: fundamentalmente, em sua constituição jurídica básica.

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DÉBORA LIMA

Dallari afirma que “a questão do relacionamento da Teoria Geral do Estado com a Ciência Política é de interesse mais acadêmico do que prático”, pois, no Brasil, desde a decisão de 1994 “o ensino da Teoria Geral do Estado continuou a ser 43 Ciências Sociais Aplicadas em Revista - UNIOESTE/MCR - v.14 - n. 26 - 1º sem.2014 - p 33 a 52 - ISSN 1679-348X Vania Sandeleia Vaz da Silva obrigatório, mas, de maneira ambígua, o ato governamental menciona, entre as disciplinas fundamentais do curso jurídico, “Ciência Política (com Teoria do Estado)””, sendo que, “uma vez que são disciplinas diferentes, a conclusão lógica é que se tornou obrigatório ensinar Ciência Política junto com Teoria do Estado” (DALLARI, 2012, p. 17). O autor lembra que “não há possibilidade de desenvolver qualquer estudo ou pesquisa de Ciência Política sem considerar o Estado”, cita Max Weber – e sua conferência A Política como Vocação – entre outros, e enfatiza que “para a formação do jurista contemporâneo o estudo da Teoria do Estado é indispensável” (DALLARI, 2012, p. 17). Em seguida define a Ciência Política: A Ciência Política faz o estudo da organização política e dos 

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