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LOMBALGIA E CERVICALGIA LOMBALGIA: Dor localizada em região lombar; Importante avaliar a vulnerabilidade psicossocial do indivíduo – pessoas mais pobres trabalham mais em serviços pesados e têm mais queixas de lombalgia. A persistência de dor por mais de 4 semanas é um sinal de alerta que exige anamnese; O medicamento básico para tratamento são os AINES por poucos dias, mas é importante oferecer intervenções não farmacológicas ao paciente. Entre 49 e 84% das pessoas apresentem pelo menos um episódio de Lombalgia durante sua vida, o que a torna uma das mais frequentes queixas médicas. A grande maioria dos casos corresponde a eventos isolados, como se machucar na academia, ou no trabalho por esforço físico. CLASSIFICAÇÃO DA LOMBALGIA: 1. Aguda – inicio súbito e persistência inferior a um mês. Até 4 semanas. 2. Subaguda - é recorrente, com intervalos acima de seis meses, ou com duração inferior a três meses; 4 a 12 semanas; 3. Crônica: quando a recorrência ocorre em menos de seis meses ou persiste por mais de três meses. Pelo menos 12 semanas e dor em pelo menos metade dos dias nos últimos 6 meses. Dor lombar com duração inferior a sete dias não é doença, mas uma queixa. ETIOLOGIA: Lombalgia específica: relacionada com alguma causa morfopatológica, como alterações degenerativas, doença sistêmica, infecção, neoplasia, trauma ou deformidade estrutural. O diagnóstico é feito em apenas 15 a 20% dos casos de Lombalgia específica. Lombalgia inespecífica: sintoma aparece sem a presença de nenhuma condição patológica, não sendo identificada lesão anatômica, compressão neural ou deformidade. IMPORTANTE: A origem da dor pode ser multifatorial, sendo importante analisar fatores socioeconômicos, trabalho físico extenuante, etc. Um dos fatores que dificulta a caracterização adequada da lombalgia é a incidência de anormalidades em exames de imagem. CARACTERÍSTICAS : LOMBAGIA ESPECÍFICA: história de trauma, câncer doença sistêmica, infecção ou achado de comprometimento neurológico significativo podem indicar patologia grave na coluna vertebral. Esses achados devem ser referenciados para o tratamento especializado. LOMBALGIA INESPECÍFICA: diagnóstico de exclusão, quando não se encontram alterações morfológicas relacionadas à origem da dor pela historia clinica, exame físico ou exames de imagem. COMO INVESTIGAR? Anamnese e exame físico detalhados, procurando sinais sugestivos de presença de uma doença ou fatores e risco para quadros mais graves e deve-se pedir exames complementares para excluir malignidade de casos. Sinais de alerta (red flags) indicadores de patologia espinal grave, como: Dor torácica, febre; Perda de peso ponderal; Disfunção intestinal ou vesical; Historia de carcinoma Doença sistêmica; Déficit neurológico progressivo Distúrbio de marcha e anestesia em sela. Dor que permanece por mais de 4-6 semanas; Febre, calafrios e sudorese; Traumas/lesões em alta velocidade; Sinais de alerta amarelo: Pensamento catastrófico Presença de sintomas que não apresentam correlação com a lombalgia; Elevado comprometimento funcional basal; Baixo estado geral de saúde; Depressão, ansiedade ou pessimismo diante da vida. EXAME FÍSICO: TESTE DE ADAMS: encostar as mãos nos pés se curvando sem dobrar o joelho; Serve para identificar escoliose e deformidades. TESTE DE SHOBER: consiste em estender uma fita métrica sobre a coluna espinhal, entre a articulação lombossacra e até 10 cm acima desta, com o indivíduo em posição neutra. Quando o indivíduo faz a flexão anterior de tronco, o aumento da distância entre as marcas fornece uma estimativa da amplitude da flexão da coluna lombar. Se o aumento da medida for menor que 5 cm, é um indicativo de espondilite anquilosante. MANOBRA DE LASEGUE CLÁSSICO: lombociatalgia caso a dor irradiada para a porção posterior de coxas de MMII elevados entre 30o e 60o (compressão de raiz do nervo ciático) IMPORTANTE: Estudos diagnósticos por imagem, como radiografias, frequentemente são desnecessários em casos de dor lombar aguda, pois adicionam poucas informações adicionais. Métodos mais sofisticados, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM), são ainda menos úteis, inicialmente pelo caráter de evolução benigno em mais de 90% dos casos de Lombalgia. RADIOGRAFIA: Exame mais simples e com maior disponibilidade; alta incidência de anormalidades; não apresenta correlação significativa entre dor lombar e achados como acentuação da lordose, estreitamento discal, entre outros. Incidências especiais podem ser úteis para definir impressões radiográficas adicionais. Vistas oblíquas podem definir melhor presença de espondilólise e espondilolistese. Radiografias dinâmicas, com hiperflexão e hiperextensão, podem evidenciar instabilidade no segmento lombar, quando há desvio translacional além de 3 mm. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: útil na análise de lombalgia, permitindo a visualização axial das vértebras. Assim, pode-se ver além dos limites do saco dural e da bainha radicular. Permite avaliar a densidade vertebral, quantificando osteopenia, além de identificar lesões líticas. RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA: Padrão-ouro no diagnóstico por imagem da coluna lombar, especialmente na identificação de infecções, tumores e alterações degenerativas. Permite a visualização direta do disco intervertebral e dos elementos neurais, com a vantagem de ser não invasiva e não necessitar de injeções de contraste A grande dificuldade da RNM é a alta incidência de alterações, sobretudo no disco, em pacientes assintomáticos. Anormalidades no disco foram observadas em até 57% de pacientes assintomáticos com mais de 60 anos de idade. Os achados da RNM devem ser correlacionados com a impressão clínica. ESTUDOS INJETÁVEIS: O uso de anestésicos locais ou meios contrastados em áreas anatômicas específicas pode ser útil. Dentre esses métodos, destacam-se: o Discografia, na identificação de dor discogênica; o Mielografia, na investigação de compressão neural Injeções de corticosteróides intramuscular, epidural, intraforaminal ou na articulação facetária, que servem como testes terapêuticos TRATAMENTO: Lombalgia Específica: Identificada a alteração morfopatológica associada à etiologia da dor lombar, deve-se iniciar tratamento individualizado específico. Lombalgia inespecífica aguda: Grande maioria dos casos de Lombalgia é autolimitada, conforme sua atividade é tolerada, frequentemente o paciente não procura cuidado médico. Entretanto, quando o paciente o faz, é importante que seja orientado sobre benignidade do quadro. A primeira escolha é o uso de analgésicos não opioides, como paracetamol ou dipirona para alivio da dor. Quando o alívio da dor é insuficiente, anti- inflamatório não hormonal (AINH), como diclofenaco, cetoprofeno ou salicilato deve ser prescrito (essas drogas podem causar sérios efeitos adversos, como gastrintestinal ou renal). O uso de analgésico opioide (codeína ou tramadol) ou relaxante muscular (ciclobenzaprina ou carisoprodol) está associado a intensos efeitos indesejáveis e não apresentam eficácia tão superior às drogas mais seguras. O repouso é um recurso positivo para o tratamento de lombalgia. Estudos têm demonstrado que curtos períodos, de 2 a 3 dias são mais eficazes do que períodos prolongados de repouso. Quando a dor não melhora em até 4 semanas, o paciente tem maior risco de desenvolver incapacidade. Medidas de eletroterapia, como TENS, ultrassom e calor local, são comumente utilizadas no controle da dor lombar. Recondicionamento cardiorrespiratório, fortalecimentomuscular, educação postural são úteis no retorno às atividades do paciente. O uso se AINES deve ser feito para o controle da dor. Em alguns casos antidepressivos podem ser associados ao tratamento para potencializar o efeito dos AINES. Reabilitação em pacientes crônicos geralmente não são bem-sucedidas. Esses pacientes requerem programas multidisciplinares agressivos, em centros especializados. CERVICALGIA: dor localizada em região cervical. É uma queixa muito comum na prática; Pode ocasionar infecção, tumor, inflamação, trauma ou compressão nervosa. Na maioria dos casos não há sinais de comprometimento neurológico. A causa mais frequente é a artrose, que engloba a discopatia degenerativa e osteofitose. O tratamento para quadros agudos visa o alivio da dor. Quanto mais rápido a pessoa ficar assintomática, melhor o prognostico. CLASSIFICAÇÃO: aguda (<3meses); crônica (>3meses); recorrente (< 3 meses e retorna após períodos assintomático). CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA: MECÂNICA: alterações discais, osteocartilagenosas e capsuloligamentares: comumente devido a osteoartrite, e se manifestam por osteófitos e estreitamento do canal medular Idiopática/distensão: tem caráter mecânico, mas sem evidências aos exames. NÃO MECÂNICA: doenças inflamatórias (espondiloartropatias e artrite reumatoide); processos infecciosos (no disco intervertebral), sintomas neoplásicos (a maioria por metástase – costumam levar a sintomas neurológicos devido à compressão) e sintomas metabólicos (osteoporose e hipertireoidismo). PSICOGÊNICAS/PSICOSSOMÁTICA: a dor percebida no córtex cerebral, sem estar associada a alteração anatômica ou sistêmica; , descrição imprecisa ou punitiva e forte associação com desencadeantes emocionais. P. ex.: fibromialgia, depressão, histeria etc. REFERIDAS: lesão está em outros sítios que não a coluna. Por exemplo, pode ser uma dor referida neurogênica de um infarto do miocárdio, dor viscerogênica como em uma vasculite de carótidas, espasmo esofágico ou pode ser somática, como em um herpes zoster. ANAMNESE: Deve iniciar com o decálogo da dor (caracterização, início, localização irradiação, fatores de agravamento, intensidade da dor). Caracterização do paciente (onde trabalha, qual função desempenha?). Pesquisa de sintomas neurológicos; Alertar para os riscos: Riscos amarelos – fatores psicossociais associados a um risco aumentado de cronicidade; Alertas vermelhos – indicam risco aumentado de condições específicas, as quais exigem atenção urgente. Inspeção: avaliar atrofias musculares e observar deambulação; Palpação: avaliar sensibilidade dolorosa; consistência; e gânglios; Exame físico: inspeção; palpação; movimentação; testes semiológicos; Sinal de Lhermitte: sensação de choque descendente com parestesia em mãos e/ou pernas durante a flexão cervical forçada; é sugestivo de mielopatia. Manobra de Spurling: dor irradiada ou parestesia com a compressão da cabeça devido ao estreitamento do forame. Teste de distração: promove um alívio da sintomatologia dolorosa, por consequente aumento do diâmetro foraminal. Manobra de Adson: palpação do pulso radial com o cotovelo estendido faz-se a abdução, extensão e rotação externa do membro superior, após realiza- se inspiração profunda com rotação ipsilateral do pescoço. A diminuição/ausência do pulso caracteriza um teste positivo, sugestivo de síndrome do desfiladeiro torácico. EXAMES COMPLEMENTARES: indicados pela falta de resposta ao tratamento ou na presença de sinais de alerta. RADIOGRAFIA: radiografia simples da coluna cervical inclui uma série de 3 incidências básicas: anteroposterior, perfil e para pessoas com história de trauma ou com mais de 50 anos, deve-se incluir um Rx transoral ou perioral (com a boca aberta) para avaliar a 1° e a 2° vertebra cervical. Na presença de sinais de comprometimento neurológico, com exame radiográfico normal ou quando sugerindo lesão óssea, com diminuição do espaço intervertebral e sintomas neurológicos, deve ser estudado o uso da ressonância magnética ou tomografia computadorizada. TOMOGRAFIA: complementa o RX na avaliação dos processos vertebrais degenerativos e na avaliação de desarranjos discais podendo determinar confiavelmente a extensão de uma lesão, assim como, visualizar precisamente linhas de fratura. Não possibilita a avaliação confiável nas alterações intramedulares. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: utilizada pare demonstrar infecção espinal oculta, avaliar elementos neuronais e estruturas paravertebrais, e também partes moles. Tem um alto custo, por isso não é amplamente utilizada; É contraindicada para pacientes com válvulas cardíacas artificiais com componentes metálicos ou corpos estranhos no humor vítreo. CINTILOGRAFIA ÓSSEA: indicada quando há suspeita de tumor ósseo primário ou metástase. TRATAMENTO: Baseado na avaliação clinica; Busca a redução dos sintomas para melhora da função o mais rápido possível. Os medicamentos indicados são AINEs e analgésicos. Relaxantes musculares em casos de contratura muscular; Fisioterapia não tem evidencia de benefícios em Cervicalgia. Acunpuntura em Cervicalgia crônica é protocolo e tem pelo SUS. Caso haja contratura muscular, o relaxante muscular é útil. Exercícios leves na região cervical estão indicados nos casos em que há bloqueio motor, melhorando o tempo de recuperação. QUANDO ENCAMINHAR? Referenciar o paciente ao especialista na presença de lesão neurológica, lesão identificada por exame de imagem e presença de alertas vermelhos sem melhora clínica. ERROS MAIS COMETIDOS: 1. Avaliar previamente a pessoa e não realizar anamnese e exame clinico adequado; 2. Tentar encontrar alterações na coluna cervical em exames radiológicos na tentativa de justificara dor. 3. Não levar em conta a experiência passada da pessoa com cervicalgia e os seus hábitos atuais em lidar com a dor. 4. Solicitar, sem critério, radiografias e outros exames de imagem. 5. Relacionar a cervicalgia com o trabalho sem oferecer alternativas para a superação. 6. Nos casos de cronicidade, não abordar e não tratar alertas amarelos, em especial os relacionados aos fatore emocionais, familiares e laborais. 7. Referenciar pessoas com várias comorbidades ou com sinais de alerta amarelo ou com cervicalgia recorrente e sem sinais de alerta vermelho ao ortopedista. E recomendado que tais casos sejam referenciados a uma equipe multiprofissional para avaliar se foram esgotadas todas as alternativas na APS. DICAS IMPORTANTES: A maior parte das cervicalgias tem base postural ou mecânica, sem alteração radiológica que justifique. Entre os fatores etiológicos estão: má postura, ansiedade depressão, tensão no pescoço ou atividades profissionais e desportivas, sendo muitas vezes multifatoriais. A maioria das cervicalgias constitui as chamadas cervicalgias comuns, idiopáticas ou inespecificas. A dor de caráter mecânico é desencadeada pela atividade/exercício e melhora com o repouso. A dor inflamatória ou não mecânica pode aparecer piora ao repouso e melhorar com o movimento. Na dor inflamatória a pessoa pode apresentar dor noturna, dor ao acordar e dor acompanhada de rigidez matinal. O exame mais utilizado na avaliação da cervicalgia é a radiografia simples. Em casos selecionados, podem ser solicitadas TC e RM. Exames laboratoriais, como hemograma, eletroforese de proteínas e provas de atividade inflamatória, podem ser solicitados na presença de sinais de alerta. O tratamento das cervicalgias deve ser iniciado rapidamente. As principais opções no tratamento farmacológico da cervicalgia aguda mecânica são os analgésicos, os AINEs e os relaxantes musculares. O repouso no leito não é indicado, e a volta à atividade habitual deve ser estimulada. Deve-se encorajar a pessoa com cervicalgia a permanecer tão ativa quanto possível, evitando a imobilização do pescoço. ATIVIDADES PREVENTIVAS DE EDUCAÇÃO: Correções posturais no trabalho são importantes na prevenção de cervicalgias. Uso de colchoes com densidade adequada e travesseiros em posição de alinhamento.
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