Teoria literária

Leia a seguir algumas teses elaboradas pelo autor Ricardo Piglia a respeito do gênero conto.

(...) Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias. (...) O efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta na superfície. (...) Segunda tese: a história secreta é a chave da forma do conto e de suas variantes. (...) O mais importante nunca se conta. A história é construída com o não-dito, com o subentendido e a alusão. (...) O conto é construído para revelar artificialmente algo que estava oculto. Reproduz a busca sempre renovada de uma experiência única que nos permite ver, sob a superfície opaca da vida, uma verdade secreta.

Fonte: PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. In: PIGLIA, Ricardo. Formas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 89-94.

Pensando nas características do conto descritas, no trecho acima, por Piglia e nas características dos demais gêneros narrativos vistos na apostila, assinale a alternativa correta.

Conto e romance, além de diferenciar-se na extensão (geralmente romances são mais longos, enquanto que os contos tendem a ser menores), diferenciam-se também na estrutura: enquanto que no conto é possível que o autor se estenda sobre os diversos aspectos psicológicos e sociais de uma ou várias situações e personagens, no romance as motivações são muito mais restritas e elípticas. Uma metáfora possível entre estes gêneros é pensar o conto como um filme e o romance como uma foto.

Conto e crônica são gêneros considerados formas breves, diferenciando-se principalmente na temática: a conto, muito frequentemente, está associado à narração curta de fatos do cotidiano, podendo ou não conter um tom de crítica a estes fatos. No conto não há necessidade de revelação de uma segunda história, secreta ou imperceptível ao final - como acontece na crônica.

Conto e fábula são gêneros da mesma matriz, sendo o conto a evolução da fábula. Apesar de carregarem em si um forte tom pedagógico na linguagem e na trama, ambos os gêneros diferenciam-se, porém no foco narrativo: o único narrador possível no conto é o onisciente de terceira pessoa, enquanto que na fábula esta escolha é aleatória.

Romance e novela diferenciam-se essencialmente na densidade da narrativa: se na novela predominam as reflexões e descrições dos aspectos que circundam um evento ou personagem, no romance predominam os eventos e personagem sobre as reflexões e descrições.

Conto e novela são ambos gêneros prosaicos e diferenciam-se centralmente pela extensão. O conto é, por seu percurso histórico, um fazer literário mais voltado à experimentação, dada a maior liberdade de jogo do autor com seu leitor, seduzindo-o, sugestionando. Já a novela aproxima-se mais do clássico, posicionando-se como um intermediário entre o conto e o romance.