Os longos anos do sistema escravocrata geraram uma herança racista na sociedade atual em relação aos fatores sociais, econômicos, políticos e culturais que a compõem. A herança pode ser entendida como tudo aquilo que é transmitido individualmente e coletivamente com base nas ações que foram tomadas no passado.
No caso do racismo, a herança está em todas as relações que foram construídas durante anos na sociedade com base na crença equivocada de inferioridade das raças escravizadas, incluindo costumes, valores e comportamentos. Nos EUA essa herança foi evidente, visto que o país manteve um sistema legal de segregação racial durante boa parte do século XX. Nesse período, os negros foram marginalizados social e legalmente, não podendo frequentar os mesmos ambientes que os brancos. Como no caso dos ônibus, em que as primeiras filas de assentos eram reservadas para brancos. Além disso, os negros não possuíam os seus direitos civis reconhecidos.
No Brasil, após a abolição da escravatura, com a promulgação da Lei Áurea, em 1888, os negros sofreram com a falta de políticas inclusivas que os integrassem na sociedade. A discriminação racial continuou presente nas relações sociais e econômicas, visto que a libertação não trouxe garantias fundamentais diretas aos negros, como o ingresso ao mercado de trabalho, direito à educação, saúde, moradia, entre outros. O processo de incentivo estatal para imigração de europeus durante o início do século XX ao país foi um sintoma disso, visto que os imigrantes brancos eram priorizados na contratação para trabalhos remunerados.
Os negros não eram aceitos para assumir novos trabalhos e ocupar novos cargos. Muitos eram simplesmente expulsos das fazendas e outros continuavam trabalhando nos engenhos em troca de sustento e moradia. Nesse sentido, a vinda dos europeus foi uma estratégia governamental utilizada para que os imigrantes brancos fossem beneficiados no acesso ao trabalho e na posse de terras, impossibilitando a propriedade de terras por parte dos negros e índios.
Isso significa que esses povos continuaram sendo excluídos socialmente, não tendo de forma igualitária o acesso aos mesmos recursos, oportunidades e condições de vida das pessoas brancas. Com isso, a abolição não mudou de maneira substancial as estruturas econômicas, sociais, políticas e culturais que foram estabelecidas. Pode-se dizer que as bases da sociedade construídas até então possuíam o racismo como seu elemento de sustentação. E essas bases não deixaram de existir após a libertação dos escravos.
Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta
Compartilhar